A prudência diante do
coronavirus aconselha lavar as mãos, usar máscaras, fazer isolamento físico.
Com isso reduzem-se os riscos de se contrair
a doença, ter sequelas e morrer. Atitude imprudente ou temerária vai no
sentido inverso. Quando se reduzem os cuidados preventivos aumentam os riscos
de contrair a doença. Quando se perde a paciência com os isolamentos e
quarentenas e se transgridem os protocolos de segurança sanitária fica-se
exposto aos riscos e à contaminação. Atitudes
prudentes na vida individual, baseadas em conhecimentos práticos de como
se comportar, ajudam na sobrevivência e manutenção da saúde.
Na vida coletiva,
atitudes preventivas baseadas no conhecimento podem reduzir os riscos da
sociedade se expor a situações de insegurança biológica. Existe crescente
quantidade de conhecimento à disposição da sociedade para orientar
comportamentos prudentes.
Prevenir a sociedade
contra a vinda de novas pandemias pode evitar mortes e sofrimentos, além de
reduzir custos econômicos. Os benefícios da prevenção são maiores do que os
prejuízos causados por uma pandemia como a Covid-19. Proteger os
habitats de animais silvestres e alterar o relacionamento humano com os animais
são modos econômicos e ecológicos de prevenção de pandemias. A redução dos
desflorestamentos e o controle do comércio de animais silvestres são mais baratos
do que controlar uma pandemia depois que se instalou. O artigo Ecologia e
economia para a prevenção das pandemias mostra que investimentos para
prevenir o desflorestamento tropical e limitar o comércio de animais silvestres
protegem contra futuras explosões de zoonoses (Science, 24-july 2020, vol. 369 issue 6502 p. 379 e
seguintes.) Com o desmatamento, por exemplo na Amazônia, o contato de
espécies de animais silvestres com animais domésticos e com humanos se
intensifica e aumentam os riscos de transbordamento de vírus (spillovers). Prevenir
pandemias pode custar 2% do custo da Covid-19. Postergar uma estratégia global
para reduzir os riscos de pandemia pode levar a custos muitos altos.
Mudar a relação com a natureza, com os
animais silvestres, evitar desmatar, desocupar áreas já ocupadas e
deixá-las regenerar e se restaurar, são algumas ações para prevenir pandemias.
Estão
relacionados entre si os diversos aspectos
de uma saúde integral: humana, dos animais,
saúde ambiental, física, mental,
emocional, espiritual. Doenças atingem os seres humanos com a destruição de habitats naturais
em que vivem várias espécies de animais.
Mercados de animais silvestres são locais
que facilitam a difusão de epidemias. Tais mercados precisam ser
eliminados e redes de implementação de
vida silvestre precisam ser
implementadas. Hábitos de comer animais silvestres em larga escala facilitam a
difusão de doenças. Na China a criação
de animais silvestres em cativeiro foi
banida em fevereiro de 2020.
A pandemia evidenciou a
importância de tornar mais
respeitosa a relação humana com os animais, e de reequilibrar
a relação com a natureza.
Ela chamou a atenção para a necessidade de reduzir a caça, a matança, bem
como o tráfico de
animais silvestres, que
traz risco ecológico, sanitário e humanitário.
Investir
em
prevenção das próximas pandemias requer conhecimento, capacitação e
recursos financeiros. Exige prontidão para prevenir o alastramento de doenças e
mortes, com pessoas capazes de atender prontamente a situações emergenciais. É sábio capacitar os agentes de defesa para lidar com a
segurança biológica, ecológica, climática e ambiental e prover os recursos
necessários para enfrentar os novos riscos a que estão expostas as populações.
O
princípio da precaução presente na Declaração do Rio de 1992 afirma que,
na ausência de certeza científica, o risco de um dano irreversível requer
medidas que o previnam. Esse princípio garante contra riscos potenciais que não podem ser ainda identificados por falta de
conhecimento. Defender-se
de tais riscos, por meio de ações preventivas e não apenas reativas pode reduzir
prejuízos econômicos e sociais.
Governos e populações
locais têm um papel relevante para prevenir emergências.
Ações
preventivas podem evitar a ocorrência da tragédia. Num Titanic que afunda ou
num avião em queda, o passageiro tem pouco a fazer para evitar o desastre. A prevenção de próximas
pandemias depende de uma mudança cultural e de consciência ecológica que torne
menos cruel a relação dos humanos com os animais, que proteja habitats de espécies silvestres e reduza o carnivorismo.
A
prudência é uma atitude ecológica que reduz custos sociais e econômicos.
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