segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A Índia como um laboratório

Maurício Andrés Ribeiro

A Índia experimentou ao longo de sua história, com grande liberdade,  modos de oferecer respostas aos vários problemas com os quais se defrontou.
O experimentalismo na Índia se aplica em diversos campos da vida. A sociedade faz experiências consigo mesma, na sua forma de organização social, na sua psicologia, no seu modo de lidar com a consciência e com a espiritualidade.   É como se um espírito científico alimentasse a busca por autoconhecimento. Por isso indianos como Sri Aurobindo e Tagore consideram a Í 
ndia uma experiência única entre as várias civilizações humanas.
O cristianismo primitivo, introduzido na Índia pelo apóstolo São Tomé, o mais experimental dos discípulos de Jesus, que precisava ver para crer, foi distinto do cristianismo romano com seus dogmas, que  lá chegou há 500 anos com a colonização europeia.
Sadhu à margens do Ganges em Rishikesh. Liberdade de busca espiritual.
No Vedanta não se demanda das pessoas acreditarem em verdades ou dogmas, mas  estimula-se a experimentação, a vivência prática. A sociedade incentivou a liberdade de busca espiritual e de investigação religiosa de cada um, experimentando o seu caminho para a autorrealização.
Na  Satyagraha, Gandhi  fazia experiências com a verdade.
Os últimos passos  de Gandhi no Memorial em Delhi. Ele fazia experiências com a verdade.
As experiências com o corpo levaram ao desenvolvimento de pranayama, modos de respirar, ásanas, modos de ter posturas corporais, hábitos alimentares, uso de sons, formas, cores, conhecimento sobre a energia que flui no corpo (chacras) e conhecimento sobre as fases da vida no Kama sutra.
A respiração é elevada de um ato natural que um ser vivo realiza do momento em que nasce ao último suspiro, a um ato cultural consciente. Exercita-se  a respiração e como ela influi sobre os estados de consciência, sobre o corpo e a mente. Pranayamas, exercícios respiratórios  facilitam a  concentração e a atenção no aqui e agora. Uma boa respiração reduz estresse, hipertensão, depressão. Relaxa, produz boa irrigação sanguínea, oxigenação. A Índia desenvolveu a ciência e arte de respirar.
O Ioga, com sua ação sobre o corpo, a mente e as emoções, desenvolveu práticas e exercícios que expandem os limites humanos, desenvolvem a atenção e presença no agora, a concentração,  a criatividade nas artes e ciências.
A psicologia yogue faz experiências com níveis extremos da consciência e da supraconsciência, domínios em que não se aventura a  maior parte da psicologia ocidental (exceto a psicologia transpessoal).
Acumulou-se valioso conhecimento sobre a mente, na meditação e na alteração de estados de consciência. Ken Wilber (no livro Psicologia Integral, Pg. 30) escreve sobre os benefícios da meditação que torna o campo mental mais limpo; permite esvaziar a mente de pensamentos, emoções, crenças, percepções; entra em estados de consciência mais lúcidos, melhora a qualidade dos pensamentos; tira o supérfluo e deixa o essencial, permite acessar domínios superiores de forma deliberada e prolongada.
Formou-se em séculos e milênios de experiências um impressionante corpo de conhecimentos sobre o ser humano, seu corpo, sua mente, suas emoções, seus processos psicológicos. Esse corpo de conhecimentos está hoje à disposição do mundo globalizado, que chega a um estágio de crescimento populacional e adensamento em seu território similar ao que a Índia vivenciou no passado. Daí a razão da frase de Tagore, de que  O que a Índia já foi, o mundo todo é agora.”. Invadida e dominada por muitos e variados povos ela desenvolveu um know how de inclusão, de tolerância,  de hospitalidade e de adaptação valioso para o mundo moderno.
Até mesmo o polêmico e controverso sistema de castas que organiza a vida social foi um experimento da sociedade indiana consigo mesma. A Índia constituiu uma sociedade que nunca escravizou nem se deixou escravizar. Sobre esse sistema, Tagore observa  “O que os observadores ocidentais não conseguem discernir é que, em seu sistema de castas, a Índia seriamente aceitou sua responsabilidade de resolver o problema de raças de maneira a evitar toda fricção, e ainda assim oferecendo a cada raça liberdade dentro de suas fronteiras. Admitamos que a Índia não obteve nisso um sucesso absoluto. Mas também deve ser lembrado que o ocidente, situado mais favoravelmente quanto à homogeneidade de raças, nunca deu atenção a esse problema; sempre que confrontado com ele, tentou torná-lo mais fácil, ignorando-o." Num período em que proliferam fundamentalismos e fanatismos ideológicos e religiosos, que polarizam e criam conflitos violentos,  em que os migrantes são hostilizados ou enxotados, vale conhecer o know how indiano  de convivência das diferenças, da hospitalidade e de todos os aspectos do soft power indiano que trazem de modo difuso e discreto influências positivas para o mundo contemporâneo.
Essa civilização com mais de 4000 anos de experiência acumulou um patrimônio enorme de sabedoria e de conhecimentos. Muito desse patrimônio foi acumulado a partir de métodos experimentais, de tentativa e erro, de aproximações sucessivas, de incrementalismos.
A riqueza de um povo não é apenas material, financeira, econômica, ou o seu patrimônio natural,  mas principalmente seu patrimônio social, espiritual e cultural, intangível e imaterial.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Por quê a Índia tem uma leve pegada ecológica per capita?


