sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Por quê há muito mais suicídios na Índia do que no Brasil?

 

Matéria na BBC informa sobre a onda de suicidios de mulheres  e que “as donas de casa representaram 14,6% do total de 153.052 suicídios registrados na Índia em 2020.”

A violência doméstica, problemas nos casamentos, questões familiares são apontadas como as causas desse alto índice de suicídios de donas de casa. Na Índia é comum o casamento arranjado pelos pais dos noivos e a mulher vai morar com a família do marido depois de se casar. O relacionamento sogra-nora não é fácil em muitas sociedades e isso se agudiza no caso de a nora precisar conviver no seu cotidiano com sua sogra e a família do marido. Situações de tirania, opressão doméstica, exploração econômica, sufocamento psicológico, humilhação, constrangimento, rebaixamento, demérito, baixa autoestima, tendem a acontecer com frequência e a solução extrema do suicídio é praticada.

Mas não é apenas esse o motivo dos suicídios na India. Se as donas de casa respondem por cerca de 15% do total de suicídios, outros 85% são praticados por outras pessoas. É alto o índice de suicídios com pesticidas, álcool, armas de fogo ou enforcamento, entre camponeses pobres endividados, impossibilitados de cumprir seus compromissos.

Em praticamente todos os indicadores, do homicídio ao estupro, a violência na Índia é menor do que no Brasil, exceto para a ocorrência de suicídios, a violência contra si mesmo tirando a própria vida.  Os impactos do uso de pesticidas na agricultura podem explicar essa maior incidência de suicídios na Índia. Filmes indianos recentes mostram o fenômeno, como uma atitude da pessoa diante de uma vergonha, uma desonra ou indignidade.

Os suicídios têm um alto índice de ocorrência na Índia, sendo  mais que o dobro em comparação com o Brasil.

Suicídios por 100.000 habitantes

52.

 India

1998

Homens 12.2

Mulheres 9.1

Média 10.7

 

76.

 Brasil

2008

7.7

2.0

4.8

 

 Por que, na contramão dos números de homicídios ou de estupros,  o número de suicídios é tão mais alto lá?

Teriam os indianos maior senso de vergonha na cara, de honra, de dignidade do que os brasileiros?  Sem vergonhice, falta de vergonha na cara e cara de pau reduziriam os números de suicídios? Trata-se de perguntas ainda sem respostas.

10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil o Setembro Amarelo foi instituído em 2015 como o mês dedicado a tal  prevenção. “No Brasil 32 pessoas se suicidam diariamente. Com isso, o suicídio gera mais vítimas do que a AIDS e determinados tipos de câncer.”

A matéria da BBC sobre o suicídio de donas de casa na Índia informa que durante a pandemia o problema se agravou, devido ao maior tempo passado em casa,  que levou a mais casos de violência doméstica, tendência que também se verificou no Brasil.

 

sábado, 29 de maio de 2021

Conversando sobre a Índia, uma abordagem ecológica

 

Maurício Andrés Ribeiro

Em 1977  fiz um estudo comparativo entre o Brasil e a India, sobre Habitat e transferência de tecnologia,   como pesquisador visitante no Instituto Indiano de Administração em Bangalore com uma bolsa do CNPq.

Estudei Kenchankuppe, uma aldeia no caminho entre Bangalore e Mysore. Ela é uma das 660 mil aldeias indianas onde hoje vivem cerca de 900 milhões de pessoas. Ela é semi-autosuficiente em energia e materiais de construção, alimentos e água, o que lhe deu sustentabilidade durante milhares de anos. ( a energia elétrica somente existe há 150 anos, ou seja  3% do tempo de vida dessa civilização).

Ali as casas são desenhadas de modo a abrigar vacas e búfalos, que são alimentados à tardinha, passam a noite em pátios e produzem o  valioso esterco que pela manhã é levado como adubo para os campos.

Há muitas atividades ao ar livre, inclusive aulas  para as crianças nas estações secas e quentes. As aldeias hoje se conectam com o mundo por meio das telecomunicações e da internet,  o que revitaliza essas pequenas comunidades.

Anda-se a pé, de bicicleta ou, atualmente, em motos. Riquixás são usados, como nas cidades: são veículos arejados, econômicos, que ocupam pouco espaço, adequados para um ou dois passageiros. 

