domingo, 6 de dezembro de 2020

A respiração universal na cosmovisão hindu e a expansão e contração na teoria científica.

 

O Big Bounce ou Grande rebote se assemelha à cosmovisão hindu da respiração de Brahma

Maurício Andrés Ribeiro

Ciência e  tradições  espirituais formularam diversas narrativas sobre o início do universo. Pela teoria do Big Bang o universo teria aparecido a partir de uma grande explosão e continua se expandindo.  Já a teoria do Big Bounce (Grande rebote ou grande salto) propõe que o atual universo se expande depois de uma contração do anterior. Ela se aproxima da intuição dos antigos sábios hindus.

Na cosmovisão hindu o tempo é compreendido como fenômeno cíclico e o universo se expande e se contrai. A criação de cada universo pressupõe a destruição do anterior, de acordo com o ritmo da respiração do deus Brahma, que, ao expirar cria o universo e ao inspirar o recolhe. Assim, ao respirar,  ele regula os ritmos universais. Nessa concepção, o Big Bang seria apenas o ponto inicial de mais uma expansão, depois dele ter-se contraído, um momento do respirar de Brahma ocorrido há quatro bilhões de anos.  Nessa cosmovisão, Brahman, o espírito universal, se conecta com Atman, a alma de cada ser vivo. O espiritualismo da cultura indiana se ancora na matéria, vista como corporificação do espírito. O universo respira, a Terra respira e cada ser vivo respira em movimentos  alternados de contração e de expansão.

As cosmovisões dos indígenas americanos, incas e maias, incorporam essa dimensão espiritual e a importância do ser estar  conectado ao cosmos. A dimensão cósmica abre a sensibilidade para a transcendência.

A pandemia nos colocou diante da morte e das perdas de todo tipo e com isso abriu  espaço para múltiplas narrativas que orientam a compreensão que cada pessoa tem da realidade, sua atitude e as ações que pratica.

Aos 101 anos James Lovelock, que concebeu a teoria de Gaia, pensa sobre a pandemia e como nós humanos somos alimentos para os vírus. Ele propõe modos de estabilizar o clima e constata que a biosfera se encontra no  último centésimo de sua existência. Para ele, Deus é uma centelha que está dentro de cada um e de onde vem a intuição.  Nesse ponto ele converge com o Namastê, o tradicional cumprimento indiano que significa: “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti.” Trata-se de cosmovisão distinta daquela que coloca Deus acima de todos, longe e no alto. Ele expressa uma cosmovisão includente e generosa.

A pandemia impulsionou práticas de  Ioga  como modos de prevenir  distúrbios mentais associados aos riscos de perdas econômicas e afetivas que ela traz. A dimensão espiritual da ecologia se tornou mais evidente para além dos aspectos pragmáticos.

O sistema respiratório humano é o mais diretamente afetado  pelo coronavirus. A respiração de Gaia está sendo afetada pela emergência climática. A terra está febril e ofegante. A respiração universal continua, em movimentos caórdicos que regem a evolução, nos quais o pêndulo oscila de um lado para o outro, do caos à ordem e de novo ao caos, com suas expansões e contrações.

 

 

 

 

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