Maurício Andrés Ribeiro
Bilhões de
pessoas ficaram em casa durante as quarentenas e lockdowns durante a pandemia
do coronavirus.
Os espaços
dentro das moradias precisaram dar lugar ao escritório de trabalho (home
office). Precisaram
se adaptar para receber computadores e mesas de trabalho, com isolamento
acústico para prover as condições de concentração e atenção adequadas, com acesso
à conexão na internet e infraestrutura elétrica para ligar os computadores e os
carregadores de baterias.
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Um precursor do home office: o sobrado colonial. Mariana.MG. |
Os antigos sobrados nas cidades coloniais foram
precursores do home office, pois tinham o comércio embaixo, com as lojas
voltadas para a rua, e a residência na parte de cima. A versão moderna disso é o teletrabalho
em casa.
Para os estudantes, crianças e jovens, a casa tornou-se
o espaço de estudos e do ensino à distância.
A casa tornou-se, ainda, o espaço
de entretenimento, cultura e lazer, com a grande oferta de filmes, series,
lives e shows em streaming que podem ser vistas a qualquer hora com baixo
custo. Espaços culturais que implicam em adensamento como salas de cinema,
teatros, centros culturais, museus, se esvaziaram.
Entretanto, há bilhões
de pessoas que não dispõem de casas com espaços suficientes para abrigarem
essas novas funções. O adensamento e a sobrepopulação (overcrowding) em
pequenos ambientes afeta a saúde individual e coletiva. Os seres
humanos e os demais seres vivos animais sofrem consequências similares quando
vivem em superadensamento em ambientes sem condições adequadas de higiene.
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Proxêmica: distâncias íntimas, pessoais, sociais e públicas. |
O
antropólogo E.T. Hall, criador da proxêmica,
a ciência das distâncias, abordou as disfunções de comportamento de animais
mantidos em ambientes densos. O adensamento em que são mantidos confinados
animais de produção (vacas, porcos, aves), provoca neles um estresse que baixa a sua
imunidade a infecções e provoca a multiplicação de patógenos. Passa a ser
necessário dar-lhes antibióticos para que não adoeçam. Doenças do
adensamento acontecem em favelas e
comunidades hiperdensas nas quais as edificações onde moram as pessoas não são ventiladas
ou iluminadas adequadamente.
A necessidade de isolamento físico para evitar
contaminações levou a mudanças profundas nos requisitos para a arquitetura.
A indoor pollution, a poluição em ambientes com ar
condicionado, sem renovação do ar ou sem manutenção adequada, aumentam o risco
de se contrair doenças respiratórias.
Higiene das habitações era uma disciplina na arquitetura
que valorizava a ventilação natural e a iluminação natural, fatores que ajudam
a manter o ar de boa qualidade para a respiração e a evitar doenças. Com a pandemia, revalorizou-se o
acesso ao sol, com varandas e balcões iluminados; a luz do sol é valiosa para higienizar e matar bactérias; evitar o adensamento,
ter espaços para colocar os sapatos ao entrar em casa e para lavar as mãos, tornaram-se requisitos essenciais para proteger a saúde
física. Prover os espaços adequados para as casas abrigarem essas novas
atividades ajuda a manter a saúde mental e emocional de seus moradores.