O Big Bounce ou Grande rebote se
assemelha à cosmovisão hindu da respiração de Brahma
Maurício
Andrés Ribeiro
Ciência
e tradições espirituais formularam diversas narrativas
sobre o início do universo. Pela teoria do Big Bang o universo teria aparecido
a partir de uma grande explosão e continua se expandindo. Já a teoria do Big Bounce (Grande rebote ou grande salto) propõe que o
atual universo se expande depois de uma contração do anterior. Ela se aproxima
da intuição dos antigos sábios hindus.
Na
cosmovisão hindu o tempo é compreendido como fenômeno cíclico e o universo se
expande e se contrai. A criação de cada universo pressupõe a destruição do
anterior, de acordo com o ritmo da respiração do deus Brahma, que, ao expirar
cria o universo e ao inspirar o recolhe. Assim, ao respirar, ele regula os ritmos universais. Nessa
concepção, o Big Bang seria apenas o ponto inicial de mais uma expansão, depois
dele ter-se contraído, um momento do respirar de Brahma ocorrido há quatro bilhões de
anos. Nessa cosmovisão, Brahman, o espírito
universal, se conecta com Atman, a alma de cada ser vivo. O
espiritualismo da cultura indiana se ancora na matéria, vista como
corporificação do espírito. O universo respira, a Terra
respira e cada ser vivo respira em movimentos alternados de contração e de expansão.
As cosmovisões dos indígenas
americanos, incas e maias, incorporam essa dimensão espiritual e a importância
do ser estar conectado ao cosmos. A
dimensão cósmica abre a sensibilidade para a transcendência.
A
pandemia nos colocou diante da morte e das perdas de todo tipo e com isso
abriu espaço para múltiplas narrativas
que orientam a compreensão que cada pessoa tem da realidade, sua atitude e as
ações que pratica.
Aos
101 anos James Lovelock, que concebeu a teoria de Gaia, pensa sobre a pandemia
e como nós humanos somos alimentos para os vírus. Ele propõe modos de
estabilizar o clima e constata que a biosfera se encontra no último centésimo de sua existência. Para ele,
Deus é uma centelha que está dentro de cada um e de onde vem a intuição. Nesse ponto ele converge com o Namastê, o
tradicional cumprimento indiano que significa: “O Deus que habita em mim saúda
o Deus que habita em ti.” Trata-se de cosmovisão distinta daquela que coloca
Deus acima de todos, longe e no alto. Ele expressa uma cosmovisão includente e generosa.
A pandemia impulsionou
práticas de Ioga como modos de prevenir distúrbios
mentais associados aos riscos de
perdas econômicas e afetivas que ela traz. A dimensão espiritual da ecologia
se tornou mais evidente para além dos aspectos pragmáticos.
O
sistema respiratório humano é o mais diretamente afetado pelo coronavirus. A respiração de Gaia está
sendo afetada pela emergência climática. A terra está febril e ofegante. A
respiração universal continua, em movimentos
caórdicos que regem a evolução, nos quais o pêndulo oscila de
um lado para o outro, do caos à ordem e de novo ao caos, com suas expansões e
contrações.
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