quinta-feira, 12 de maio de 2016

O modo caórdico da evolução da vida



“Não há a menor dúvida em minha mente que caórdicos nós somos, caórdicos nós vamos permanecer, caórdico o mundo é, e caórdicas as nossas instituições tem que se tornar. É o caminho da vida desde o começo do tempo e o único caminho para um mundo sustentável nos séculos por vir, enquanto a vida continua a evoluir para uma sempre crescente complexidade. ”
 Dee Hock, fundador do cartão Visa
                                           
Caórdico é o comportamento de sistemas autogovernados, organismos ou organizações que combinam características ordem e de caos.  Ele não é dominado nem pelo caos nem pela ordem. É um princípio organizador básico da natureza e da evolução.
O caórdico resulta da interseção entre o caos e a ordem. É um espaço proativo, em que não se sabe a priori o que vai ocorrer, aberto à diversidade, à capacidade de auto-organização, à coragem para a inovação, a criatividade e a vida.
O espaço caórdico é um espaço de aprendizagem, no qual se aproveita a sabedoria e a inteligência coletiva, um espaço de liderança participativa e de inovação. Ele pode ser criativo e alimentar-se das divergências, características distintas da ordem, interconectada e convergente.
Ele supera a insegurança, a ansiedade, o medo e  mostra que ordem e controle produzem mais do mesmo, de modo opressivo, inflexível, egocêntrico, cortando possibilidades de inovação. Por outro lado, mostra que o chamos (o colapso, o extremo destrutivo e agressivo do caos) fragmentado, leva à apatia e ao desencorajamento.
A figura 1 sintetiza essa ideia de dinamismo associada aos processos caórdicos.


O pêndulo da dinâmica da realidade oscila entre o caos e a ordem. Em alguns momentos predomina o caos, em outros prevalece a ordem. A psicologia humana,  a sociedade e a natureza evoluem de acordo com tais oscilações. Os sistemas vivos sociais, os processos psicológicos e de funcionamento de organizações seguem um processo caórdico.
A momentos ultra caóticos se sucedem momentos que clamam pela ordem e o controle. A recusa ao controle e à ordem  que procuram preservar o velho pode levar a movimentos anárquicos, caóticos, abertos ao novo.
A teoria do caos postula que uma pequena mudança pode levar a resultados de grande escala, como por exemplo no efeito borboleta que ao bater as asas numa parte do planeta, pode levar a ocorrência de furacões em outra parte distante. Uma micro mudança num local pode induzir a ocorrência de macro mudanças bem longe dali.

Jared Diamond escreveu o livro Colapso, em que descreve como algumas sociedades, a exemplo dos povos que habitavam a ilha de Páscoa escolheram o fracasso, o chamos, o caos destrutivo. Ele mostra como outras sociedades, a exemplo da japonesa ou a da ilha de Tikopia, no pacifico Sul, souberam aproveitar o espaço de inovação e de criação entre o caos e a ordem e, com coragem e lucidez, escolheram um caminho que as fez escapar do colapso e do caos destrutivo.
Crises tais como desastres naturais e crises econômicas podem levar a reações, paralisia e medo, mas podem também levar à identificação e aproveitamento de novos recursos, abrindo espaço para o novo.
A destruição criadora é representada na mitologia hindu pela figura de Shiva, o deus da criação e da destruição que, dançando, destrói o velho para construir o novo. 




Figura: Shiva Nataraj,  dançando destrói o velho e cria o novo.
A combinação de caos e ordem pode gerar frutos criativos, abertos à inovação. O trabalho em rede, coletivo, pode se mover entre o caos e a ordem. Espaços de fraternidade, a economia colaborativa e solidaria, a micropolítica, as revoluções moleculares, a criatividade artística, cientifica se realizam a partir do caórdico.
As organizações caórdicas se baseiam em princípios e propósitos duradouros, claros. Elas  se auto organizam e se autogovernam, mas são maleáveis em sua forma e função; distribuem equitativamente o poder, os direitos, responsabilidades e recompensas, combinam de modo harmonioso a cooperação e a competição. Valorizam o sentido da vida,  a missão, a tarefa que cada um tem o direito e o dever de realizar. Mas direitos e deveres são ideias europeias Dharma é a concepção indiana que torna direitos e deveres uma só coisa.

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