O capitalismo não existiria sem
os capitalistas. Quem são os
capitalistas? São as pessoas físicas ou jurídicas que investem, compram ações e
buscam o lucro. Se você é aposentado ou pensionista e um fundo de pensão
gerencia suas aplicações, você também é um capitalista.
Os capitalistas em geral desejam
o lucro máximo para suas aplicações financeiras. Para isso colocam à frente de
empresas e corporações em que investem pessoas capazes de extrair o máximo de
lucro com o mínimo de custos. Essas pessoas são em geral remuneradas
proporcionalmente ao lucro e dividendos que proporcionam aos donos do capital,
os acionistas e investidores. No afã de maximizar lucros muitas vezes praticam
a gestão temerária, assumindo riscos para a segurança do trabalhador ou
para a segurança ambiental, e
assumindo-se riscos de provocar desastres. Há exemplos recentes disso na
atividade de mineração.
Nas relações econômicas a defesa
intransigente do lucro, a ganância, a externalização de custos para os demais e
a internalização de benefícios são exemplos de comportamentos egoístas. Na
busca de internalizar lucros as empresas
externalizam custos que recaem sobre a sociedade de modo difuso e sobre o meio
ambiente. Numa contabilidade integral que internalizasse custos muitas empresas
deixariam de ser lucrativas.
Acionistas ativistas protestam em frente à sede da Billiton na Austrália após o desastre de Mariana. |
Chefes de 130 bancos que movimentam US$47 trilhões também reafirmam compromissos com sustentabilidade ambiental, proposta que já existia desde o protocolo verde no Brasil e a declaração de Colevecchio.
Será que os capitalistas estão descobrindo que o egoísmo dá prejuízo? Quando perguntei isso numa rede social, varias respostas demonstraram desconfiança, denunciaram que seria greenwashing, maquiagem verde, e desacreditaram de tais propostas.
Os capitalistas sempre buscam o lucro, mas há sinais de alguma mudança no topo de empresas. Chefes de 181 corporações americanas em 2019 assinaram um documento no qual se comprometem a priorizar os interesses não apenas dos acionistas e investidores (shareholders) mas também dos demais interessados naquela empresa (stakeholders). Propõem investir nos empregados, lidar eticamente com fornecedores, apoiar as comunidades em que trabalham e preservar o meio ambiente, além de gerar valor para os acionistas.
As diversas partes interessadas numa corporação. Os investidores e acionistas tem sido priorizados sobre os interesses das demais partes. |
Pode-se perguntar:
Será veraz esse compromisso ou serão apenas palavras da boca para fora sem materialização prática na realidade?
Os chefes estariam dispostos a abrir mão de suas receitas para beneficiar a coletividade?
As corporações deveriam mudar seus critérios de remuneração, dando melhores retornos aos dirigentes que beneficiem a todas as partes interessadas (stakeholders ) e não apenas aos acionistas e investidores ( shareholders)?
Esses dirigentes (CEOs) serão
capazes de colocar essas ideias em prática em suas corporações?
Eles serão capazes de contagiar positivamente outras corporações para que abracem tais ideias e atitudes?
Ao assinar tais compromissos, esses dirigentes de corporações americanas se
aproximam dos acionistas engajados ou "concerned shareholders." Eles serão capazes de contagiar positivamente outras corporações para que abracem tais ideias e atitudes?
O movimento de acionistas engajados aponta na mesma direção do manifesto dos CEOs de grandes corporações: beneficiar todas e cada uma das partes interessadas nas atividades de um empreendimento e não apenas os detentores do capital. Em contexto em que os atores externos não querem ou não podem atuar, um caminho possível é a ação de dentro para fora nas corporações. Os movimentos de acionistas ativistas ou acionistas engajados participam de assembleias das empresas e levam ali suas questões e propostas.
Esses dois movimentos, dos chefes de corporações e dos acionistas ativistas sinalizam para uma convergência pós-egoísta.
Quando os acionistas/investidores, detentores do capital, não forem mais tratados como stakeholders privilegiados e as demais partes interessadas tiverem prioridade, estaremos migrando em direção ao pós capitalismo. A questão central é se é possível migrarmos de comportamentos egoístas para comportamentos pós egoístas seja no capitalismo ou em qualquer outro tipo de contexto socioeconômico.
Alguns empresários se mexem quando vêm ameaçados seus mercados consumidores no
exterior e partem para uma ação não propriamente altruísta, mas de um egoísmo
mais esclarecido e proteger seus interesses. Talvez esse seja um passo
intermediário para se evoluir em direção à seva, ação desinteressada.
Os links abaixo sobre acionistas engajados ou acionistas ativistas (concerned shareholders) informam sobre um tipo de ator que pode ter importância crescente, ao atuar de dentro para fora das corporações, influenciando decisões em assembleias.
Os capitalistas podem estar-se ecologizando. Sinais disso pipocam em toda parte. Ainda são poucos, mas estao crescendo. Por razões contábeis, econômicas, práticas e de um egoismo mais esclarecido e não por motivações éticas, filosóficas, altruístas. Do mesmo modo como a abolição da escravatura começou pequena e culminou décadas depois com a libertação dos escravos, pode ser que estejamos no inicio de um movimento que um dia poderá dar bons frutos, com a domesticação do capital.
Os links abaixo sobre acionistas engajados ou acionistas ativistas (concerned shareholders) informam sobre um tipo de ator que pode ter importância crescente, ao atuar de dentro para fora das corporações, influenciando decisões em assembleias.
Os capitalistas podem estar-se ecologizando. Sinais disso pipocam em toda parte. Ainda são poucos, mas estao crescendo. Por razões contábeis, econômicas, práticas e de um egoismo mais esclarecido e não por motivações éticas, filosóficas, altruístas. Do mesmo modo como a abolição da escravatura começou pequena e culminou décadas depois com a libertação dos escravos, pode ser que estejamos no inicio de um movimento que um dia poderá dar bons frutos, com a domesticação do capital.
6 comentários:
Muito importante o seu artigo. Também compartilho a visão de um capitalismo 'sem egoísmo'. Pessoalmente desconfio de todas as 'declarações de intenções' e também da pretensão de 'controlar' as atividades alheias. Creio na consciência humana que se desenvolve e se aprimora com autonomia e através do nosso próprio exemplo. Podem as grandes corporações serem administradas como dignas e verdadeiras famílias cristãs, arriscaria eu? Senão o egoísmo, então o quê? Só nos resta a caridade, o valor cristão por excelência. Que não dispensa a maturidade, a justiça e o discernimento.
Gostaria de fazer duas postagens aqui, porém os comentários não estão habilitados a recebê-los.
https://luzdoespiritismo.com/o-livro-dos-espiritos/livro-terceiro-as-leis-morais/cap-xii-perfeicao-moral/iii-egoismo-perguntas-913-917-o-livro-dos-espiritos
Que é preciso fazer para destruir o egoísmo?
O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo nos faculta, do nosso estado futuro. O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, mostra-nos as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, isso necessariamente combate o egoísmo, uma tarefa que compete à educação, não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a arte de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação.
(Allan Kardec – O Livro dos Espíritos, questões 914 a 917.)
136. A destruição do egoísmo e do orgulho é um objetivo possível? Kardec diz com convicção, alta e ousadamente: Sim; de outro modo seria preciso colocar uma suspensão no progresso da Humanidade. O homem cresce em inteligência, é um fato incontestável; chegou ao ponto culminante que não poderia ultrapassar? Quem ousaria sustentar essa tese absurda? Progride ele em moralidade? Para responder a esta pergunta, basta comparar as épocas de um mesmo país. Por que, pois, teria alcançado o limite do progresso moral antes de atingir o limite do progresso intelectual? Sua aspiração para uma ordem de coisas melhor é um indício da possibilidade de a isso chegar. Cabe aos homens progressistas ativar o movimento pelo estudo e pela prática dos meios mais eficazes. (Obras Póstumas – Liberdade, Igualdade, Fraternidade.)
O EGOÍSMO E O ORGULHO
– SUAS CAUSAS, SEUS EFEITOS E OS MEIOS DE DESTRUÍ-LOS –
https://1drv.ms/w/s!ArKybDEh7EVHi7Yt7QNeKzaNZstfIQ?e=mixvnW
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos ANO XII JULHO DE 1869, N° 7.
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