Maurício Andrés Ribeiro
Há uns dois meses a bateria de meu carro arriou. Ele ficou estacionado desde o início da
quarentena por falta de uso. A bateria continuará arriada até que o carro volte
a ser necessário. Por enquanto estou em home office. Deixei de consumir
gasolina, pneus, de poluir o ar com gás carbônico, de contribuir para agravar o
efeito estufa. Para o cálculo do PIB isso é negativo, mas a qualidade do ar na
cidade agradece.
Na quarentena muitos carros ficaram parados no estacionamento local. |
Com a quarentena,
os serviços de delivery e entrega em casa foram mais demandados. Isso se traduziu
na presença de motoboys e cicloboys na cidade.
Moto boys tiveram muito trabalho de entregas durante a quarentena. |
No plano piloto
em Brasília há comércio local – farmácias, padarias, supermercados, restaurantes
onde se vai a pé. As superquadras, que
se tornaram parques urbanos pela sua intensa arborização, têm calçadas para
pedestres e ciclovias. O urbanismo modernista de Brasília, tão criticado,
mostra qualidades no tempo da pandemia.
No dia em que se
flexibilizou a quarentena foi autorizada a abertura de algumas atividades e aumentou
a circulação de automóveis. Não porque muita gente retornou ao trabalho, mas
porque aqueles que voltaram preferiram se deslocar em automóveis, ao invés de
usar o transporte público ou o metrô. Aumentou o uso do transporte solidário em
companhia de pessoas que ofereçam menos riscos de contaminação.
Rodoviária de Brasília. Quem pode, evita usar o transporte coletivo em ônibus devido aos riscos de contágio. |
Greves de motoristas de ônibus expressam que essa se tornou uma profissão de risco,
especialmente quando trafegam superlotados.
Durante a
quarentena, há menor frequência de deslocamento de pessoas, por dia ou por
semana; fez-se o escalonamento dos horários de atividades para evitar picos e
congestionamentos no transporte urbano.
Na pós pandemia,
os pedestres e as bicicletas deverão ser mais valorizados nas cidades e os
automóveis cederão lugar a esses modos mais econômicos e ecológicos.
Na Índia, onde já existe uso intenso de veículos
pequenos como motos, riquixás e autoriquixás,
e na Europa já existem planos para a pedestrianização, a caminhabilidade
e o uso de bicicletas.
Nos EUA o transporte
de massa público tornou-se menos atrativo, devido aos riscos de aglomeração e de
contágio.
Na
França, as eleições
locais em várias cidades foram vencidas
por verdes com programas de
despoluição do ar, de abrir espaços para
bicicletas, reduzir espaços para carros e enfrentar as mudanças do clima. A
cidade de 15 minutos, aquela em que se pode caminhar ou
ir de bicicleta de casa para o trabalho, para as compras e o lazer, é uma proposta
pós pandemia. Ela evita deslocamentos de longas distâncias, sempre arriscados e
que consomem muita energia; fortalece a
localidade e seus recursos. É
viável o uso de bicicletas em cidades densas e planas. Já em cidades menos
densas, onde as distancias são longas, tal uso fica prejudicado, como acontece
por exemplo em ciclovias subutilizadas em Brasília.
Na pandemia impulsionou-se
a consciência de que transportar informação é mais econômico, ecológico e
rápido do que transportar pessoas ou coisas. A pandemia acelerou a consciência sobre o digital, em que haverá mais transporte de informações
via internet e mídias e redução do transporte de pessoas. Teletrabalho, tele-educação, tele cultura, tele lazer tornam-se
partes do cotidiano.
O transporte mais
ecológico é o que se deixa de usar. Reduzir o uso de veículos poluentes é um
modo de tornar mais leve a pegada ecológica dos cidadãos. Há alguns anos
dei aulas de gestão ambiental urbana e alunos faziam o exercício de calcular sua
própria pegada ecológica. Em Brasília um peso substancial da pegada ecológica
se deve aos deslocamentos em veículos individuais devido à baixa densidade da
cidade, a sua concepção rodoviarista e voltada para facilitar o uso de
automóveis.
Ecologizar a
cidade parece ser uma onda da vez. Ecologizar a mobilidade e os transportes é um componente essencial
disso. Essa onda será avaliada em seus resultados quando os custos e benefícios
de ações práticas forem sentidos pelos cidadãos e eleitores.
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