 Maurício Andrés Ribeiro
A India tem cerca de 1 bilhão e 350 milhões de habitantes. Cerca de 1 bilhão de pessoas, que correspondem a 70% da população indiana, vivem em 600.000 aldeias. Nos anos 70 estudei uma dessas aldeias, Kenchankuppe, no estado de Karnataka, perto  de Bangalore.
 A aldeia é estruturada para produzir grande economia de recursos em atividades diárias: no mobiliário, nos objetos, nos hábitos vegetarianos, nas posturas corporais e no uso intensivo do corpo, Come-se com a mão direita, faz-se a higiene pessoal com a mão esquerda, senta-se no chão,  come-se em pratos de folha vegetal,  movimenta-se a pé, de bicicleta, usa-se o carro de boi,  usam-se modos de transporte que não dependem de combustíveis fósseis; o vestuário  tem poucas perdas de tecidos,  a arquitetura tem climatização natural, sacralizam-se os animais, o desenho das casas para abrigar os animais e recolher o precioso estrume como adubo nas plantações. a aldeia se supre nas vizinhanças de alimentos, água,  energia e materiais. Uma aldeia indiana é um dos modos de assentamento humano mais eficientes  e econômicos no uso de recursos da natureza. Faz-se mais com menos.
Escola ao ar livre em Kenchankuppe. Simplicidade e economia de recursos.
Se consideramos que essa aldeia é uma célula de um organismo mais amplo e que tais hábitos e práticas de vida também se adotam em milhares de outras, pode-se estimar a quantidade geral de recursos naturais que deixam de ser consumidos por tais hábitos frugais de vida. Um bilhão de garfos, facas e colheres a menos, um bilhão de cadeiras a menos, um bilhão de rolos de papel higiênico a menos, bilhões de litros de combustíveis  a menos, bilhões de toneladas de gases de efeito  estufa a menos são emitidas, bilhões de kilowatts de energia elétrica a menos para climatizar edificações etc. Tudo isso contribui para manter  muito leve a pegada ecológica per capita de um indiano médio.
O vegetarianismo é um habito alimentar que mantém leve a pegada ecológica indiana.
A pegada ecológica é o índice que mede a pressão dos seres humanos sobre a biosfera devido ao consumo e estilo de vida. Ela mede a quantidade de recursos que usamos e as emissões de  gases de efeito estufa que produzimos. Uma pegada ecológica leve produz baixa contribuição para a destruição ambiental. Já uma pegada ecológica pesada provoca  forte impacto ambiental negativo.
Ela é um instrumento de avaliação dos impactos antrópicos no meio natural, um indicador de sustentabilidade que permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar nosso estilo de vida.
Cada povo tem sua própria pegada ecológica medida  em hectares globais (hag) per capita. Ela varia enormemente de um país para outro. Assim por exemplo, um alemão   médio necessita de 5,1  hectares globais para se sustentar; um brasileiro, 2,9  hag; um chinês,  2,2 hag; um estadunidense,  8  hag; um  japonês, 4,7  hag. A média mundial é de 2,7  hectares globais.

Um Indiano precisa de apenas  0,9 hag  e a  India tem, pois,  uma leve pegada ecológica per capita. O indiano médio tem uma pegada ecológica  9 vezes mais leve do que um americano,  3 vezes mais leve que a pegada global ou brasileira. Seis planetas seriam necessários se cada indiano vivesse como um americano.
Seis planetas seriam necessários se um indiano vivesse como um americano
O indiano médio tem um crédito ecológico, pois  ameaça pouco a sustentabilidade global.
Por quê a Índia tem uma leve pegada ecológica per capita? Porque há 1 bilhão de pessoas com uma pegada ecológica extremamente leve.  A Índia tem 200 milhões de classe média e rica, com aspirações  e estilos de vida consumistas.
Esta leve pegada ecológica se deve a privação material ou a estilos de vida frugais? A ambos, mas a meu ver deve-se principalmente aos hábitos de vida frugais.
Estilos de vida frugais significam aplicar a inteligência e a habilidade para suprir necessidades materiais com uma mínima pressão ecológica e consumo reduzido de recursos naturais.
Fazem parte desse ecodesign sustentável a organização territorial descentralizada em aldeias, as famílias estendidas, a vida comunitária em milhares de ashrams ou comunidades que dispõem de cozinhas coletivas. A leve pegada ecológica per capita dos indianos decorre de frugalidade e sabedoria no modo de vida ecologizado, e não resulta apenas de pobreza econômica. Essa leve pegada merece ser mais bem compreendida e valorizada como um antídoto para a voracidade ocidental cujo peso machuca a Terra.
Isso está em sintonia com o que disse o Mahatma Gandhi: “A civilização, no verdadeiro sentido da palavra, não consiste em multiplicar nossas necessidades, mas em reduzi-las voluntariamente, deliberadamente.”

  
 

A cosmovisão indiana e sua contribuição para o futuro da humanidade

Maurício Andrés
Os povos que se estabeleceram no subcontinente indiano, ao invés de se ocuparem  com conquistas externas, voltaram-se para conquistas internas, para o autoconhecimento, a psicologia, a busca da conexão com o cosmos. Para tanto, precisaram conhecer a fundo o corpo e desenvolveram práticas de respiração, posturas corporais, alimentação, cuidados com a saúde física. Compreenderam a energia que existe no corpo vivo, compreendendo as funções dos chacras ou centros energéticos.
A energia no corpo humano, nos chakras concebidos pelos indianos.
Asanas ou posturas corporais no ioga  resultam de profundo conhecimento sobre o corpo e sua relação com a mente e as emoções.
Precisaram conhecer a fundo a mente, por meio de práticas e exercícios de meditação que expandem os limites humanos, desenvolvem a atenção e presença no agora, a concentração, a criatividade nas artes e ciências.  Desenvolveram práticas mentais por meio do ioga e das alterações de estados de consciência na meditação. Desenvolveram uma sofisticada psicologia e conhecimentos sobre as emoções. Coomaraswamy observa que para cada termo de psicologia em inglês há quatro em grego e quarenta e sânscrito. A psicologia yogue faz experimentações em faixas da consciência que não são aceitas pela maior parte dos campos da psicologia ocidental, exceto a transpessoal.
Os indianos desenvolveram uma elaborada filosofia e cosmovisão, permeada por conhecimentos espirituais. Na narrativa sobre a criação do universo, desenvolveram uma concepção cíclica do tempo, não linear. Conceberam  a narrativa de que os universos são criados conforme o ritmo da respiração de Brahman, o deus absoluto. A narrativa hindu da criação e da extinção do mundo tem grande similaridade com as concepções mais atuais da ciência, do big bang ao big bounce. Pode ser que um dia a ciência adote a narrativa da grande respiração.
A unidade humana é valorizada por seus grandes pensadores, tais como Gandhi, Sri Aurobindo e Tagore, para além das micro unidades nacionais ou regionais e das micro identidades que separam.  A arte indiana expressa a espiritualidade e a toma como motivo prioritário. A Vedanta, a sabedoria das escrituras sagradas, os Vedas, desenvolveu a concepção de que Deus está dentro de cada um e não apenas em cima e no alto. O Namasté é o cumprimento tradicional que reflete isso : O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti.” Sacralizaram bichos e arvores, rios e montanhas. Experimentaram de tudo e valorizaram a experimentação e não apenas o acreditar numa verdade externa dogmatizada.
Na Vedanta, Deus está dentro e práticas de meditação permitem acessá-lo.
Na relação com o tempo desenvolveram a paciência e a capacidade de evoluir sem sacrificar valores fundamentais como o das liberdades individuais, especialmente a liberdade espiritual, de pensamento e de expressão. Sempre atuaram com a força de seu soft power, o poder suave de sua cultura e cosmovisão: “A Índia, fiel ao seu motivo espiritual, nunca participou dos ataques físicos da Ásia contra a Europa; seu método sempre foi uma infiltração do mundo com suas ideias, como hoje vemos novamente em andamento.“ (Sri Aurobindo –  IS INDIA CIVILISED? “The Renaissance in India”, pp. 53-66)
A espiritualidade é um dos principais motivos da arte indiana.
Por  suas características únicas a Índia oferece contribuições fundamentais nessa fase da história em que o mundo encolheu, em que se evidenciam os seus limites físicos e ecológicos e de sua capacidade de suporte. O soft power indiano amadurecido em milênios de história torna-se valioso pois ali se experimentaram formas de convivência, de tolerância, de paciência, de não violência, de frugalidade, de convivência com a diversidade, cada vez mais necessárias no mundo contemporâneo.
 
