quinta-feira, 21 de maio de 2020

A pandemia e a proxêmica, a ciência das distâncias


Mauricio Andrés Ribeiro
Nos anos 60  o antropólogo canadense Edward T. Hall escreveu dois livros  sobre um campo de estudos inovador,  a Proxêmica. Em “The silent language” e “The hidden dimension”, ele estudou o que as distâncias significam na comunicação verbal e não verbal.  Hall distinguia entre as zonas íntimas (que acontecem no abraço, no toque, no sexo ou na luta corporal- até 45cm), as zonas pessoais em que  pessoas ficam próximas umas das outras (até 120cm); as zonas sociais para interação entre conhecidos ( até 3,5m), até as zonas públicas (acima de 3,5m). A percepção das distâncias varia de cultura para cultura. Pessoas  em  algumas culturas se sentem psicologicamente mais desconfortáveis com a proximidade do que em outras.  A  proxêmica trabalha com a invasão dos territórios pela intimidade e pela proximidade corporal.
O distanciamento corporal, segundo a Proxêmica

O adensamento, mostrou E.T Hall em seus livros, provoca comportamentos patológicos, como entre ratos numa caixa. Quando se adensamento é excessivo passam se comportar de modo  autodestrutivo e agem como se estivessem instintivamente tentando reduzir o adensamento agredindo os demais ou matando-os.
Designers, arquitetos e urbanistas que lidam com o projeto de espaços em várias escalas usam os conhecimentos da proxêmica. Médicos, infectologistas, epidemiologistas, psicólogos, profissionais da segurança pública e privada também lidam com as distâncias e proximidades.
A Proxêmica adquire um significado especial num período de pandemia, em que vírus se aproveitam da proximidade física entre as pessoas para se movimentar pelo ar e contaminarem outras pessoas.
Como forma de combater a disseminação do vírus, os epidemiologistas recomendam o distanciamento social. Trata-se de um distanciamento físico e corporal, já que hoje, as modernas tecnologias, a internet e a TV, intensificam e mantêm a proximidade social das pessoas conectadas entre si e com o mundo. As telecomunicações alteraram a noção de distância. pois virtual e eletronicamente estamos próximos do que acontece no noutro lado do mundo, nessa aldeia global em que a educação  à distância, o trabalho à distância, o lazer  por meio de filmes e músicas em streaming e outras atividades são possibilitadas pela tecnologia e pela internet.
Além de um distanciamento corporal, uma pandemia induz a um maior distanciamento de grupos, para viverem em comunidades longe dos centros urbanos adensados. Uma pessoa que esteja numa fazenda numa área rural pode estar distante fisicamente das demais, mas se está conectada ao mundo pela internet pode continuar interagindo socialmente com elas como se estivesse na porta do apartamento vizinho numa grande cidade.
Questões de saúde estão envolvidas com o distanciamento. Numa comunidade favelada urbana muitas doenças do adensamento acontecem – tuberculose, pneumonia e outras. Tais doenças acontecem quando se adensa demais a ocupação de uma área e ela passa a ter problemas de iluminação, falta de higiene ambiental, ventilação precária, afetando o sistema respiratório das pessoas que ali vivem.
Uma distância é colocada entre reis, governantes e o povo, para garantir a segurança das autoridades. Quando se transgride essa regra básica de segurança pela distância, está-se mais sujeito a ser atacado. O cumprimento indiano do Namasté tem origem em questões segurança para evitar os riscos a que uma pessoa se expõe ao dará mão ou abraçar um desconhecido que pode atacá-lo. 
As distâncias cerimoniais exigem simbolicamente mais distanciamento, até mesmo por razões de segurança. Numa aglomeração em que as pessoas estão próximas umas das outras fica difícil garantir sua segurança contra terrorismo, ataques, violências físicas.
A distância é um modo de aumentar a segurança: Mantenha distância, se lê em para-choques de caminhões, recomendando ao motorista de trás que não se aproxime demais, evitando riscos de colisão e acidentes.
O distanciamento por razão de segurança




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