O que se pode fazer para contribuir para reduzir emissões de gases de
efeitos estufa pelas cidades e pelo ambiente construído?
Os relatórios do IPCC – Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas, das Nações Unidas, composto por mais
de 2 mil cientistas – mostraram que há um enorme potencial para reduzir
emissões de gases de efeito estufa a partir do ambiente construído.
Muito se pode fazer para as
cidades serem ecologizadas, por meio da certificação de construções
sustentáveis, de normas para a construção e para o urbanismo, por meio do
planejamento de transportes e tráfego urbano; por meio do ecodesign de vários
tipos. A ecologia urbana e a ecologia industrial são campos das ciências
ecológicas com forte potencial para contribuir nessa tarefa.
No contexto da crise energética
dos anos 70, o alto preço de energia motivou a busca de soluções
arquitetônicas, construtivas e urbanas que levasse à economia de energia.
Quando a crise amainou, esses esforços foram abandonados.
Quatro décadas depois os temas
ambientais, energéticos e climáticos retornaram com intensidade crescente. Hoje
o tema da arquitetura, da cidade e da construção sustentáveis estão na ordem do
dia. Essa questão tende a condicionar o desenho do espaço, à medida que
aumentar a escassez e o alto preço da energia derivada do petróleo ou de outras
fontes, dada a gravidade dos impactos que sua exploração e uso causam sobre o
ambiente e sobre o clima.
Qual a relação entre cidade e energia?
Grande parte da energia usada nas
sociedades modernas destina-se à construção e operação dos assentamentos
humanos, habitações ou cidades, com sua infra-estrutura. Ao se construir as
habitações, os equipamentos públicos e a infra-estrutura urbana, fazem-se
investimentos iniciais de energia, provenientes de fontes variadas: os
derivados do petróleo, a lenha, a hidroeletricidade, a energia solar, a energia
animal, a força humana etc. A construção
dos assentamentos humanos inclui operações diversas, tais como a extração da
matéria-prima, seu processamento industrial, o transporte dos materiais de
construção e sua montagem na obra.
A cidade é, do ponto de vista
energético, um ponto do espaço que importa certas formas de energia, as
transforma e exporta de forma desagregada.
Investimentos permanentes de
energia são realizados na etapa de operação
dos assentamentos humanos, durante sua vida útil: a cozinha, o aquecimento de
água, a iluminação, a climatização da habitação, a secagem de roupas, a
preservação de alimentos, o abastecimento de água, o transporte e a recreação,
a comunicação por meio de computadores são algumas das atividades que consomem
energia proveniente de várias fontes e que utilizam variados equipamentos ou
instalações.
Quais os maiores gastos de energia nas cidades, em climas tropicais?
A proporção entre a energia
inicial e a energia usada na manutenção é variável de país para país e de
edificação para edificação. Como regra geral, no clima temperado gasta-se mais energia de manutenção, devido às
exigências de calefação de casas nos invernos e também ao estilo de vida
intensivo em energia de suas populações.
Nos climas temperados precisa-se
de luz e sol; nos tropicais, de sombra e ar para ventilar e dar conforto
térmico. Nos climas tropicais, os
estilos de vida menos intensivos em energia e as condições climáticas favorecem
a conservação de energia na operação dos assentamentos humanos. Por isso, nos climas tropicais, têm
importância especial os investimentos
iniciais de energia na construção das edificações e dos assentamentos
humanos. Mas, com o aquecimento progressivo, cada vez mais precisa-se usar ar
condicionado nos carros, nas casas, nos locais de trabalho, para proporcionar
conforto térmico.
O que é ecologizar a cidade?
Nas cidades vive hoje mais da
metade da população mundial e no Brasil essa proporção se acerca de 80%. O
adequado planejamento ou gestão urbana, bem como o ecodesign de construções e
das cidades podem contribuir muito para tornar nosso habitat mais sustentável.
Ecologizar a cidade é cuidar de
sua relação com o meio ambiente, o clima e a energia.
As cidades exercem pressão sobre
a capacidade de suporte do ambiente ao se abastecerem de água, materiais e
construção, alimentos e energia. Gerenciar
o ciclo de vida das construções e das cidades, desde a extração de materiais de
construção, seu processamento, uso e descarte de resíduos é uma forma de
abordá-la do ponto de vista ecológico.
