Maurício Andrés Ribeiro
No Brasil,
historicamente houve abundância de água.
Secas eram um fenômeno tipicamente nordestino.
Desde 2012 a crise hídrica atingiu
vastas regiões no sudeste e no centro oeste do país. Secas e enchentes atingem parcela expressiva
da população brasileira e têm ocupado crescentes espaço na imprensa.
A água tornou-se assunto frequente de manchetes na grande imprensa. |
A situação de
crise hídrica se distribui de modo desigual: no nordeste há muitos rios
em situação crítica, pouca chuva e alta
evapotranspiração; no sudeste, há alta
demanda de agua e poluição, e insegurança hídrica no abastecimento nas
regiões metropolitanas devido à alta demanda; no sul do país há estresse
hídrico devido à alta demanda para
irrigação de arroz. No Distrito
Federal, há combinação de falta de chuva com alta demanda.
Estima-se que mais
de 16,5 mil quilometros de rios federais ( aqueles que cortam mais de um
estado, que fazem divisa entre estados e
com os países vizinhos) encontram-se em situações de conflito.
No Brasil há 16,5mil km de rios federais com situações de conflitos. |
O que levou à atual crise hídrica no Brasil?
A crise da água resulta de uma combinação de causas locais, regionais e globais que provocam mudanças no
ciclo da água, no regime de chuvas e na vazão dos rios.
Entre as causas locais
que afetam a disponibilidade de água, estão o bombeamento intenso de água
subterrânea para diversos fins e especialmente para a agricultura irrigada, que
rebaixa os aquiferos, reduz o volume das
águas na superficie e torna intermitentes ou efêmeros rios que antes tinham um
fluxo permanente. Outra causa é o desmatamento e a retirada da vegetação
natural para o plantio extensivo ou para a pecuária, o que desprotege nascentes,
afeta o ciclo da água e reduz a estocagem natural de água no solo, o
que é importante para realimentar os cursos dágua. Outras
causas são a ocupação ilegal do solo, a urbanização descontrolada, o uso do solo ganancioso, a grilagem de
terras, a ocupação de áreas de
recargas de aquíferos, o despejo de lixo e
esgoto nos rios etc.
Desperdícios e perdas no uso e nos sistemas de abastecimento reduzem a oferta de água.
A crise pode ser agravada pela gestão temerária e a imprevidência de
empresas de saneamento, que privilegiam alguns stakeholders
(investidores/capitalistas/acionistas) e não priorizam investimentos em obras
de infraestrutura para captação de água.
Há causas globais
que influenciam na crise hidrica brasileira. Assim, por exemplo, o El Nino, com o aquecimento das
águas do Pacífico e suas consequências, tais como maiores secas no nordeste e
inundações no sul do Brasil. As mudanças climáticas têm efeitos locais: séries
estacionárias de dados que historicamente se mantinham e embasavam a tomada de
decisão sobre investimentos em infraestrutura hídrica se tornam irregulares e
médias de chuvas históricas não mais ocorrem. Novos normais se instalam.
A importância da floresta amazônica para as chuvas no Brasil central e no sudeste é crescentemente compreendida. |
Aos poucos esses
conhecimentos extravasam dos meios científicos para a consciência dos gestores
de empresas de saneamento e gestores da água e para a sociedade.
A crise da água
que se vive no Brasil gerou um
subproduto positivo: a água se tornou um assunto relevante e passou a merecer
atenção e estudos. Isso contribui para
a aprendizagem, a superação do déficit de
consciência e conhecimento, a hidroalienação e o hidro analfabetismo.Os limites
do conhecimento governamental e acadêmico se evidenciaram. Novos atores
passaram a ser protagonistas no tema, a exemplo de várias organizações da
sociedade civil, que fortaleceram suas agendas da agua. Várias ONGs se
associaram, como por exemplo a Aliança pela água que propôs um conjunto de ações para lidar com a crise hídrica, várias
delas voltadas para uso de instrumentos econômicos, tais como incentivos,
multas e taxas de contingencia para desestimular o consumo. Do mesmo
modo, no mundo, vários movimentos e ONGs têm trabalhado em ações para
salvaguardar o ciclo integral da água.
Lidar com a crise hídrica exige uma visao holística, integradora e ao mesmo
tempo uma capacidade de ação operacional que responda a cada realidade local.
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