sexta-feira, 5 de abril de 2024

O reino vegetal na arte de Maria Helena Andrés

Plantas, flores, árvores e florestas são seres vivos com quem compartilhamos o planeta Terra. Eles prestam serviços valiosos, ao absorver gás carbônico e produzir oxigênio, ao limpar o ar e a água e proteger o solo contra a erosão. São fundamentais para lidar com a emergência climática e  para evitar  a emissão de gases de efeito estufa.

O reino vegetal sofreu e sofre com a devastação florestal. Durante muito tempo, no Brasil, a vegetação foi considerada como sujeira. Expressões da língua denotam essa mentalidade: campo sujo é aquele com mato, campo limpo é o que foi desmatado; limpar o mato.  Em anos mais recentes, a expansão da consciência ecológica valorizou os cuidados com a proteção vegetal e a restauração florestal.

Os artistas sempre trabalharam com o reino vegetal. São famosos os jardins aquáticos de Monet e são bem conhecidas as fotografias de Sebastião Salgado sobre a Amazônia; Bené Fonteles liderou o movimento dos artistas pela natureza.

Durante sua longa carreira artística Maria Helena Andrés focalizou o reino vegetal. Ela foi  aluna de Guignard na Escola de Belas Artes, que ficava no Parque Municipal de Belo Horizonte. Ela lembra que “O parque era sempre cheio de motivações para o nosso imaginário de jovens artistas. Passávamos horas debaixo daquelas árvores, sentadas em banquinhos, desenhando com lápis duro, 6H. O desenho nos dava a possibilidade de praticar o exercício da concentração, uma meditação espontânea, sem intenção de ser meditação.” 

O Parque Municipal de Belo Horizonte em 1944 - Óleo sobre tela, Maria Helena Andrés.

Na década de 50, morava numa casa com um amplo quintal em Belo Horizonte, onde havia mangueiras, jabuticabeiras, parreira e outras árvores frutíferas. Tinha seu atelier junto ao quintal e ali produziu desenhos em nanquim, em preto e branco, sobre folhagens e vegetação.

Folhagens - nanquim anos 50

Nas férias e nos finais de semana ela viajava para uma fazenda no interior de Minas Gerais, nos Campos das Vertentes, uma região que se assemelha por suas ondulações com a Toscana italiana. Observava os vários tons de verde da vegetação da mata atlântica e do cerrado e escreveu: “Saía para o campo munida de pranchetas e aquarelas, a fim de captar diretamente da natureza sugestões para a minha pintura.”

Aquarela - paisagem rural no interior de Minas Gerais - anos 40

Quando de suas inúmeras viagens para a Índia, desenhou paisagens rurais, publicadas em seu álbum Oriente-ocidente, integração de culturas, bem como no livro infantil Pepedro nos caminhos da Índia. Índia e Brasil são os dois maiores países tropicais do mundo e houve entre eles um intenso intercâmbio de espécies vegetais: a manga, o caju, o coco.



Ilustração para o livro Pepedro nos caminhos da Índia


Ilustração do livro A água fala, 2015.

Em 2023 desenhou com delicadeza  várias flores do cerrado, (um bioma que se encontra sob forte pressão),  que compuseram o grande painel em azulejos para a igreja de Nossa Senhora Aparecida em Diamantina.

Flores do cerrado. 2021

Ao longo de décadas, pintou uma série de quadros com vasos de flores e naturezas mortas, mostrando a exuberância das cores no mundo vegetal.


Vaso de flores, óleo sobre tela, anos 1950.

Vaso de flores -  acrílica sobre tela,  anos 2000.

Maria Helena pintando flores. 2020.

Em seus desenhos e pinturas com a temática do reino vegetal Maria Helena Andrés participou pioneiramente da sensibilização da sociedade para a consciência ecológica.


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