O hábito de comer com a mão direita e fazer a higiene com a mão esquerda é um modo de codificar o uso do corpo e substitui equipamentos e objetos. Sentar-se no chão em postura corporal própria é o padrão.

Ao invés  de dar as mãos, como se praticava no ocidente, o tradicional cumprimento indiano do Namasté colabora para a higiene pessoal e o isolamento físico. Tem, ainda, um significado espiritual em uma cosmovisão que acredita existir uma centelha divina dentro de cada um e que Deus não está lá longe e no alto, mas dentro de cada pessoa.” O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti.”

Há muitos deuses animais, tais como a vaca, o macaco, a cobre, o elefante etc. Animais são deuses nessa tradição politeísta,  e não apenas objetos ou pessoas não humanas.

O hábito alimentar vegetariano e o baixo consumo de carne  contribuem para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e para tornar mais leve a pegada ecológica per capita, ou seja, para reduzir A pegada é ecológica  indica a área necessária para sustentar uma pessoa e qual o peso que o estilo de vida de uma pessoa exerce sobre a terra. Ela é calculada considerando hábitos de vida, alimentares, meio de transporte, energia usada, resíduos produzidos. A Índia tem uma das mais leves pegadas ecológicas per capita do mundo e parte disso se deve à frugalidade de seu modo de vida.

A organização da população em aldeias descentralizadas, o uso do corpo economizando objetos e os hábitos alimentares vegetarianos ajudam  a explicar a leve pegada ecológica per capita indiana.

Em 2003,  26 anos depois da pesquisa, publiquei o livro Tesouros da Índia para a civilização sustentável. Condensei  o que estudara até então, escrevi sobre a formação histórica da India, os impactos  da colonização, as questões de ciência e tecnologia, de cultura e meio ambiente, da espiritualidade e do dharma e por que a Índia se sustentou por milhares de anos com baixo impacto ambiental.

Escrevi também sobre a não violência e por que a India tem níveis de violência – assassinatos, estupros e vários outros tipos de crimes – muito menores do que os do Brasil.

Em 2008 publiquei o livro Meio ambiente e evolução humana com ênfase na ecologia interior,  do ser. Focalizei o interesse na ecologia pessoal, na noosfera e nas paisagens interiores. Busquei inspirações em fontes indianas: nos Brahma Kumaris que praticam a raja yoga e com os quais meditei as 4 horas da manhã em Mount Abu, Rajastão. Dos Brahma Kumaris aprendi a importância da arte de sair de cena, uma alegoria da própria vida. Inspirei-me nos conhecimentos sobre a psicologia yogue, a subjetividade, as cosmovisões indianas que aprendi na Sociedade Teosófica em Adyar; no ashram de Ramana Mararishi em Tiruvanamalai. Os ashrams, comunidades lideradas geralmente por um mestre ou guru, são altamente funcionais e obtém bons resultados e qualidade de vida com pouco uso dos recursos, com suas cozinhas coletivas e áreas  de serviços comuns. Têm um design ecológico inteligente.

A consciência do corpo, a respiração como um ato cultural, o Yoga são parte de um soft power  indiano poderoso que aos poucos influencia os demais países e sociedades. A India tem uma rica inteligência civilizacional que inclui a hospitalidade para abrigar ampla diversidade de povos, a paciência e resiliência.

2013 – Em minha mais recente viagem à India prestei atenção à água. Vi como  sua escassez inviabilizou o uso de uma cidade, Fatehpur Sikri, construída para ser a capital do império Mogol, mas que foi abandonada devido a uma mini crise climática. Visitei centros de educação para a água onde crianças aprendem sobre a importância dessa substancia e sobem em balança hídrica onde veem a quantidade de água que existe em seus próprios corpos.

Em 2018 focalizei a atenção em Sri Aurobindo, um farol que nos ajuda a compreender a grande transição atual e a mudança de eras em que nos encontramos. Estudei as ideias mundialistas de Gandhi, Nehru, Tagore e o pensamento político e social de Sri Aurobindo Já havia traduzido uma Constituição para a Federação do Planeta Terra, publicada pela imprensa de Auroville, cidade internacional inspirada em Sri Aurobindo.

A India foi uma fonte de inspirações para Sri Aurobindo, a pessoa que pavimentou o caminho de Gandhi e outros companheiros para alcançarem a independência daquele país por meio da resistência não violenta. 

