A água poluída tem capacidade de se auto depurar. A natureza presta gratuitamente esse serviço ambiental. Micro organismos presentes na água ou plantas que se alimentam das substâncias encontradas na poluição absorvem e assimilam os poluentes e limpam as águas. A aeração em cachoeiras e corredeiras traz oxigênio que também recupera a qualidade da água. Águas poluídas ou contaminadas com esgotos sem tratamento depois de alguns quilômetros rio abaixo, são capazes de se auto depurar e recuperar sua qualidade.
Tal capacidade de autodepuração das águas foi largamente utilizada
durante a história brasileira. Exigia pouco esforço e era barato jogar lixo e
esgoto in natura nos rios e deixar que a
natureza prestasse o seu serviço ambiental gratuitamente. Isso foi possível
durante séculos e décadas, especialmente em bacias e regiões hidrográficas em
que havia grandes espaços, grandes distâncias, pequeno adensamento populacional
e de atividades econômicas. Por muito
tempo a má qualidade das águas esteve fora das atenções e da percepção da
coletividade. Mas onde passou a haver maior adensamento de população , de
industrias e outras atividades poluidoras, a poluição das águas passou a ser mais percebida. O mau odor e a visão de rios oleosos ou pegajosos passaram
a incomodar. A necessidade de tratamento de esgotos antes de lançá-los aos rios
e mares tornou-se mais premente. Investir em saneamento passou a ser
considerado necessário. Começou a haver o controle ambiental dos poluentes lançados nos rios, industrias
foram pressionadas a implantar sistemas de tratamento de efluentes, municípios
foram levados a implantar estações de tratamento de esgotos ou outras formas e
técnicas de reduzir as poluições. Municípios rio abaixo que utilizam a mesma
água passam a pressionar para que haja tratamento de esgotos, para evitar de
beber água contaminada e para reduzir os seus próprios custos de tratamento de
água antes de servi-la a sua população.
Nas cidades com potencial turístico, os turistas passaram a evitar
locais sujos, contaminados com esgotos e lixo, o que lhes trouxe prejuízos
econômicos.
A existência de um forte usuário das águas a jusante aumenta a pressão
política e social pelo tratamento das águas. Isso acontece entre países. O rio
Reno, que nasce na Suíça, atravessa a Alemanha e desemboca na Holanda é um
exemplo de como essas pressões de baixo para cima funcionam. Os alemães
precisam entregar à Holanda águas com qualidade aceitável, para evitar tensões
e conflitos com seus vizinhos rio abaixo.
No Brasil, estados e regiões que dispõem de situações como esta são
pioneiros no controle da poluição das águas, quando torna-se insuportável
conviver harmonicamente com rios poluídos.
Já em bacias nas quais os usuários rio abaixo tem menor poder de pressão
política, de influência social e de poderio economico, há menores pressões para
que soluções sejam tomadas rapidamente.
Situação similar acontece nos oceanos e lagos. Os esgotos urbanos são
despejados in natura longe da costa por
meio de emissários. Espera-se que o mar
preste o seu serviço ambiental de autodepuração das águas.
Mas diluição não é solução para a poluição e mesmo as outorgas para o
lançamento de efluentes que são dadas pelos órgãos gestores de recursos
hídricos, muitas vezes são autorizadas mediante condicionantes de que em prazo
de algum tempo, haja investimentos em tratamento de esgotos.
Lixões na beira de rios e de córregos, em muitas cidades brasileiras,
também se beneficiaram dessa prestação de serviços ambientais gratuita feita
pela natureza ao levar para longe o lixo e trabalhar para que ele se reduza
alguns quilômetros rio abaixo. Historicamente, os governos não priorizaram
investir em saneamento e essa situação perdurou séculos e décadas. Mas se
intensificaram as pressões para que haja um tratamento adequado. Em 2007 aprovou-se a lei nacional do
saneamento básico. A lei do marco de saneamento básico aprovada em 2019 no Congresso tentou criar condições para que haja maior
estimulo para competição entre empresas, aumento de eficiência e produtividade
e para que mais recursos e capitais
sejam investidos no saneamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário