Maurício
Andrés Ribeiro
O fotógrafo Sebastião Salgado, em depoimento a Dráuzio Varela, ressaltou
que depois de viajar, observar e
fotografar em muitos países, fez uma
viagem para dentro de si mesmo. Constatou que para além da diversidade das
aparências há uma essência que é a mesma,
que fronteiras são artificiais e que somos parte de um todo e o mesmo ser humano, com o mesmo
comportamento básico.
A família do homem - a unidade humana vista por fotógrafos |
Nos anos 60 uma
grande exposição de fotografias sobre a família do homem (The Family of man) no
MoMA de Nova Iorque retratava a diversidade de tipos, rostos, culturas humanas
e propunha que acima disso estava uma
unidade, a da espécie.
Por meio da
fotografia, forma de expressão artística
que retrata a diversidade do mundo percebido pelo olhar humano, se constata que
para além das aparências há uma unidade, uma essência comum na família humana. Se
a visão analítica tende a separar, a
visão sintética permite superar o nível
básico das diferenças para encontrar denominadores comuns essenciais.
Durante toda minha vida convivi com uma artista espiritualizada, minha
mãe, que fez essa jornada em busca da essência. A perspectiva macro e evolutiva, a fraternidade
universal e ao mesmo tempo familiar, o
aprendizado permanente e progressivo, o respeito à liberdade de visão de cada
um estão expressos em seus escritos. Maria Helena busca a essência em
sua arte e em sua capacidade de enxergar para além das aparências da realidade
sensível. Ela afirma que a verdadeira essência da arte é libertar a mente das tensões e conflitos e
penetrar no recinto do sagrado,
alcançar o invisível, aquilo que está por detrás de todas as aparências. Ela
constata as diferentes
fragmentações que tentam sobreviver sob o mesmo céu e mostra a importância de “quebrar
os departamentos que desejam empacotar a verdade em pratos feitos, fazer
desaparecer por completo o EU e o TU, para apenas permanecer a ESSÊNCIA.” Em
busca da síntese e da integração ela escreve que “A síntese Oriente–Ocidente e
a integração planetária estão dentro de nós mesmos, no equilíbrio do lado
direito e esquerdo de nosso cérebro, razão e intuição. A harmonização desses
dois aspectos de nossa individualidade torna-se cada vez mais uma necessidade
no campo da consciência. Já não se trata somente da integração do planeta, mas do
retorno à Essência de onde viemos e para onde vamos.”
Painel A dinâmica do cosmos na UNIPAZ-DF por Maria Helena Andrés |
Um dos iogues mais lúcidos, Sri
Aurobindo reconheceu esse objetivo da Arte: “Seria objetivo da Arte (numa
sociedade espiritualizada) não somente apresentar imagens do mundo subjetivo e
objetivo, mas vê-los com a visão significante e criativa que há atrás das
aparências e revelar a Verdade e a Beleza das quais as coisas visíveis e
invisíveis para nós são as máscaras e símbolos de figuras significantes.“ (v.15
-241) “Atrás das aparências do universo
há a realidade do ser e da consciência” Ele escreveu
sobre a essência e as aparências: “A razão humana tem
uma dupla ação: misturada ou dependente, pura ou soberana. A razão aceita uma
ação misturada quando se limita ao círculo de nossa experiência sensorial,
admite sua lei como verdade final e se ocupa apenas com o estudo de fenômenos,
ou seja, com as aparências das coisas em suas relações, processos e utilidades.
Essa ação racional é incapaz de conhecer o que é, ela conhece apenas o que
parece ser; ela não tem uma sonda com a qual explorar as profundezas do ser,
ela pode apenas explorar o campo do devir. Por outro lado, a razão afirma sua
ação pura quando, aceitando nossas experiências sensíveis como ponto de
partida, mas recusando-se a ser limitada por elas, vai além, julga, trabalha
conforme sua própria lei e se esforça para chegar a conceitos gerais e
inalteráveis que se apegam não à aparência das coisas, mas àquilo que permanece
por trás de suas aparências. A razão pode chegar aos seus resultados pelo
julgamento direto, ao passar imediatamente da aparência àquilo que permanece
inalterado por detrás e, nesse caso, o conceito ao qual ela chega pode parecer
um resultado da experiência sensível, dependente desta experiência, embora na
realidade seja uma percepção da razão trabalhando conforme sua lei própria. “ (A
Vida Divina, Livro I, capítulo 8).
Ele conclui: “...
diz-se que na história é sempre o inesperado que acontece. Mas não seria o
inesperado se os homens pudessem tirar os seus olhos da superfície e olhar para
a substância, se eles se acostumassem a colocar de lado as aparências e a
penetrar além delas na realidade secreta e disfarçada, se eles parassem de
ouvir o barulho da vida e, ao invés, ouvissem o seu silêncio.”
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