segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Risco de desabastecimento de água

O risco de desabastecimento de água ocorre quando há escassez e a oferta de água torna-se igual ou menor do que a demanda para os vários usos.

Atualmente muitos países e cidades passam por estresse hídrico, situação em que a demanda por água se torna maior do que a oferta. Esse número cresce à medida que cresce a população e que se agravam as mudanças climáticas.

Quando uma sociedade ou uma cidade não consegue lidar de modo consistente com a falta de água pode acontecer o colapso. Há alguns séculos isso aconteceu na ilha de Páscoa, onde aos habitantes desmataram o solo, cortaram a vegetação e reduziram a acumulação de água no solo. Aconteceu também em Fatehpur Sikri, cidade construída no Rajastão indiano para ser a capital do império Mogol, mas que nem chegou a ser habitada pois uma crise climática reduziu drasticamente as chuvas na região e a cidade ficou sem fontes de abastecimento.

Na atualidade, a cidade do Cabo, na África do sul, foi a primeira a correr o risco de chegar a um dia de água zero, há alguns anos. Isso levou a que adotasse medidas para reduzir o risco do colapso. Várias outras metrópoles ou pequenas cidades passam a correr esse risco, à medida que se manifestam os efeitos das mudanças climáticas em curso.

Esse risco pode ser reduzido por meio de medidas que diminuam a demanda de água, tais como o racionamento, a redução de perdas e desperdícios nas redes de abastecimento;  ou por mudanças nos processos de produção industrial ou agrícola; ou por meio da hidroeducação para que os hábitos de consumo se  alterem e se tornem mais hidroconscientes.

O risco de desabastecimento pode ser reduzido, ainda,  por meio do aumento da oferta de água, com a captação em novos mananciais, a proteção dos mananciais existentes, a perfuração de poços tubulares ou artesianos que busquem a água subterrânea para o abastecimento, obras de infraestrutura hídrica que diversifiquem as fontes de abastecimento de uma cidade e reduzam sua vulnerabilidade a estiagens, o incentivo a produtores rurais para que produzam água e adotem tecnologias que as acumulem no solo para serem usadas quando forem necessárias.

Uma gestão adequada da água disponível também é um modo de reduzir riscos: por meio do racionamento, da operação adequada de reservatórios de água, da educação para o uso da água, da declaração de emergência ou de estado de calamidade pública, do monitoramento das secas e dos períodos de estiagem.

É preciso olhar para o presente e para as decisões que se tomam em relação  ao uso de ocupação do solo nas bacias hidrográficas onde existam mananciais de abastecimento público de água.

Entre as medidas que podem ser tomadas está a proteção das microbacias de onde se capta água para o abastecimento urbano. Evitar licenciar nelas atividades potencialmente degradadores ou poluidoras das águas é uma medida preventiva relevante. As áreas de proteção de mananciais precisam ser bem cuidadas. Os macrozoneamentos de uso e ocupação do solo são instrumentos valiosos para proteger áreas de mananciais. O município, em seus planos diretores tem responsabilidade nisso, pois ele é o gestor do uso e ocupação do solo. Um macrozoneamento e um plano diretor hidroconscientes são instrumentos valiosos para reduzir os riscos de desabastecimento de água  no município e em cada um de seus distritos.

 Para enfrentar os riscos de desabastecimento não é suficiente  olhar para as águas de superfície, sua vazão e qualidade. Também é necessário olhar para baixo, para as águas subterrâneas e seu potencial para serem usadas para o abastecimento humano. Um adequado manejo dos aquíferos subterrâneos, com áreas de recarga eficazes, faz com que as reservas subterrâneas possam atender às demandas por longos períodos.

É importante, ainda, olhar para o alto, para a água existente na atmosfera, para os rios voadores e para as mudanças climáticas.  Caso se desmate a Amazônia, a força desses rios voadores nas nuvens decrescerá e pode passar a chover menos no centro oeste e no sudeste brasileiros, desencadeando crises hídricas e maiores riscos de  desabastecimento urbano de água. É preciso olhar para o futuro, para os cenários climáticos  que indicam que aumentarão os períodos de secas prolongadas e também os volumes de chuvas torrenciais. Olhar para o passado e para as series históricas de dados de chuva e vazão dos rios não oferece mais informações suficientes para prever o futuro. Os cenários climáticos estão se alterando e tendem a aumentar os riscos de desabastecimento. O novo normal climático exigirá medidas adicionais relacionadas com as águas para evitar que uma gestão temerária aumente os riscos de desabastecimento.

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