Austeridade é rigor no
controle de gastos, redução de despesas e do consumo, poupança de recursos.
Pode ser adotada voluntaria e conscientemente como uma aspiração, ou pode ser
imposta a terceiros que não a desejam.
As políticas de
austeridade econômica executadas de fora para dentro e de cima para baixo sobre
países e populações que descontrolaram suas finanças despertam indignação e
rejeição, frustram desejos e tornam-se motivo de sofrimento. Tais pessoas ou
sociedades são obrigadas a reduzir suas aspirações de consumo que consideram que
lhes traz bem estar material. Tais políticas econômicas de austeridade têm uma
conotação negativa, de privação de bens materiais e de redução do conforto que
os acompanha. Os governos que as adotam sofrem resistências. Imposta, a austeridade é sentida como algo
indesejado, como negação de um direito. Trata-se da austeridade infeliz.
Austeridade
feliz é a proposta do ecologista Pierre Dansereau, de se
adotar um modo de vida escolhido consciente e voluntariamente. Pierre Dansereau foi pioneiro ao intuir a
necessidade de reduzir o consumo material para poupar os recursos da natureza.
É uma atitude de vida capaz de harmonizar o ser humano com o ambiente, um modo
de vida que reflete uma visão compassiva e solidária. A renúncia ao luxo e ao
supérfluo, a contenção e limitação voluntária do consumo reduzem os impactos
ambientais da ação humana. Ela vai na contramão dos apelos consumistas,
valorizados pela propaganda como relevantes para a felicidade. Na linha do não
consumismo, da simplicidade voluntária, da frugalidade, do conforto essencial e
da sobriedade, a austeridade feliz leva a um modo de vida que reduz o peso da
pegada ecológica sobre a terra.
Frugalidade
é sobriedade, temperança, parcimônia, simplicidade de costumes, de vida. O
economista Herman Daly, voz respeitada pela sua sensibilidade ecológica, afirma
que precisamos superar a idolatria do crescimento e o apego irracional ao
crescimento exponencial contínuo num planeta finito sujeito às leis da
termodinâmica. Podemos desenhar e gerir uma economia estável, que respeite os
limites da biosfera. Onerar o uso de recursos naturais por meio de reforma
tributária ecológica estimularia a frugalidade, refreando a demanda. Assim, por
exemplo, um imposto sobre o carbono provocaria, como resposta adaptativa a
combustíveis mais caros, a eficiência e a redução de desperdícios. Ele defende
que primeiro se adote a frugalidade para então, como consequência, ter a
eficiência. Pois na política energética e climática “quanto mais se aumenta a
eficiência das máquinas, maior o incentivo para que sejam mais usadas, maiores
mercados terão e o resultado é que o efeito e impacto agregados, ao invés de
diminuir, aumentarão.” Os ganhos obtidos pelas ações na ponta da produção são
neutralizados e transformados em perdas, pelo aumento global de emissões de
gases devido ao aumento da população e de suas aspirações de consumo. Aumentar
a ecoeficiência e a produtividade, bem como reduzir desperdícios de materiais e
de energia constituem parte da resposta à questão do aquecimento global. A
outra parte da resposta pode ser dada pela frugalidade do consumidor, do
cidadão e da sociedade. A frugalidade pode reduzir a emissão de CO2 na
atmosfera e a emissão de todos os tipos de resíduos na biosfera. Há exemplos
históricos de frugalidade em antigas civilizações. Gandhi
disse que “A civilização, no verdadeiro sentido da palavra, não consiste em
multiplicar nossas necessidades, mas em reduzi-las voluntariamente,
deliberadamente.” Milenarmente,
a Índia adotou estilo de vida simples e frugal, desenhou e geriu uma economia
que respeitou os limites da biosfera. Sacralizou bichos e plantas. Adotou o
vegetarianismo, organizou-se espacialmente numa rede de pequenas aldeias,
adotou posturas corporais que reduzem a demanda por objetos. Mas na Índia atual os apelos ao consumo se
exacerbam e com eles a pressão sobre a natureza e o clima. A frugalidade
adotada voluntariamente por milênios cede lugar a estilos de vida predatórios
de uma classe média consumista e a aspirações de consumo material crescentes por parte daqueles que
sofrem privações.
Simplicidade
voluntária também é uma opção deliberada de quem escolhe reduzir
suas demandas de consumo em prol de colaborar para poupar os recursos da
natureza. Duane Elgin foi pioneiro em escrever um livro sobre a simplicidade
voluntária e distingui-la da pobreza
forçada e involuntária.
Outro conceito correlato
é o de conforto essencial, entendido
como o nível de conforto básico que traz bem estar e que evita o supérfluo e o
consumismo. Para que ele seja adotado voluntariamente, é preciso dissolver os
desejos por aquisição de mais bens, mais
viagens, mais eletrodomésticos, mais conforto material, que têm como
consequências mais poluição e mais gastos de recursos naturais. Em alguns casos
o conforto essencial, implica em virar a
própria mesa e sair do comodismo e do conformismo.
A diferença entre a austeridade
infeliz e a austeridade feliz está na motivação e na atitude de quem a adota e vive. Num caso, é vista como
privação e frustração. Noutro caso, é uma escolha voluntária e ecologicamente
consciente.
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