sábado, 24 de outubro de 2020

Coragem durante a pandemia

 Maurício Andrés Ribeiro


O pavor da morte e o medo das perdas assustou quem contraiu o Coronavirus e quem perdeu sua fonte de sustento na pandemia. Ela  trouxe para perto de cada um as perdas econômicas, de emprego e renda, a falência de empresas. O luto afetou diretamente aqueles que sofreram  perdas de parentes e amigos. Indiretamente, afetou toda a sociedade.  

Quem está nos grupos de risco, como os  idosos, se assombrou com a possibilidade de contrair a doença.  Quando a contraiu,  teve medo. Torceu para que ela fosse leve, não necessitasse de cuidados hospitalares, de intubação e que se afastasse o risco da morte.

Quando se estendeu no tempo, o isolamento físico testou a capacidade de resistência das pessoas, cansadas da quarentena. Normas de isolamento foram objeto de protesto em países europeus. Em outros países, como no Brasil, elas não  pegaram, foram simplesmente ignoradas ou transgredidas, com aglomerações em bares e praias. Houve comportamentos imprudentes e temerários. Um impulso inconscientemente suicida  levou a uma atração pelo perigo, com redução da margem de segurança. Menosprezaram-se medidas de proteção; como numa roleta russa, brincou-se com o perigo da morte. Outros reagiram de modo a minimizar ou negar o problema que entretanto não deixa de existir quando se foge ou tem medo dele.

Na pandemia  filósofos  pensaram sobre o   medo da morte, a incerteza e o terror,  o não sabido,  a guerra permanente, o futuro imprevisível. Houve um bombardeio de estatísticas de mortes nos meios de comunicação.

A proximidade da morte  tornou as pessoas  cientes de sua fragilidade. Preocupações materiais se tornaram pequenas diante da perspectiva de uma perda maior, a da própria vida.  Houve exceções, como aqueles que, insensíveis e anestesiados, sem empatia para com a situação dos demais, se aproveitaram e tiraram vantagem da situação,  usaram do poder econômico para se apropriar de recursos, fraudaram compras  de medicamentos e equipamentos médicos. Mas tais atitudes foram crescentemente  denunciadas, com constrangimentos e reprovação social  para quem as praticou.

Houve perdas de segurança, estabilidade e de visibilidade quanto ao futuro.  Houve perda de liberdade e de privacidadevigilância digital, autoritarismo político.

Situações extremas de estresse e de incertezas minam a segurança psicológica. Lidar com as perdas demanda saúde emocional e mental. Exige a  mobilização de energias interiores para enfrentar as dificuldades exteriores. A pandemia é pedagógica e ensinou à custa de sofrimentos físicos, mentais  e emocionais.

A presença da morte despertou o sentimento do mistério da vida, mudou a sintonia da consciência, das preocupações mundanas com os objetos e coisas, para questões imateriais e intangíveis relacionadas com a própria existência. Ensinou as pessoas  a  serem menos arrogantes, menos egoístas, com maior disposição para a ajuda mútua. A pandemia, com seu vírus invisível, teve o condão de lembrar o valor de atitudes como prudência, paciência, humildade, solidariedade, cooperação, perseverança, tenacidade, lucidez,  união, amizade, amor, fraternidade, calma, tolerância, benevolência, generosidade, confiança,  gratidão, responsabilidade, tranquilidade, resiliência.

A pandemia ensinou a importância da coragem para superar o susto, lidar com os perigos e libertar-se do medo.  

 

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