Enquanto outras civilizações ascenderam, tiveram seu apogeu e decairam, a Índia se sustentou baseada em seu Dharma |
Ao passarmos
os olhos pela história das nações, podemos sentir ressoar da boca coletiva do
povo esta palavra que, expressa em atos, constitui a contribuição de cada nação
para uma humanidade ideal e perfeita. Para o antigo Egito, tal palavra foi
Religião; para a Pérsia, Pureza; para a Caldéia, Ciência; para a Grécia,
Beleza; para Roma, Lei, e para a Índia - o mais velho de seus filhos -, para a
Índia, Ele concedeu uma palavra que a todas resumia, a palavra Dharma. Eis a
palavra da Índia para o mundo.
Annie
Besant, in Dharma
A palavra Dharma tem múltiplos significados e
definições. Um deles se relaciona com a sustentabilidade. Entre todas as
civilizações, a indiana é a mais
sustentável. O Dharma ajuda a explicar como aquela civilização se sustentou
durante milênios e não entrou em colapso, como ocorreu com outras civilizações
que não tiveram a capacidade de se sustentar, tais como a grega, a
egípcia, as dos incas, maias e astecas. A
civilização indiana acumula um tesouro de saberes úteis para um mundo que perde
aceleradamente suas condições de sustentabilidade. O
conceito de dharma é fecundo no atual contexto em que se valoriza o que é
sustentável. Dharma tem, nesse sentido, uma relação direta com as questões da
sustentabilidade. Ao exercer seu dharma,
a espécie humana pode buscar meios para sustentar-se nessa era em que se anunciam colapsos e limites do planeta.
O Dharma é um
dos tesouros imateriais indianos. O substantivo provém do sânscrito dhr, que significa sustentar, carregar:
“É a lei, aquilo que sustenta, mantém
unido ou erguido” observa Heinrich Zimmer, no seu livro Filosofias da
Índia. Dharma é “o ‘suporte’ dos seres e das coisas, a lei da ordem em
sua maior extensão, isto é, a ordem cósmica.”. [2] LEMAITRE. Hinduísmo
ou Sanatana Dharma, p.76.
O
ex-presidente S. Radhakrishnan, em livro sobre a visão hindu da vida diz que
“Dharma sustenta os meios os quais prendem uma coisa e mantém sua existência.
Toda forma de vida, todo grupo de homens tem seu dharma, que é a lei do seu
ser. Dharma ou virtude está em conformidade com a verdade das coisas; adharma
ou vício é a oposição disto.”[1]
Cada um de
nós nessa vida tem seu dharma, sua
missão ou tarefa a cumprir.
Swami
Dayananda esclarece a importância do autoconhecimento e da autoconsciência, bem
como a relevância da ação bem realizada: “Como não há um certo absoluto e nem
um errado absoluto nesse mundo relativo, o senso de dharma tem que crescer
dentro de cada um. Uma pessoa que entende o dharma pode decidir sobre uma ação
apropriada a qualquer situação, assim como o bom motorista sabe como
comportar-se em qualquer nova situação do tráfego. [...] O dharma é a justiça
ideal que se fez vida; a virtude é medida pela perfeição atingida por cada um
no exercício do seu papel”.[2][10]
Dayananda
observa que “De acordo com o dharma, a ação humana tem um resultado invisível
bem como um resultado imediato e tangível. O resultado invisível da ação
soma-se de forma sutil na conta do ‘fazedor da ação’ e, com o tempo,
frutificará, tangivelmente, para ele como uma experiência ‘boa’ ou ‘má’ - algo
prazeroso ou doloroso.”[3]
Para ele, uma boa ação frutifica como prazer e uma má ação frutifica como dor
ou sofrimento. No campo da ação, há uma relação do dharma com o conceito de
carma (ou karma).
O
dharma é, no dizer de Sri Aurobindo, a lei do ser, padrão de
verdade, regra ou lei da ação; é a forma como o povo indiano concebe a conduta
religiosa, social ou moral. “Dharma significa cada ideal que podemos
nos propor e a lei do seu trabalho e da sua ação.”16-175 Sri Aurobindo
O
dharma pode ser visto como um fator de agregação, que evita a
fragmentação de uma pessoa ou civilização.
Uma
declaração universal do dharma humano e sua aplicação prática poderiam ser um passo relevante para lidar com a emergência
climática, ecológica e ambiental que desafiam o mundo contemporâneo.
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