O risco de desabastecimento de água ocorre quando há escassez e a oferta de água torna-se igual ou menor do que a demanda para os vários usos.
Atualmente muitos países e cidades passam por estresse hídrico, situação em que
a demanda por água se torna maior do que a oferta. Esse número cresce à medida
que cresce a população e que se agravam as mudanças climáticas.
Quando
uma sociedade ou uma cidade não consegue lidar de modo consistente com a falta
de água pode acontecer o colapso. Há alguns séculos isso aconteceu na ilha de Páscoa,
onde aos habitantes desmataram o solo, cortaram a vegetação e reduziram a
acumulação de água no solo. Aconteceu também em Fatehpur Sikri, cidade
construída no Rajastão indiano para ser a capital do império Mogol, mas que nem
chegou a ser habitada pois uma crise climática reduziu drasticamente as chuvas
na região e a cidade ficou sem fontes de abastecimento.
Na
atualidade, a cidade do Cabo, na África do sul, foi a primeira a correr o risco
de chegar a um dia de água zero, há alguns anos. Isso levou a que adotasse
medidas para reduzir o risco do colapso. Várias outras metrópoles ou pequenas
cidades passam a correr esse risco, à medida que se manifestam os efeitos das
mudanças climáticas em curso.
Esse
risco pode ser reduzido por meio de medidas que diminuam a demanda de água, tais
como o racionamento, a redução de perdas e desperdícios nas redes de
abastecimento; ou por mudanças nos
processos de produção industrial ou agrícola; ou por meio da hidroeducação para
que os hábitos de consumo se alterem e
se tornem mais hidroconscientes.
O
risco de desabastecimento pode ser reduzido, ainda, por meio do aumento da oferta de água, com a
captação em novos mananciais, a proteção dos mananciais existentes, a perfuração
de poços tubulares ou artesianos que busquem a água subterrânea para o
abastecimento, obras de infraestrutura hídrica que diversifiquem as fontes de
abastecimento de uma cidade e reduzam sua vulnerabilidade a estiagens, o
incentivo a produtores rurais para que produzam água e adotem tecnologias que
as acumulem no solo para serem usadas quando forem necessárias.
Uma
gestão adequada da água disponível também é um modo de reduzir riscos: por meio
do racionamento, da operação adequada de reservatórios de água, da educação
para o uso da água, da declaração de emergência ou de estado de calamidade
pública, do monitoramento das secas e dos períodos de estiagem.
É
preciso olhar para o presente e para as decisões que se tomam em relação ao uso de ocupação do solo nas bacias
hidrográficas onde existam mananciais de abastecimento público de água.
Entre
as medidas que podem ser tomadas está a proteção das microbacias de onde se
capta água para o abastecimento urbano. Evitar licenciar nelas atividades
potencialmente degradadores ou poluidoras das águas é uma medida preventiva
relevante. As áreas de proteção de mananciais precisam ser bem cuidadas. Os
macrozoneamentos de uso e ocupação do solo são instrumentos valiosos para
proteger áreas de mananciais. O município, em seus planos diretores tem
responsabilidade nisso, pois ele é o gestor do uso e ocupação do solo. Um
macrozoneamento e um plano diretor hidroconscientes são instrumentos valiosos
para reduzir os riscos de desabastecimento de água no município e em cada um de seus distritos.
É
importante, ainda, olhar para o alto, para a água existente na atmosfera, para
os rios voadores e para as mudanças climáticas.
Caso se desmate a Amazônia, a força desses rios voadores nas nuvens
decrescerá e pode passar a chover menos no centro oeste e no sudeste
brasileiros, desencadeando crises hídricas e maiores riscos de desabastecimento urbano de água. É preciso
olhar para o futuro, para os cenários climáticos que indicam que aumentarão os períodos
de secas prolongadas e também os volumes de chuvas torrenciais. Olhar para o
passado e para as series históricas de dados de chuva e vazão dos rios não
oferece mais informações suficientes para prever o futuro. Os cenários
climáticos estão se alterando e tendem a aumentar os riscos de desabastecimento.
O novo normal climático exigirá medidas adicionais relacionadas com as águas
para evitar que uma gestão temerária aumente os riscos de desabastecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário