A gestão integral do ciclo da água (GICA) é mais do que gestão integrada de recursos hídricos (GIRH)

  GICA É MAIS DO QUE GIRH

A gestão integrada de recursos hídricos (GIRH) e a gestão integral do ciclo da água (GICA) são abordagens diferentes e a primeira está contida na segunda.

Atualmente procura-se praticar a Gestão integrada de recursos hídricos (GIRH) que envolve uma insignificante fração do volume total de água no planeta e uma fração mínima das águas doces. Esse trabalho, ainda que importante, é insuficiente para dar respostas aos crescentes problemas climáticos que envolvem as águas  e que tem  sua origem nos oceanos e nas águas celestiais. Muito já se realizou para a gestão das águas no Brasil, como demonstram as publicações, vídeos e relatórios. Mas os problemas de gestão se complexificam e as crises hídricas se tornaram mais agudas. Daí a importância de se ampliar a abordagem por meio da proposta de uma Gestão Integral do Ciclo da Água ( GICA). A GICA é bem maior e também bem mais complexa do que a GIRH.

A gestão integrada de recursos hídricos (GIRH)  compreende vários aspectos das águas superficiais e subterrâneas, especialmente a partir do enfoque utilitário e econômico de seu uso.  Em geral focaliza as águas doces utilizadas por atividades humanas e considera com menor ênfase as águas salobras e salinas. A GIRH é um processo que envolve a coordenação de diferentes setores e atores envolvidos na gestão dos recursos hídricos, incluindo governos, setor privado, organizações da sociedade civil e usuários da água. A GIRH visa garantir a gestão sustentável dos recursos hídricos, integrando as dimensões ambientais, sociais e econômicas, e promovendo a participação e o diálogo entre os diferentes atores. A GIRH inclui a elaboração de planos de bacia hidrográfica, bem como o uso de instrumentos de gestão como a outorga de uso da água e o enquadramento dos corpos d'água, além do monitoramento e avaliação da qualidade e quantidade de água.

A gestão integrada de recursos hídricos (GIRH) sofre limitações devido ao fato de  concentrar-se em partes do ciclo global da água, especialmente as águas superficiais e um pouco menos ainda, as águas subterrâneas, que correspondem a um percentual pequeno do total de águas no planeta. Os oceanos, as águas na atmosfera, as águas nos corpos vivos, estão excluídas da GIRH. Assim também, dimensões menos utilitárias das águas são excluídas quando elas são vistas e estudadas apenas como recursos, deixando em segundo plano sua proteção e preservação. Praticamente todo o volume de água do planeta – nos oceanos, na atmosfera, no permafrost, no gelo, nos seres vivos -   encontra-se fora do alcance da gestão de recursos hídricos, que prioriza a gestão das águas doces superficiais e as subterrâneas. Uma iniciativa no sentido de integrar melhor a gestão é a abordagem fonte-mar, que  ”inclui toda a área de terra drenada por determinado sistema fluvial, seus lagos e afluentes (a bacia do rio), aquíferos conectados e reservatórios a jusante, incluindo deltas e estuários, áreas e águas costeiras, o mar adjacente e a plataforma continental, bem como o oceano aberto.” Entretanto, mesmo essa abordagem não é integral pois não considera as águas atmosféricas, os fluxos de águas nos rios voadores que se evaporam a partir do mar e que fluem pelos continentes, chegando até as fontes. As águas atmosféricas frquentemente fluem no sentido inverso ao das águas superficiais, no que se pode chamar de abordagem mar-fonte.( Um exemplo: a umidade que vem do Atlântico e que penetra na Amazonia até os Andes).

Já a gestão integral do ciclo das águas (GICA) é uma abordagem que incorpora o conhecimento e a gestão da água na atmosfera, valoriza  o clima, a meteorologia e os oceanos. Valoriza a água como uma riqueza e um patrimônio, para além dos aspectos utilitários que a consideram como um recurso com valor econômico.  A gestão integral do ciclo da água propõe ideias para ver e tratar do tema de modo holístico, incluindo aspectos relevantes que são excluídos na tradicional abordagem da GIRH.

Em resumo, a GIRH é uma abordagem que visa a gestão sustentável dos recursos hídricos, enquanto a GICA enfoca o ciclo completo de todas as águas doces, salinas e salobras, superficiais, subterrâneas e atmosféricas.