Em 2020   estudei a dinâmica e os resultados parciais da pandemia no Brasil e na Índia. Durante todo o tempo os números de mortes por milhão são 10 vezes menores na India  do que no Brasil.  Os números oficiais são pouco confiáveis devido a subnotificação no Brasil (30%) e na India ( de 2 a 5 vezes - Univ. Michigan) Mesmo no pior cenário para a India, o número de mortes proporcionalmente à população é muito menor do que o do Brasil. Por quê isso? Levanto várias hipóteses: deficiências de governos; imunidade natural, genética, variantes menos virulentas, população jovem; distribuição em aldeias; hábitos culturais e alimentares, hábitos corporais e físicos, civismo etc

Ainda há um enigma e um mistério relacionado com tais números. Somente haverá uma resposta definitiva quando a pandemia arrefecer e tivermos o distanciamento histórico para compreender o que se passou.

(A










presentação em live do IMHA em 12-5-2021)

sábado, 15 de maio de 2021

Homodiversidade








Maurício Andrés Ribeiro

Existe uma diversidade de percepções e de definições sobre o que foi, é e pode vir a ser nossa espécie. Na listagem a seguir, que não é exaustiva, relacionamos cerca de uma centena delas.

Algumas são definições científicas, outras   expressam m linguagem popular nossos atributos como espécie.  Cada um de nós traz dentro de si em quantidades variadas cada uma dessas características.

Historiadores que conectam a história humana com a história natural tem enfatizado algumas delas: Yuval Noah Harari escreveu sobre Sapiens e Homo Deus.  Rutger Bregman, em Humanidade e Utopia para realistas inventou o Homo Puppy-Homo cachorrinho e menciona o Homo Ludens, o Homo Economicus, o Homo Cooperans.

A evolução da espécie e o rumo da história natural daqui por diante encontra-se, em parte, em nossa consciência e ações. Somos cogestores da evolução.

As maneiras como percebemos nossa espécie refletem e projetam os modos como nos percebemos a nós mesmos como seres humanos. Adaptando a observação de Freud, quando um indivíduo fala de sua espécie ele fala muito mais de si próprio do que de sua espécie.

Somos seres em transição na evolução, e cada um de nós carrega em si potencialidades, como as da árvore que estão contidas em sua semente, já observou Sri Aurobindo em seus escritos sobre a evolução futura do ser humano. Há aspectos e facetas do Homo que estão latentes e que, dadas as condições adequadas e sendo bem alimentadas, podem florescer e despertar plenamente.

 Quais delas vão prevalecer  na espécie, na sociedade e em cada indivíduo dependerá da alimentação que receberem. Ao alimentarmos em nós certas características, elas se fortalecerão e predominarão. Cabe a cada um de nós como indivíduos, como sociedade e coletividade, escolher as qualidades que alimentaremos e aprender como fazer isso.

Homo do passado

  1. Homo antecessor
  2. Homo cepranensis
  3. Homo erectus
  4. Homo ergaster
  5. Homo faber
  6. Homo floresiensis
  7. Homo gautengensis
  8. Homo georgicus
  9. Homo habilis
  10. Homo heidelbergensis
  11. Homo neanderthalensis
  12. Homo naledi
  13. Homo rhodesiensis
  14. Homo rudolfensis

Homo do presente


  1. Homo academicus
  2. Homo artisticus
  3. Homo autisticus
  4. Homo babacus
  5. Homo bellicus
  6. Homo bobus
  7. Homo brochadis
  8. Homo cachorrinho
  9. Homo civilis
  10. Homo complexus
  11. Homo consumptor
  12. Homo cooperans
  13. Homo corruptus
  14. Homo cosmicus
  15. Homo creativus
  16. Homo culturalis
  17. Homo degradandis
  18. Homo deletabilis
  19. Homo demens
  20. Homo Deus
  21. Homo digitalis
  22. Homo dignus
  23. Homo driver
  24. Homo empathicus
  25. Homo fabulosus
  26. Homo fofobicos
  27. Homo hierarchicus
  28. Homo historicus
  29. Homo holisticus
  30. Homo honestus
  31. Homo humanorum
  32. Homo idioticus
  33. Homo ignorans
  34. Homo imaginarius
  35. Homo innovatus
  36. Homo insensatus
  37. Homo liber
  38. Homo lixius
  39. Homo literatus
  40. Homo loquens
  41. Homo ludens
  42. Homo luzonensis
  43. Homo magus
  44. Homo mechanicus
  45. Homo moralis
  46. Homo movens
  47. Homo natura
  48. Homo noologicus
  49. Homo oecologicus
  50. Homo oeconomicus
  51. Homo podris, podrus
  52. Homo pragmaticus
  53. Homo parasitus
  54. Homo perfectus
  55. Homo photographus
  56. Homo pixel
  57. Homo planetaris
  58. Homo poeticus
  59. Homo politicus
  60. Homo projector
  61. Homo proteus
  62. Homo psicoativus
  63. Homo puppy
  64. Homo reciprocans
  65. Homo religiosus
  66. Homo ricus
  67. Homo risus
  68. Homo sacer
  69. Homo sapiens
  70. Homo sapiens idaleti
  71. Homo sapiens sapiens
  72. Homo sapiens digitalis
  73. Homo sapiens futurus
  74. Homo sapiens global
  75. Homo sapiens local
  76. Homo scientificus
  77. Homo self-centricus
  78. Homo selfies
  79. Homo simbioticus
  80. Homo situs
  81. Homo sociologicus
  82. Homo spiritualis
  83. Homo stupidus
  84. Homo superior, Homo superioris
  85. Homo sportivus
  86. Homo turisticus
  87. Homo stressatus
  88. Homo symbolicum
  89. Homo superpredator
  90. Homo sustentabilis
  91. Homo technocraticus
  92. Homo uber juridicus
  93. Homo videns
  94. Homo visionarius
  95. Homo zappiens

 

 

 

 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Diversidade de percepções sobre nossa espécie



Maurício Andrés Ribeiro

Existe uma diversidade de percepções e de definições sobre o que foi, é e pode vir a ser nossa espécie. Na listagem a seguir, que não é exaustiva, relacionamos 63 delas.

Cada um de nós traz dentro de si em quantidades variadas, cada uma dessas características.

Quais delas vão prevalecer  na espécie, na sociedade e em cada individuo dependerá da alimentação que receberem.

Ao alimentarmos certas características, elas se fortalecerão e predominarão.

Cabe a cada um de nós como indivíduos, como sociedade e coletividade, escolher as qualidades que alimentaremos e aprender como fazer isso.

A evolução da espécie e o rumo da história natural daqui por diante, encontra-se, em parte, em nossa consciência e ações. Somos cogestores da evolução.












 Homo

  1. Homo habilis
  2. Homo faber
  3. Homo cepranensis
  4. Homo antecessor
    Homo floresiensis
  5. Homo gautengensis
  6. Homo georgicus
  7. Homo naledi
  8. Homo rhodesiensis
  9. Homo rudolfensis
  10. Homo neanderthalensis
  11. Homo heidelbergensis
  12. Homo ergaster
  13. Homo erectus
  14. Homo bellicus
  15. Homo complexus
  16. Homo corruptus
  17. Homo cosmicus  
  18. Homo culturalis
  19. Homo deletabilis
  20. Homo demens
  21. Homo oecologicus
  22. Homo economicus stupidus
  23. Homo empathicus
  24. Homo honestus
  25. Homo risus
  26. Homo idioticus
  27. Homo stupidus
  28. Homo bobus
  29. Homo brochadis
  30. Homo literatus
  31. Homo lixius
  32. Homo ludens
  33. Homo moralis
  34. Homo Deus
  35. Homo ignorans
  36. Homo podris, podrus
  37. Homo turisticus
  38. Homo consumptor
  39. Homo photographus
  40. Homo puppy
  41. Homo noologicus
  42. Homo perfectus
  43. Homo planetaris
  44. Homo proteus
  45. Homo puppy
  46. Homo religiosus
  47. Homo ricus
  48. Homo sacer
  49. Homo sapiens
  50. Homo sapiens idaleti
  51. Homo sapiens sapiens
  52. Homo sapiens global
  53. Homo sapiens local
  54. Homo spiritualis
  55. Homo superpredator
  56. Homo scientificus
  57. Homo self-centricus
  58. Homo poeticus
  59. Homo simbioticus
  60. Homo sportivus
  61. Homo stressatus
  62. Homo sustentabilis
  63. Homo tecnocraticus