 
 

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A Índia é uma terra de inspirações

Maurício Andrés Ribeiro
A Índia exerceu a hospitalidade para com a diversidade de povos que se estabelecerem em seu fértil território.


A Índia tem um território, uma mente e alma férteis. O subcontinente indiano faz parte da Ásia,  que tem 1/3 das terras e 3/5 da população mundial, sendo composto por 49 países. Na Ásia há civilizações milenares que sofreram colonização e nas quais se mesclam tradição e modernidade.
Enquanto a civilização egípcia, a grega e outras tiveram sua ascensão, apogeu e declínio, tendo se extinguido, a  Índia tem 4.000 anos de civilização contínua (a única outra tão longeva é a civilização chinesa).
No século 20 a Índia se tornou independente em 1947 depois de um processo de luta admirável  liderado pelo Mahatma Gandhi, em que quase não houve derramamento de sangue.
No início do século XXI a Índia tem 1.350 bilhões de habitantes, ou seja, 17 % da população mundial. Dentro de poucos anos ultrapassará a China e se tornará o país mais populoso do mundo. Sua população dobrou em 40 anos e hoje é 30% urbana. O restante vive em mais de 600 mil aldeias.  A agricultura gera  28 % do PIB e responde por 67 %  do emprego.
Mais de 600 mil aldeias abrigam cerca de 1 bilhão de habitantes.
É a maior democracia do mundo. Há diversidade religiosa, com 80% de hindus, 13% de muçulmanos, 2,5% de cristãos, além de sikhs, budistas, jains, parsis,  e outras tradições.
A diversidade de tradições espirituais é um dos aspectos da diversidade indiana.
 
Há diversidade linguística, com 17 línguas e centenas de dialetos.  Ali se usam 9 das 23 línguas mais faladas no mundo: hindi, marathi, urdu,  telugu, tamil, bengali,  francês, português, inglês. 125 milhões falam inglês. É comum ser poliglota.
Muitas vezes invadida, a Índia nunca foi expansionista nem se ocupou em conquistar outros povos ou territórios. No fértil vale do Ganges e no subcontinente indiano parecia haver espaço para todos.  O poeta de prêmio Nobel Rabindranath Tagore observou que “A missão da Índia foi como a da anfitriã que tem que prover acomodações apropriadas para numerosos hóspedes, cujos hábitos e necessidades são diferentes uns dos outros. Isso causa complexidades infinitas, cuja solução depende não meramente de tato, mas de simpatia e de um verdadeiro entendimento da unidade do homem.”
Com essa história e essa geografia, o subcontinente indiano gerou um povo tolerante, paciente, cuja riqueza  não é apenas material, financeira, econômica, ou o seu patrimônio natural,  mas principalmente seu patrimônio social, espiritual e cultural, intangível e imaterial. Seu conceito de não-violência ou ahimsa se estende ao mundo animal e à natureza e foi aplicado na luta pela independência. Suas lutas políticas recorreram a esse tesouro imaterial de visões sobre o mundo e a independência se faz sem grande violência.
Na sua experimentação na relação com a natureza, produziu uma sociedade frugal, capaz de se sustentar com o mínimo de recursos materiais e com forte inteligência espiritual. A pegada ecológica indiana per capita é muito baixa e isso se deve em parte a tais práticas cotidianas que dispensam o uso de recursos materiais em hábitos tais como sentar-se, alimentar-se, na organização do território em centenas de milhares de pequenas aldeias que se abastecem nas vizinhanças com água, alimentos e energia e materiais, nas práticas comunitárias e cozinhas coletivas nos ashrams.

