A União Europeia estruturou uma gestão das águas integrada que serve como modelo para uma federação como a brasileira.
Muitos dos rios europeus nascem num
país, atravessam outros países e desembocam em outros ainda, a exemplo do Reno,
que nasce nas Suíça, atravessa a Alemanha e tem sua foz na Holanda. Assim, uma
adequada gestão das águas, que evite acidentes ou sua poluição é fundamental
como elemento de prevenção de conflitos entre países.
Atualmente com 27 países e ciente da
importância de agir preventivamente para evitar conflitos, a União Europeia criou
uma regulamentação comum para as águas.
Nas décadas de 70 e 80 havia normas,
porém fragmentadas, tratando de temas específicos como água para abastecimento
ou padrões de qualidade das águas adequados para a saúde humana. O processo
começou por demanda social. A sociedade
europeia identificava a poluição da água como o maior problema ambiental. Era
importante que os governos dos países agissem. A pressão
popular instigou a Comissão Europeia a formular uma política conjunta na área
da água.
Em 1996 uma grande conferência com a
participação de governos, organizações da sociedade e empresas chegou a um consenso
sobre a necessidade de uma abordagem integrada e unificada. Quatro anos depois,
isso se materializou na diretiva quadro das águas da União Europeia, uma lei
aprovada no parlamento europeu e no conselho europeu. Essa lei tem 26 artigos e
11 anexos e trata de águas superficiais, subterrâneas, costeiras, de aspectos
ambientais e de qualidade da água. O acesso a recursos financeiros da
comunidade europeia é condicionado a seu cumprimento.
A Diretiva
Quadro das águas leva os países a uma prática articulada para a gestão da
água, pactuando objetivos comuns ao longo do tempo, com metas precisas.
Na criação da diretiva para as águas
havia motivações econômicas para que, na competição, os estados mantivessem uma
mesma política ambiental e a internalizassem nas suas atividades produtivas.
Dessa forma, eventuais diferenças normativas não resultariam em desvantagens competitivas
de um país em relação a outro.
A Diretiva-Quadro Europeia assinada
Foi definido um cronograma de
implementação da diretiva, que começa com a definição de distritos
hidrográficos e quem é competente para geri-los, e segue com varias atividades
ao longo de vários anos.
A Diretiva-Quadro definiu como
objetivo atingir o bom estado ecológico das águas. Na União Europeia, o primeiro
considerando da norma que estabelece um quadro de ação comunitária no domínio
da política da água diz que “A água
não é um produto comercial como outro qualquer, mas um patrimônio que deve ser
protegido, defendido e tratado como tal. ” A diretiva europeia para as águas
também põe ênfase na abordagem ecológica e na proteção das aguas. Patrimônio hídrico, proteção dos ecossistemas
aquáticos, abordagem ecológica, âmbito de aplicação abrangente são algumas das
características das leis das águas europeias.
A diretiva quadro se aplica em todos
os países da Europa, sendo as metas internalizadas na legislação de cada país. Conferências
bianuais propiciam o intercâmbio de visões e experiências. Planos de bacia são
elaborados e revisados de 6 em 6 anos e isso permite um acompanhamento e
monitoramento dos avanços alcançados.
São parte do processo de
implementação da diretiva os prazos que foram definidos para os estados-membros
cumprirem os compromissos assumidos. Cada país precisa relatar os problemas na
implementação e há multas impostas àqueles que não logram cumpri-las.
A diretiva quadro europeia para as
águas é um exercício inspirador para países
federativos, como o Brasil, que precisa harmonizar as relações entre o domínio das
águas federal e o domínio dos estados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário