Maurício Andrés Ribeiro
O pavor da morte e o medo das perdas assustou quem contraiu o Coronavirus e quem perdeu sua fonte de sustento na pandemia. Ela trouxe para perto de cada um as perdas econômicas, de emprego e renda, a falência de empresas. O luto afetou diretamente aqueles que sofreram perdas de parentes e amigos. Indiretamente, afetou toda a sociedade.
Quem está nos grupos
de risco, como os idosos, se assombrou
com a possibilidade de contrair a doença. Quando a contraiu, teve medo. Torceu para que ela fosse leve, não
necessitasse de cuidados hospitalares, de intubação e que se afastasse o risco
da morte.
Quando se estendeu no tempo, o
isolamento físico testou a capacidade de resistência das pessoas, cansadas da quarentena. Normas de isolamento
foram objeto de protesto em países europeus. Em outros países, como no Brasil,
elas não pegaram, foram simplesmente
ignoradas ou transgredidas, com aglomerações em bares e praias. Houve comportamentos
imprudentes e temerários. Um impulso inconscientemente suicida levou a uma atração pelo perigo, com redução
da margem de segurança.
Menosprezaram-se medidas de proteção; como numa roleta russa, brincou-se com o perigo da morte. Outros reagiram de
modo a minimizar ou negar o problema que entretanto não deixa de existir quando
se foge ou tem medo dele.
Na pandemia filósofos pensaram
sobre o medo da morte, a incerteza e o terror, o não sabido, a guerra permanente, o futuro imprevisível. Houve um bombardeio de estatísticas
de mortes nos meios de comunicação.
A proximidade da morte tornou as pessoas cientes de sua fragilidade. Preocupações materiais se tornaram pequenas diante da perspectiva de uma perda maior, a da própria vida. Houve exceções, como aqueles que, insensíveis e anestesiados, sem empatia para com a situação dos demais, se aproveitaram e tiraram vantagem da situação, usaram do poder econômico para se apropriar de recursos, fraudaram compras de medicamentos e equipamentos médicos. Mas tais atitudes foram crescentemente denunciadas, com constrangimentos e reprovação social para quem as praticou.
Houve perdas de segurança, estabilidade e de visibilidade quanto ao futuro. Houve perda de liberdade e de privacidade; vigilância digital, autoritarismo político.
Situações extremas de estresse e de incertezas
minam a segurança psicológica. Lidar com as perdas demanda saúde emocional e
mental. Exige a mobilização de energias
interiores para enfrentar as dificuldades exteriores. A pandemia é pedagógica e ensinou à custa de sofrimentos físicos, mentais e emocionais.
A presença da morte despertou o sentimento do mistério da vida, mudou a sintonia da consciência, das preocupações mundanas com os objetos e coisas, para questões imateriais e intangíveis relacionadas com a própria existência. Ensinou as pessoas a serem menos arrogantes, menos egoístas, com maior disposição para a ajuda mútua. A pandemia, com seu vírus invisível, teve o condão de lembrar o valor de atitudes como prudência, paciência, humildade, solidariedade, cooperação, perseverança, tenacidade, lucidez, união, amizade, amor, fraternidade, calma, tolerância, benevolência, generosidade, confiança, gratidão, responsabilidade, tranquilidade, resiliência.
A pandemia ensinou a importância da coragem para superar o susto, lidar com os perigos e libertar-se do medo.
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