Cada pessoa pode fazer
individualmente a sua parte, no seu âmbito de ação. Pode mudar seu modo de vida
para reduzir seu impacto sobre o ambiente como consumidora, eleitora,
trabalhadora e nos vários papéis que desempenha na sociedade. Especialmente ao
adotar hábitos alimentares de baixo impacto, eliminando ou reduzindo o consumo
de carne, um indivíduo pode dar uma contribuição relevante, no seu cotidiano.
Existem ações, entretanto, que
precisam ser tomadas coletivamente para facilitar que os indivíduos, famílias e
grupos sociais adotem estilos e formas de vida mais ecológicas, de forma mais
eficiente energeticamente e com menores impactos ambientais ou emissão de gases
de efeito estufa.
Nos anos 70, as crises do
petróleo chamaram a atenção para a finitude desse recurso e para a necessidade
de investir em energias limpas e renováveis. Quando a crise amainou, esses esforços foram
abandonados. Três décadas depois, neste início do século XXI, os temas
ambientais, energéticos e climáticos retornaram com intensidade crescente.
Há exemplos de assentamentos humanos sustentáveis?
Se compararmos os sistemas de
assentamentos humanos de acordo com sua escala, verificamos que na Ásia as
redes de centenas de milhares de aldeias souberam se sustentar por milênios com
baixa pressão sobre o ambiente, ao passo que as metrópoles modernas são vorazes
em consumir materiais e energia e têm uma forte pegada ecológica. Mas grandes cidades também podem ser
planejadas e geridas de modo a reduzir seu impacto ambiental. O uso de fontes
limpas e renováveis de energia e sua conservação são cruciais para reduzir os
impactos ambientais e climáticos das cidades.
O que é a arquitetura ecológica?
A arquitetura
ecológica resulta do uso de materiais e tecnologia adequados, do aproveitamento
climático voltado para a qualidade de vida e tem características próprias. A
casa autônoma pode reduzir suas demandas de energia, alimentos e água, a partir
do design ecologicamente responsável.
A arquitetura
ecológica é consciente de seus impactos ambientais e climáticos, mesmo aqueles
que ocorrem distantes do local em que a obra está sendo construída. Ela
economiza energias e materiais, consciente de que o uso ou a exploração de
qualquer fonte de energia produz impactos ambientais, e que a energia que se
economiza ou que se deixa de utilizar é a que menos polui o ambiente; atende a
necessidades básicas, individuais e coletivas, e não apenas a demandas
supérfluas formuladas e reforçadas por parcela minoritária da população; é
consciente do clima e das modificações que este sofre em escalas global e
local, procurando proporcionar conforto ambiental – térmico, acústico, luminoso
– com o menor dispêndio de energia.
Além disso,
ela é consciente de seus impactos socioeconômicos e usa tecnologia, material e
capacitação humana existentes na região em que vai se construir. Isso significa
contribuir para desacelerar a devastação do patrimônio ambiental e para mudar a
direção desenvolvimento; ela busca ser mais autônoma e menos dependente em
termos de seu abastecimento de energia, água e alimentos.
O que é preciso fazer para ecologizar as
profissões que cuidam do ambiente construído?
O paisagista, arquiteto e
engenheiro podem atuar no sentido de evitar desperdícios, influir sobre os
clientes perdulários e ecologicamente irresponsáveis, modificar a ação dos
demais membros da cadeia produtiva da construção civil.
Ecologizar a arquitetura e o urbanismo exigem desenvolver,
holisticamente, a percepção sensorial e a consciência ecológica.
Os chamados edifícios verdes ou sustentáveis e a
arquitetura bioclimática usam de forma inteligente a ventilação, iluminação e
insolação naturais. Eles precisam ser concebidos a partir da formação
profissional nas escolas, com um ensino não apenas teórico e conceitual, mas
que recolham da prática construída bons exemplos que possam ser adaptados e
replicados; concursos de arquitetura e obras primas precisam valorizar a arquitetura
ecológica; o ecodesign possibilita
fazer mais com menos materiais e menos energia.
Materiais de construção precisam ser selecionados conforme seus mínimos
impactos ambientais e climáticos. A redução de desperdícios de materiais é um
dos critérios para se avaliar uma arquitetura ecologicamente adequada. A
integração do paisagismo e da vegetação às soluções arquitetônicas e
urbanísticas precisa ser valorizada.
Nesse contexto de crise climática e de crescente custo ambiental da
energia, é urgente que os arquitetos, engenheiros, advogados e demais
profissões coloquem a criatividade a serviço de ecologizar o ambiente
construído.