quarta-feira, 25 de julho de 2018

Normoses, seus impactos ecológicos e sua superação.


Maurício Andrés Ribeiro
O rodoviarismo como uma normose que congestiona as cidades.Ilustração Cláudio Martins.
 
Consumismo, viajismo, carnivorismo são hábitos ecologicamente destrutivos. São considerados normais, mas a partir de uma abordagem ecológica podem ser vistos como doenças que causam danos ambientais. Por ignorância ou inconsciência praticam-se atividades que danificam o ambiente, que se caracterizam como normoses, uma modalidade de doença psíquica mais difusa e branda do que as neuroses ou as psicoses. Quem as pratica são os normopatas, assim como as neuroses são exercidas por neuropatas e as psicoses por psicopatas.
Jean Yves Leloup, Pierre Weil e Roberto Crema definem uma normose como “o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir aprovados por um consenso ou pela maioria de uma população e que levam a sofrimentos, doenças ou mortes. São patogênicos ou letais, e são executados sem que os seus atores tenham consciência desta natureza patológica, isto é, são de natureza inconsciente. As normoses são estágios ainda não percebidos pela sociedade como doenças, tais como as neuroses ou psicoses.”
Posturas ou modelos mentais como o do especismo, que discrimina as demais e privilegia apenas a espécie humana entre as demais, influenciam nos comportamentos insensíveis que prevalecem na sociedade. Hoje ainda se considera as guerras como atividade normal apesar de sua destrutividade intrínseca e dos danos que causam ao ambiente natural e construído. O belicismo é atitude politicamente aceita e o armamentismo uma dinâmica economicamente valorizada. São normoses.
Numa cidade convive-se com injustiças sociais e econômicas, com situações que geram poluições ambientais e afetam a saúde individual e coletiva. Por insensibilidade, anestesia, enrijecimento, ou conformismo fecha-se os olhos para tais questões.  São normoses o rodoviarismo, os congestionamentos de automóveis que entopem as ruas, desperdiçam combustíveis e energia, poluem o ar, aumentam o tempo de deslocamento das pessoas, prejudicam sua qualidade de vida.
A cidade e a arquitetura de alto consumo de energia e alto índice de emissão de carbono agravam os desequilíbrios climáticos e ambientais. O mimetismo de padrões urbanos e arquitetônicos de climas frios é uma normose quando se aplica a climas tropicais.
Há normoses que perpetuam injustiças sociais. Em sociedades no passado o escravagismo era normal, com a compra e venda de seres humanos. O abolicionismo ajudou a extirpá-la. O racismo foi uma normose até que se tomou consciência de que é um problema. O colonialismo foi uma normose até que os movimentos pela independência o questionaram e levaram a sua extinção.
Há hábitos que prejudicam a saúde física. Assim, o sedentarismo é crescentemente percebido como um estilo de vida pouco saudável e passa a ser combatido.  O tabagismo foi considerado normal até que foi associado ao câncer de pulmão e campanhas de combate ao câncer evidenciaram tratar-se de hábito nocivo.
A superação das normoses se inicia com a tomada de consciência de cada pessoa que, quando desperta, deixa de se deixar levar por comportamentos imitativos, automaticamente.  A partir dessa autocritica e capacidade de discernimento avolumam-se críticas a tais hábitos.
Burocratismo, industrialismo, produtivismo são normoses. Serão superados quando crescer a percepção dos problemas a eles associados e quando a sociedade desenvolver a vontade e os meios para deixá-los para trás. Como outras normoses, quando se tornarem psicologicamente impossíveis, desaparecerão.

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