 

 



 

O valor da renascença indiana para lidar com a atual crise na evolução




A frugalidade nos hábitos cotidianos economiza os recursos da natureza. Lodi Park, Delhi.
Maurício Andrés Ribeiro

Gandhi, Sri Aurobindo e Rabindranath Tagore buscaram no conhecimento indiano ancestral inspiração e força espiritual para potencializar a luta política. Eles atuaram num período em que havia a luta pela independência da Índia contra a colonização europeia. Essa etapa passou e foi alcançado o resultado pelo qual lutaram.
O renascimento indiano se iniciou no século XIX quando Vivekananda e os teosofistas reconheceram o valor da cultura indiana menosprezada pelos colonizadores.  Um resultado expressivo dessa valorização foi a independência da Índia em 1947 aplicando-se conhecimentos da cultura védica.
Nos anos 60 a contracultura e os Beatles ajudaram a divulgar no ocidente os benefícios da meditação e do yoga.  O poder suave da cultura indiana se disseminou no mundo.
Hoje o mundo vive em outro contexto, o dos limites físicos e ecológicos do planeta diante de uma população crescente que consome e exaure os recursos da terra. A renascença indiana se fortalece e recebe um novo impulso mais de cem anos depois que  Tagore e  Sri Aurobindo escreveram sobre ela. A motivação que impulsiona o renascimento  indiano e sua influência no mundo atual está no reconhecimento dessas riquezas da Índia para a evolução humana.

No momento atual da história,  tornam-se  relevantes valores como o da frugalidade, que mantém uma pegada ecológica leve, a sacralização da natureza,  encontrar formas de se organizar de modo econômico  e ecológico. A Índia dispõe de conhecimentos e práticas  nesses campos, valiosos para o contexto atual.

Olhar para a Índia,  para seus problemas e as formas como lida e lidou  com eles constitui uma valiosa aprendizagem. Aquela civilização, entre todas as que existiram, soube ser sustentável em sua relação com o ambiente natural, forjando estilos de vida e padrões de consumo com baixa pressão sobre o meio ambiente e sacralizando bichos, plantas, elementos do ambiente natural.
Macacos em templo. A sacralização dos animais na cultura indiana.
 

Soube, ainda, desenvolver uma tecnologia das emoções para lidar com o equilíbrio físico, emocional, mental e espiritual dos seres humanos e codificar de modo claro seus conhecimentos para transmiti-los para outras gerações. Outras civilizações antigas na África ou nas Américas também desenvolveram uma cosmovisão abrangente, mas talvez por não terem uma cultura escrita tão sofisticada, muito dessa sabedoria se perdeu no tempo.

Por sua diversidade cultural e política e por sua formação histórica, a Índia é uma nação multinacional, que mantém unidade na diversidade e que foi celeiro e campo fértil para ideias e propostas globalistas, mundialistas e voltadas para o federalismo mundial.

Soube ser resiliente em sua relação com outras culturas, por meio da capacidade de suportar invasões e de não se deixar destruir ou oprimir por outros povos; a civilização  indiana resistiu à colonização ocidental, absorveu influências e agora por sua vez influencia o mundo ocidental que a colonizou.

