Maurício Andrés Ribeiro
América
é o nome dado a este continente pelos colonizadores europeus em homenagem ao
navegador florentino Américo Vespúcio.
Os
povos andinos originários o chamavam de Abya
Yala, que significa terra madura
de eterna juventude. Durante muitos séculos a disseminação da cultura
andina foi sufocada e ficou quase invisível diante da força da colonização
europeia. Como não havia uma forte tradição escrita, perdeu-se parte da
cosmovisão, da mitologia e das histórias transmitidas oralmente. Entretanto, essa
visão, abafada pela colonização espanhola, continuou a ser vivida pelos povos
quéchua, aimara e outros, discreta e subterraneamente. Apenas há cerca de 30
anos passou a ser divulgada mais amplamente e nas últimas décadas vários
estudiosos passaram a estudar, registrar e escrever sobre ela.
Alberto
Acosta[1]
é
um dos autores que registrou a cosmovisão andina e incaica originária. O bem
viver (Buen vivir) enfatiza a suficiência, o coexistir, o co evoluir. Bem
viver, buen vivir, vivir bien são conceitos comunitários e cooperativos, vivos
nas culturas e na cosmologia quéchua e aimara do Equador e da Bolívia. São
conceitos distintos de boa vida, de dolce vita, de viver melhor. A unidade
do ser humano com a natureza está presente nessa cosmovisão andina que enfatiza
os ciclos longos da evolução, cooperação, fraternidade, o pequeno e
o comunitário. Comunidade é estrutura social e estrutura de vida, é comunidade
humana e biológica. Os povos andinos originários viviam de acordo com uma
concepção integrada com a natureza e com o cosmos e tinham a percepção dos
ciclos longos da vida.
David Choquehuanca[2] discorre
que os povos indígenas originários acreditavam que todos somos irmãos, humanos,
que a mãe Terra alimenta com a água, leite da terra. Acreditavam que precisamos
viver em harmonia com a natureza e entre os seres humanos, cuidar e proteger a mãe terra, que é diferente
do conceito de Planeta. Planeta é objeto, mãe terra é sujeito. Essa visão quer
unidade, paz, soberania ao invés de divisão e submissão, irmandade, incluindo
as plantas e animais. (trata-se de filosofia que se aproxima de são Francisco
de Assis).
Em
2010 a Bolívia propôs à ONU instituir a água como direito humano e da natureza
fundamental. Por proposta da Bolívia, o dia 22 de abril foi declarado pela ONU
como o dia internacional da Mae Terra, Pacha Mama, mãe terra em equilíbrio. Bolívia
e Equador são os países que mais avançaram na aplicação e na institucionalização
dessa abordagem trazida de suas tradições indígenas. Elas foram inseridas na
Constituição e defendidas junto a outras
nações no fórum da ONU.
Sonha-se
voltar a um mundo sem fronteiras, como o condor que ultrapassa os picos das
cordilheiras dos Andes, a espinha dorsal da América do Sul, como na canção.
Há
afinidade entre os conhecimentos dos mestres andinos e dos mestres tibetanos
com elementos que existem em ambas as tradições, centradas numa visão
cósmica do ser.
Luta-se
pelo reconhecimento de línguas milenares ancestrais, diante dos idiomas europeus
e do linguicidio atualmente em curso.
Fernando
Huacanuni[3] é outro autor que tratou do bem viver não
apenas como uma concepção intelectual,
mas como uma visão filosófica e espiritual, a resposta de vida dos povos
indígenas, sustentada por cosmovisão ancestral. Tudo vive, as montanhas, árvores,
pessoas. Em aymara se diz que somos filhos do pai cosmos e da mãe terra.
O
continente sul americano foi desintegrado, criaram-se fronteiras, dividiram-se
países para facilitar a exploração de seus recursos naturais. Atualmente, Abya Yala
procura recuperar caminhos próprios, revalorizar a cultura, a música, a dança, a cosmovisão, história e filosofia originárias.
Pode ser sinal de um renascimento
cultural e de civilização. Um vídeo sobre a cosmovisão andina no tecido expressa essa perspectiva. https://ciseiweb.wordpress.com/2017/05/03/bellisimo-video-sobre-la-cosmovision-andina-a-traves-del-tejido/?fbclid=IwAR2miYJHQ_FP3zGAGZAWP2PGL-kHLSjB8gnnzMerIhmYl_IKfHUspB6WIkA
[1]
Acosta ,
Alberto - “O Bem Viver”, de (Ed. Autonomia Literária e Elefante); Acosta,
Alberto Apreciações sociopolíticas e econômicas sobre o bem viver. Entrevista
com Alberto Acosta Fonte: Revista IHU online
[3]
Huanacuni,
Fernando Bem Viver- Filosofia, políticas, estratégias e experiências regionais
andinas. Extraído da Agenda Indígena Amazônica da Coordinadora de las
Organizaciones Indigenas dala Cuenca Amazónica (COICA) – Nota 15 do texto
original.
Muy bueno. Boa síntese !
ResponderExcluirvamos em frente: desaprendendo as velhas crenças, despertando pra vida verdadeira, nos reinventando.
"Tempo rei Ó tempo rei, transformai as velhas formas do viver."