Mauricio
Andrés Ribeiro
Segurança
é um tema crucial para as cidades.
As
pessoas buscam se proteger diante do quadro crescente de violência urbana,
balas perdidas, conflitos com traficantes de drogas e assaltos. No Brasil há cerca de 60mil mortes por ano em
homicídios, grande parte deles nas cidades.
Muros
e cercas com arame farpado e cacos de vidro, alarmes eletrônicos e câmeras de
vigilância, portarias com segurança privada em condomínios fechados são alguns
dos modos de se defender. Nas áreas públicas, uma adequada iluminação pode reduzir a criminalidade.
Iluminação publica aumenta segurança. |
A
violência e insegurança no trânsito, que atinge motoristas, passageiros, ciclistas,
pedestres. No Brasil há mais de 60 mil mortes no trânsito e alta incidência de
acidentes com motos, que oneram os hospitais e postos de saúdes com
traumatizados e incapacitados. Parte delas
acontece em cidades. Ciclistas correm riscos e são vítimas frequentes de
acidentes de trânsito. Pedestres são atropelados. Além disso as más condições
de manutenção de calçadas provocam acidentes com idosos, quedas, fraturas,
onerando o sistema de saúde e os hospitais e provocando mortes. Prover
ciclovias seguras é um dos modos de lidar com esse tema. Boa sinalização,
educação para o trânsito, manter calçadas em boa condição de caminhabilidade são
modos de se lidar com esse aspecto da
segurança.
Caminhabilidade - calçadas em boas condições reduzem riscos de quedas. |
Segurança integral tem múltiplas dimensões |
Entretanto,
esse tema não se reduz apenas à
segurança pública ou no trânsito. Uma abordagem holística e integral mostra que
além dessas dimensões cotidianas, há
outras ameaças à segurança que vêm com
deslizamentos de encostas, que atingem
moradores de áreas de risco; enchentes e inundações que surpreendem motoristas
dentro de seus carros em fundos de vales. Trata-se da segurança ambiental, que
atinge mais duramente os mais vulneráveis e mais pobres. Evitar a ocupação de áreas de risco íngremes
ou em fundos de vales é um dos modos de reduzir esse problema. Dar um bom uso a
essas áreas e mantê-las não edificadas é uma solução de desenho urbano
adequada.
Há
riscos potenciais à segurança que são
muito mais sérios e vitais, como a segurança hídrica. Uma cidade que sofra um
colapso no abastecimento de água está vulnerável e sujeita a convulsões sociais
de grande abrangência. Em 2018 a Cidade
do Cabo, na África do Sul, correu o risco de colapso total do abastecimento de água,
com a chegada do dia Zero. Com a emergência climática atual, várias outras
cidades passaram a correr esse risco. Em São Paulo, Brasília e outras cidades,
crises hídricas impuseram racionamento, aumento de tarifas, construção de obras
de infraestrutura e medidas de ordenamento territorial. Um parque estadual foi
criado em Goiás para proteger o manancial do lago Descoberto, que abastece Brasília.
Isso demandou articulação entre dois entes da federação. O planejamento
territorial e a criação de áreas protegidas são modo preventivo para se
evitarem crises hídricas graves.
Segurança ambiental evita ocupação de áreas de risco de inundações. |
Em
muitas cidades brasileiras houve a ocupação de áreas de proteção de mananciais,
como na Billings e Guarapiranga em São Paulo, inviabilizando o uso da água
desses reservatórios.
Num
colapso de fornecimento de água, os mais ricos têm como se proteger comprando
água engarrafada, transportada em caminhões pipa etc. Os mais pobres têm
menores alternativas de se defender. Todas essas dimensões da insegurança
atingem de modo mais duro os vulneráveis e pobres, o que torna a ação voltada
para reduzir esses riscos uma ação também de justiça social, justiça ambiental,
justiça hídrica.
A
segurança alimentar, também é vital,
como demonstrou a greve de caminhoneiros ocorrida no Brasil em 2018, com risco
de desabastecimento. Hortas urbanas tem sido criadas para complementar o abastecimento alimentar.
Uma
das tarefas do urbanista é reduzir as
inseguranças que ameaçam os cidadãos. Ele pode fazer isso por meio do
ecodesign, do ordenamento territorial, de normas e fiscalização, do desenho
urbano, utilizando o seu saber e os instrumentos nos quais tem perícia. Por
meio do desenho urbano em escala micro ou em nível local e regional, várias das
questões de segurança urbana podem ser mitigadas ou resolvidas. Esse é um dos
grandes desafios dos urbanistas na sociedade atual.