Maurício Andrés Ribeiro
Drenar é
fazer escoar água, esgotar. A drenagem natural se faz a partir da força da
gravidade, pela qual as águas escoam de pontos mais altos para pontos mais
baixos de um terreno. Por meio dela as chuvas escorrem pela superfície em
enxurradas ou infiltram-se no solo. Solos arenosos ou porosos são mais
permeáveis e facilitam a drenagem natural; já os solos argilosos em geral são
menos permeáveis. A compactação do solo em estradas, em áreas agrícolas trabalhadas
com máquinas pesadas e sua cobertura com asfalto ou cimento também o tornam
impermeável, dificultam a infiltração de água de chuva e aumentam as
enxurradas.
Terrenos
acidentados e com alta declividade permitem o escoamento mais rápido de água. Dependendo
da força das enxurradas, há erosão e carreamento de solos. Terrenos planos nas
partes baixas, áreas úmidas, pântanos, várzeas, terrenos em fundos de vales são
o destino dessas águas. Quando não se valorizam os serviços ambientais
prestados por essas áreas, são propostas e realizadas drenagens, para aproveitar economicamente esses espaços. Há
danos ecológicos e prejuízos econômicos, quando os leitos de inundação dos rios
são ocupados e as águas extravasam.
Nas
áreas rurais, a construção de barraginhas e de drenos em curvas de nível ajudam a reter água de enxurradas e a fazê-las
infiltrar nos solos. Em ambientes urbanos, é frequente se construírem soluções de engenharia
tais como redes de drenagem, piscinões, jardins filtrantes, pavimentação permeável, para regular a drenagem e reduzir
riscos de cheias.
Planos diretores,
planos de saneamento local e planos de drenagem são alguns dos instrumentos de
que dispõe o município para lidar com a drenagem e as inundações que trazem
prejuízos.
Alagamentos frequentemente são de
curta duração. Acontecem durante um pico de chuva e em pouco tempo vão embora,
deixando um rastro de destruição. Um padrão de uso do solo que evite a
pavimentação impermeável numa grande superfície reduz riscos de enchentes.
A micro drenagem difusa e descentralizada
no território da bacia hidrográfica permite que a água se infiltre no solo mais
poroso.
Jardins filtrantes distribuídos
no território prestam esse serviço de infiltração. Isso reduz a necessidade de
construir piscinões ou grandes reservatórios para armazenar a água durante os
períodos de pico de cheias.
No que se refere à ocupação do solo, leis urbanísticas
em várias cidades não permitem índices excessivos de impermeabilização dos
terrenos, que agravem inundações. Esse tema é de difícil fiscalização, já que
um proprietário de terreno, depois de conseguido o alvará de construção, pode
cimentar até 100% da área. Mas existem meios, por fotointerpretação, de
identificar os índices de impermeabilização.
As enchentes urbanas têm uma componente climática,
que é associada ao aumento das chuvas e uma componente não climática, como, por
exemplo, o entupimento de redes de drenagem pelo lixo ou o escoamento
superficial aumentado devido à impermeabilização dos solos.
A capacidade
de escoamento da rede de águas pluviais é dimensionada conforme o tempo de
recorrência das chuvas isto é, o tempo em que um volume de chuva alto volta a
ocorrer. Quanto maior o tempo de recorrência adotado, maior deve ser a dimensão
das redes de drenagem.
A operação e manutenção do serviço de drenagem tem custos
que precisam ser recuperados ao longo do tempo. Isso implica em definir uma
taxa ou tarifa. Diante disso, há prefeitos que preferem não gerenciar a drenagem, porque a disposição a pagar dos contribuintes
é baixa e ele pode ter desgastes eleitorais. Isso traz prejuízos materiais,
riscos de vida e outros custos.
Nas periferias urbanas de cidades sensíveis à água, quando novos
loteamentos são desenhados, o desenho urbanístico precisa considerar a
existência de nascentes e córregos. Em cidades pouco sensíveis à água, os
parcelamentos do solo maximizam o número de
lotes e não consideram as nascentes, para aumentar os ganhos
econômicos.
Na busca de lucros, ignoram-se os
prejuízos ecológicos e hídricos. Pratica-se
o desenho ganancioso, sem limites ou cuidados ecológicos. Manter parques e áreas verdes permeáveis
nesses parcelamentos ajuda a reduzir os danos causados por inundações.
Nas cidades
brasileiras e nas franjas entre as áreas urbanas e rurais pratica-se uma
ocupação irregular em que governos fecham os olhos para práticas de invasores e
ocupantes. Posteriormente as condutas passam a ser regularizadas em termos de
ajustamento de conduta e as ocupações oferecem algumas compensações, mas os
danos ecológicos já foram causados. Os problemas decorrentes de má drenagem,
alagamentos, inundações, se multiplicam.
O cuidado
com a drenagem é um componente chave das cidades sensíveis à água. Aprender com
a natureza os processos da drenagem natural pode inspirar soluções de
planejamento urbano que reduzam os
problemas de drenagem em áreas construídas.
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