Especialmente no Brasil, fortemente influenciado pela cultura europeia e norte americana, há um déficit de conhecimento sobre tais riquezas da Índia, que poderiam ser valiosas para aprimorar a civilização brasileira, tropical como a da Índia. Além desse déficit, há preconceitos e visões negativas alimentadas por informações superficiais das atualidades e que não valorizam a sabedoria ancestral ali formulada e guardada.  O  menosprezo e desprezo pela cultura védica  demonstrados pelos colonizadores europeus há um século ainda persiste na mídia e influencia as percepções sobre aquele país. Entretanto essa percepção vem sendo dissolvida à medida que se buscam novos caminhos para superar os impasses e as encrencas em que se meteu a humanidade.

 Quando confrontada com possível colapso, com inseguranças e insustentabilidade, a consciência humana busca socorro em cosmovisões que valorizam a sustentabilidade e a frugalidade como antídotos para esses descaminhos.

Atualmente a Ásia reassume protagonismo no mundo por sua relevância em termos demográficos, políticos, econômicos, culturais. Na Ásia, a civilização  indiana se destaca pelo modo como se organizou, como desenvolveu práticas de autoconhecimento, nunca agrediu ou invadiu outros povos e territórios, valorizou a inteligência espiritual,  registrou e codificou os conhecimentos sobre sustentabilidade que experimentou na prática. A renascença indiana está em curso e sua contribuição para a história humana nesse momento de crise na evolução vem sendo dada por meio do poder de sua espiritualidade e da sua riqueza intangível e imaterial.

 

 

 

A cultura indiana, do menosprezo à renascença


Maurício Andrés Ribeiro 

Prática de exercícios de yoga em escola em Delhi auxilia na concentração e no aprendizado. O soft power indiano em ação.
Durante  muitos séculos o subcontinente indiano foi invadido, colonizado e se transformou. As grandes navegações que buscavam um caminho marítimo para as Índias, as invasões mongóis e muçulmanas e a colonização pelos europeus impactaram as culturas e valores preexistentes.

A cultura indiana foi desprezada pelos colonizadores europeus e particularmente pelos ingleses.  O político Lorde Macaulay, que reformou o sistema educacional indiano durante a colonização,  afirmou que:  ”o conjunto inteiro da filosofia e literatura indianas  não valia uma única prateleira de uma boa biblioteca europeia.” E Winston Churchill disse que “ Eles (os indianos) são um povo bestial com uma religião bestial”. Falar e ensinar as línguas locais era punido e a língua inglesa era incentivada. Nos clubes dos colonizadores, indianos e cachorros  não entravam.

A partir do final do século XIX redescobriu-se o valor da sabedoria ancestral contida nos Vedas, as escrituras sagradas. Vivekananda no Congresso Mundial de religiões em Chicago em 1893 e os teosofistas (cuja sede mundial se instalou em Adyar - Chennai, no sul da índia) tiveram papel importante nessa revalorização. Sri Aurobindo escreveu sobre a renascença indiana e a força  de seus pensamentos e conceitos, que foram aplicados na política por Gandhi e pelos que alcançaram a independência da Índia em 1947.

Na segunda metade do século XX a influência da Índia se propagou no mundo por meio do yoga, da meditação, da literatura, da ciência, da medicina, da alimentação, do cinema, do poder suave da cultura (o soft power indiano).  Nos anos 60 os Beatles ali buscaram inspiração e a divulgaram; a Índia abrigou o Dalai Lama depois da invasão do Tibete pela China e dali os conhecimentos budistas se disseminaram pelo mundo.  Diversos gurus, uns mais e outros menos polêmicos e controversos, criaram comunidades nos Estados Unidos e na Europa.

O poeta e prêmio Nobel Rabindranath Tagore compreendia a importância de a Índia compartilhar sua experiência com o mundo: “Ao encontrar a solução para nosso problema, teremos ajudado a resolver também o problema do mundo. O que a Índia já foi, o mundo todo é agora. O mundo todo está-se tornando um único país por meio das facilidades científicas.”[1]

O grande laboratório social indiano experimentou modos de solucionar cada questão que ali se apresentou, recorrendo à sua riqueza imaterial. A independência política alcançada por meios não violentos é o resultado mais conhecido. O adensamento demográfico, a convivência entre  os diferentes, a relação com a natureza são questões enfrentadas pioneiramente na Índia há muito tempo. Vários problemas foram solucionados, outros ainda estão sendo processados com liberdade. No mundo que hoje passa por problemas similares recorre-se à sabedoria indiana para buscar respostas.

