Em cidades vive mais da metade da população do planeta e mais de 80 por cento da população brasileira. Os ecossistemas urbanos são grandes devoradores de recursos ao se abastecerem de água, energia, alimentos, materiais de construção, ar limpo, para funcionarem e por vezes os devolvem poluídos ao ambiente natural. A boa qualidade do ambiente urbano construído contribui para a saúde humana. A ecologia urbana estuda esse grande artefato criado pela nossa espécie.
Arquitetos, engenheiros, urbanistas, paisagistas são algumas das profissões humanas que participam ativamente da concepção e construção das cidades. Vários fotógrafos, cineastas e escritores focalizaram as cidades. Muitos artistas pintaram ambientes urbanos, como o americano Edward Hopper, Fernand Léger, Portinari, Di Cavalcanti e Guignard, com suas paisagens de Ouro Preto com balões.
Maria Helena Andrés desenhou e pintou as cidades desde o início de sua vida artística. Desenhou em álbuns espiralados a cidade de Ouro Preto e o Largo do Boticário no Rio de Janeiro, no ano em que se casou, em 1947.
Ouro Preto, aquarela, 1947.
Estudo do Largo do Boticário , Rio de Janeiro, 1947, caderno de desenho.
Em viagens ao vale do Jequitinhonha desenhou com canetas hidrocor o Serro e Diamantina, cidades berço de sua família.
Diamantina, caneta hidrocor, anos 1980
Pintou em óleo sobre tela a paisagem de Belo Horizonte em que vivia nos anos 1940.
Pintou e desenhou, em sua fase construtivista, a série de “Cidades Iluminadas”, nos anos de 1955, que correu salões no Rio de Janeiro e Bienais em São Paulo.
Cidades iluminadas - obra no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro.
Série Cidades, nanquim sobre papel, anos 1950
Nos anos 200, revisitou em livros-objetos o tema das cidades construtivistas.
Em 1954 realizou um grande painel em azulejos, intitulado "Cidade Iluminada” para uma residência em Belo Horizonte. Ela escreveu que: “O painel construtivista ficou por muitos anos enfeitando a fachada da casa dos Lucena. Às vezes eu passava de carro e parava para vê-lo. Ali ficou até que um dia o casal resolveu demolir a casa para, naquele local, construir um prédio. Foi quando me telefonaram pedindo uma sugestão. Queriam colocar o painel num local onde tivesse visibilidade. Descobrimos o lugar ideal, o Grupo Escolar Herbert de Souza, num bairro da periferia de Belo Horizonte. A transferência foi também executada por Cerri e hoje ocupa um espaço no Grupo Escolar, alegrando o local por onde passam crianças.“
Desenhou as cidades indianas densamente povoadas em ilustrações para o livro "Pepedro nos Caminhos da Índia".
Ela escreveu: “Comecei a desenhar nas praças, nos parques, nos templos, nos teatros, muitas vezes cercada por 132 uma multidão de crianças curiosas que ambicionavam as minhas canetas hidrográficas. E muitas vezes as canetas ficavam com as crianças. “ …”Eles olham curiosos, empurram-se para ver. A velhinha me defende em linguagem local xingando as crianças. Imagino o que ela deve estar dizendo: “Deixa a dona desenhar.” A dona, apesar de aflita, continua a desenhar. Não pode espalhar rúpias pela multidão porque senão poderia criar problemas com outros pobres. Mas, sabendo que ninguém vai ganhar, eles se conformam em olhar o papel com curiosidade. E assim vou desenhando o povo deste país, os quiosques, os palácios, praças, templos…”
Por meio de suas pinturas e desenhos, Maria Helena deu seu testemunho sobre as cidades coloniais e as metrópoles brasileiras. Como ilustradora de um livro infantil contribuiu para conhecermos sobre as cidades indianas, tão ricas em biodiversidade, com seus bois, camelos, elefantes em circulação e com sua diversidade cultural e social.
Ela observa aque "O verde não pode desaparecer das cidades; caso contrário, o ser humano também desaparece, sepultado nas lajes de concreto. "
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