A gestão integral do ciclo dA água vai além da gestão integrada de recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Uma gestão do ciclo integral envolve todos os aspectos, desde a água na atmosfera, as nascentes, a proteção florestal e o uso do solo, os oceanos. Isso agrega uma complexidade e uma dificuldade ainda maior aos já enormes problemas envolvidos com o gerenciamento integrado das águas subterrâneas e superficiais.
Uma abordagem holística e transdisciplinar considera o ciclo integral, inclusive sua fase meteórica ou na atmosfera, pois cada vez mais a gestão de recursos hídricos está dependente do clima e de suas variações. Tal gestão considera as interconexões entre o que ocorre quando ela escorre superficialmente, se infiltra nos solos e forma os lençóis subterrâneos e quando se encontra em estado meteórico, no vapor na atmosfera.
A gestão integral do ciclo considera todas as suas formas de presença na natureza: sólida, líquida; gasosa; meteórica, superficial e subterrânea. Ela exige uma compreensão ampla desse ciclo.
A gestão integral do ciclo da água depende de uma boa articulação entre o nível global, o federal, os estados e municípios, a partir de dados e informações compartilhados. Numa federação, cada ente tem suas responsabilidades. A chuva chove nos municípios, pois ela cai no território da bacia e quem cuida do uso e ocupação do solo são os municípios. Depois ela escorre para riachos e córregos estaduais e algumas vezes chega a rios federais. Quando ela se infiltra no solo passa a ser de domínio dos estados, que gerenciam as águas subterrâneas. Enquanto está na atmosfera, ninguém é responsável pelo seu gerenciamento.
Para se lidar de modo integral com a gestão do ciclo, é relevante reduzir as demandas nas diversas atividades econômicas, especialmente o consumo pelo usuário que mais a utiliza, a agricultura irrigada. Isso implica em inovar nas tecnologias e em atuar sobre a economia para reduzir as demandas excessivas que causam estresse hídrico. Implica em atuar sobre a cultura e os hábitos alimentares e de vida.
A gestão integral do ciclo da água articula seu planejamento e gestão numa perspectiva de longo prazo. Ela compartilha dados e sistemas de informação. Requisito importante para que ela se torne realidade é evoluir dos estudos técnicos especializados e dos conhecimentos da hidrologia, para a perspectiva de uma hidrologia integral, transdisciplinar, e daí para a Hidrosofia, ou seja, tratar a água com sabedoria. A gestão integral do ciclo das águas requer uma abordagem que leve em consideração todos os compartimentos do ciclo hidrológico — águas superficiais, subterrâneas, atmosféricas e oceanos — e também influências externas, como a gravidade lunar, que afeta as marés e, consequentemente, o ciclo da água.
O gerenciamento do ciclo integral das águas é um projeto potencial e virtual que se inicia com a hidratação das mentalidades, da sociedade, da economia, para que a civilização deixe de ser hidrocida, se torne hidrocêntrica, supere a hidroalienação.
É necessário promover a hidroconsciência na sociedade, de modo que os atuais e futuros governantes, empresários, representantes em conselhos de recursos hídricos ou em comitês de bacias, tenham sido educados para atuar de modo hidricamente responsável em cada um de seus campos de atividade. É necessário hidratar as consciências. É necessário investir no conhecimento e no desenvolvimento de instrumentos para dar conta de toda a variedade de problemas relacionados com o ciclo das águas.
A GICA é uma meta e um objetivo que progressivamente evolui e dá seus primeiros passos. Há uma longa caminhada pela frente para que ela se realize.
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