Maurício Andrés Ribeiro
Parque Municipal de Belo Horizonte
A pandemia do coronavirus em 2020 chamou a atenção para
a importância das áreas verdes urbanas onde a população possa ficar ao ar
livre, num ambiente bem ventilado, sem aglomerações, nas quais o virus não tenha
condições de se alastrar.
Um grande impulso pela criação de
parques e áreas verdes urbanas aconteceu em Belo Horizonte no início da década de 90. Dezoito dos 26 parques então
existentes em Belo horizonte foram criados no período entre 1990 e 1992.
O contexto era estimulante. Pouco
antes, a cidade tinha aprovado a lei orgânica municipal, que previa a expansão
de áreas verdes de 0,7m2 para 12m2 por habitante até 1995. Naquela ocasião
acontecia no Brasil a conferência Rio-92 e o tema ambiental era efervescente em
todos os níveis de governo e especialmente nos governos locais. O ICLEI –
Conselho internacional de iniciativas ambientais locais – recém criado, apoiava as ações municipais.
Em Belo horizonte, a
identificação das áreas livres disponíveis foi um primeiro passo. Várias delas
tinham sido já identificadas num programa metropolitano de parques elaborado
pelo Plambel, tal como a área da Lagoa do Nado. Outras foram identificadas a
partir de demandas das vizinhanças ou por iniciativa da prefeitura. A aprovação dos decretos para sua criação foi um primeiro
passo para se implantarem parques, pois a definição da utilização da área
sinaliza para a intenção do governo de torná-la de uso público.
Alguns parques foram criados a
partir de negociações com os proprietários privados, liberando parte das áreas para construção enquanto
outras partes eram doadas para o município ( parque da mata das Borboletas,
parque do Santo Agostinho). Outros se localizaram em mirantes em áreas geridas
por empresas estatais onde se localizavam caixas dágua ( Parque Amílcar Vianna
Martins), liberando para acesso público as vistas que se descortinam dessas
áreas.
Parque Amílcar Vianna Martins e seu mirante
Criou-se a Fundação Zoobotânica,
ampliando as funções do zoológico anteriormente existente e as áreas assoreadas
na Pampulha foram transformadas em parque público.
Na medida em que havia recursos,
foram feitos investimentos em projetos paisagísticos e de equipamentos. Outros
passaram por reformas estruturantes a partir de projetos premiados em concursos
públicos (o Parque Municipal).
Gestão participativa no Parque das
Mangabeiras que recebeu Comissão
consultiva
Implantaram-se, pioneiramente no
Brasil, comissões consultivas com a participação de partes interessadas. Um
exemplo foi o parque das Mangabeiras, vizinho de um bairro de alta renda de um
lado e de uma favela populosa do outro lado. As vizinhanças se envolveram
ativamente na comissão consultiva que cuidava do parque e de sua manutenção.
Serra do Curral, tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural
A Serra
do Curral, patrimônio paisagístico parcialmente protegido pelo governo
federal, foi também tombada no âmbito municipal, fortalecendo sua proteção.
Caderno de Meio Ambiente sobre Arborização Urbana - BH- 1992
Foram produzidos vários cadernos de meio ambiente sobre os
temas mais importantes para a gestão ambiental municipal. Um dos Cadernos de
Meio Ambiente então produzidos abordava
a arborização urbana, sua história
e funções, bem como a importância do seu
planejamento. Também descrevia a estrutura de uma árvore, o planejamento da
produção de mudas, do plantio, as espécies adequadas, a implantação de jardins
e canteiros; o planejamento da poda, as causas da redução da cobertura vegetal
e os problemas de saúde das árvores. Aquele caderno registrava o conhecimento
sobre a arborização urbana e contribuía para a educação ambiental.
Um amplo programa de poda de
arvores para evitar riscos à segurança e conflitos com moradores foi realizado
e auditado tecnicamente.
Projeto Verde Vivo
Esse conjunto de iniciativas,
englobado sob o título de Projeto Verde Vivo foi um dos momentos da historia da
cidade em que mais atenção se deu ao tema das áreas verdes urbanas, bem antes
do assunto ter entrado na agenda ambiental devido ao aquecimento das cidades e
à necessidade de ter áreas livres para
uso público, relevante para garantir a qualidade de vida da população. E
bem antes também da pandemia de 2020 que mostrou com clareza a importância das
áreas verdes públicas para a saúde da população urbana.