Maurício Andrés Ribeiro (*)
As guerras produzem vários impactos negativos sobre o ambiente natural, cultural e humano.
O impacto ambiental
negativo das guerras está presente em todo o ciclo de vida dos conflitos
armados: da extração das matérias primas para a indústria de armamentos,
passando pelo uso desses equipamentos, até a sua disposição final, constituída
pelos resíduos atômicos, químicos e bacteriológicos. Isso sem falar nas
conseqüências funestas dos atos de terrorismo ou nos impactos do uso de armas
biológicas nas guerras convencionais como na possível propagação intencional do
botulismo, da varíola e do antraz ou no desmatamento ocasionado pelo napalm e
outras armas de guerra. O urânio usado nas balas contamina o ambiente com
radioatividade e dissemina o câncer e outras doenças. A contaminação dos rios e
a perda de potencial de uso do solo pela disseminação das minas terrestres, que
mutilam pessoas e animais, ou o uso da bomba de nêutrons – a chamada “bomba
capitalista”, porque destrói a população mas preserva o patrimônio material - ,
são exemplos da destrutividade e do potencial de devastação causados pelas
atividades bélicas.
As atividades relacionadas
à preparação e à realização das guerras – desde a extração de minerais para a
produção dos armamentos e equipamentos bélicos, até a alimentação de tropas
e os eventos durante os conflitos emitem
gases de efeito estufa e contribuem para o aquecimento global e os
desequilíbrios climáticos. A organização que mais consome energia no mundo é o
exército dos Estados Unidos, que gasta US$ 11 bilhões por ano. "No campo
de batalha, 70% da tonelagem logística é consumida por combustíveis",
observa Thomas Morehouse, do Instituto de Análise de Defesa.(matéria divulgada
na Folha de São Paulo em 4-4-2007).
Da mesma forma que as
guerras, também o preparo bélico requer
exercícios com tiros, minas, mísseis e torpedos, que explodem, destroem
vegetação e paisagens naturais, poluem o solo e as águas e deterioram o meio
ambiente. Trata-se de atividades intrinsecamente destrutivas e cujo objetivo é
a destruição, que inclui a devastação e a degradação do meio ambiente.
O belicismo está na raiz da
pressão sobre os recursos naturais, transformados pelo complexo
acadêmico-industrial-militar em artefatos bélicos de alto potencial destrutivo.
Proliferam hoje guerras regionais, guerras civis nacionais, atos de terrorismo
como forma extrema de questionamento do poder político organizado. O emprego da
força e da violência tem, ainda, custos psicológicos e subjetivos, prejudicando
o desenvolvimento do ser humano integral devido ao ódio, aos ressentimentos, ao
revanchismo, às vinganças e mágoas que desencadeiam.
As sociedades que cultivam a cultura da paz e que evitam envolver-se na corrida armamentista e em conflitos bélicos evitam emissões significativas de gases de efeito estufa e dão uma expressiva contribuição para evitar o agravamento das mudanças climáticas.
A eliminação das guerras
como formas de resolução de conflitos seria uma forma de reduzir as pressões
sobre o ambiente e os impactos negativos das mudanças climáticas, Trata-se de
um tema sobre o qual existe muito pouca informação e discussão pública.
Assim, já é chegado o
momento de que os princípios, métodos e instrumentos utilizados para mitigar ou
neutralizar os impactos negativos das demais atividades humanas tenham sua
aplicação estendida à atividade da guerra. Procedimentos como as avaliações de
impacto ambiental e o licenciamento ambiental deveriam ser objeto de pactos
internacionais obrigatórios, visando ao bem da humanidade, sempre que esteja em
jogo a possibilidade de realizar-se uma ação bélica potencialmente degradadora
ou poluidora do ambiente. Isso ajudaria a
desenvolver a consciência global a respeito das conseqüências desse tipo
de ação, com a cuidadosa avaliação prévia dos seus impactos. O licenciamento
ambiental das guerras deveria contemplar, entre outros, os impactos bióticos,
antrópicos e físicos desses eventos. Somente depois de detalhada e cuidadosa
avaliação de riscos, elas deveriam ser matéria de discussão nacional e
internacional. A aplicação rigorosa dos procedimentos de avaliação prévia de
impactos ambientais às atividades bélicas poderia levar, no limite, à sua
inviabilização, seja pelo exorbitante aumento de seus custos, que incluiriam os
necessários recursos para recuperar a degradação que viessem a causar, seja
pela conseqüente ampliação do tempo para a busca de consenso em torno a sua
necessidade e para seu eventual preparo. Nessa fase, inclusive, poderiam e
deveriam ser colocadas em prática todas as maneiras e técnicas diplomáticas e
de mediação e resolução não-violenta de conflitos, com vistas a evitar os
embates bélicos.
Essas idéias contêm um conteúdo
utópico, considerando-se o momento histórico presente. Mas merecem ser
consideradas, posto que todas as guerras constituem um fator destrutivo
para o clima, para o ambiente e para o
ser humano.
As guerras só serão
abolidas quando se tornarem psicologicamente intoleráveis, da mesma forma como
a escravidão somente foi abolida quando tornou-se socialmente intolerável, além
de economicamente desejável, já que a libertação dos escravos traria impacto
altamente positivo para o mercado consumidor.
Nesse contexto, o risco de degradação climática das guerras poderá tornar-se um fator adicional que acabará por levar à sua abolição como forma de resolver conflitos, num estágio mais avançado de evolução da espécie humana.
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