Na primeira parte do século XXI, a consciência sobre a emergência climática e sobre a atual crise na evolução busca em cosmovisões como a indiana inspirações para produzir respostas adequadas.

 



[1] TAGORE, Rabindranath. On Nationalism, p.59-60.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Karma e dharma


Maurício Andrés Ribeiro 

Karma é uma palavra do sânscrito que significa ação.
Toda ação produz uma reação, toda ação produz um impacto e uma consequência.
Mais cedo ou mais tarde boas ações produzem circunstâncias positivas na vida de quem as pratica, enquanto más ações produzem sofrimento para quem as realiza.
Traduzindo tal ideia em uma linguagem contemporânea, é como se cada indivíduo tivesse uma conta ou cartão de crédito cármico, um “credicarma”, com seus créditos e débitos, que se acumulam e que são pagos ou resgatados, cedo ou tarde, imediatamente, no médio ou no longo prazo. No hinduísmo, Errou, pagou!  Nesta vida ou em outras vidas. Não há indulgências, não se compra a absolvição. Há quem tenha um karma pesado a pagar, já outros tem um destino mais aliviado.
Karma é a lei da causa e efeito aplicada à vida. Karma yoga é o yoga da ação.
As ações podem ser motivadas  seja por razões do ego – a ego ação motivada pelo egoísmo, a ganância, a busca de poder; por uma ética ecológica, a eco-ação voltada para cuidar do ambiente que sustenta a vida; ou pela prestação de um serviço desinteressado , a seva, palavra do sânscrito que significa serviço abnegado e que  resulta de uma liberdade da alma de seguir o próprio dharma. Seva ação, aquela que  se pratica no sentido de servir.
Uma ação pode ter uma motivação egoísta, ecológica ou de vontade de prestar um serviço.
 
Num dos textos sagrados hindus, a Bhagavad Gita, parte integrante do épico Mahabharata (Grande Índia), Krishna, a divindade, estimula Arjuna, o guerreiro, a lutar e a assumir seu próprio dharma, aqui entendido como missão ou tarefa: “Lembra-te que é melhor cumprir a própria tarefa, ainda que seja humilde e insignificante, do que querer fazer a tarefa de um outro, por mais nobre e excelente que seja.”[1]
Ao cumprir seu dharma, o indivíduo liquida o débito do carma passado e obtém um crédito para se libertar.
A Gita recomenda que as ações sejam realizadas desinteressadamente. Sri Ramakrishna esclarece: “Quando a Gita pede para realizarmos nossas ações sem qualquer pensamento sobre o resultado, não espera que eliminemos todos os motivos como tais, mas que eliminemos todos os motivos mundanos e que tenhamos o desenvolvimento de nossa natureza espiritual como o único motivo para nossas ações”.[2]
Todo indivíduo tem um dharma próprio, exigido pelas circunstâncias de sua vida - positivas ou negativas - em que ele é compulsoriamente colocado pelo destino para que equilibre ações passadas. Quem sabe o seu dharma torna-se autoconsciente, conhece as ações que lhe cabe realizar nesta vida e procura exercê-las virtuosamente. Ao cumprir a ação e a missão humanas a tarefa que lhe cabe, o indivíduo ou a sociedade aceitam sua missão e reconhecem aquilo para o que foram destinados.
Numa interpretação livre, dharma é aquilo que uma pessoa ou uma coletividade ama, precisa, ganha, tem habilidade e aptidão para fazer. É ao mesmo tempo  a paixão, missão, vocação, profissão.
Descobrir aquilo que dá sentido à vida é descobrir o próprio dharma.
 Descobrir qual é o dharma, missão ou tarefa a cumprir em cada momento ou etapa é um exercício de autoconhecimento que pode dar sentido a uma vida individual ou coletiva.



[1] BHAGAVAD Gita; canção do Divino Mestre. Trad. Rogério Duarte. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.51.
 
[2] RAMAKRISHNA. Yoga: its various aspects: Gita on Karma yoga, p.30-31.
 

Dharma, a palavra da Índia para o mundo.

Enquanto outras civilizações ascenderam, tiveram seu apogeu e decairam, a Índia se sustentou baseada em seu Dharma
Maurício Andrés Ribeiro 

Ao passarmos os olhos pela história das nações, podemos sentir ressoar da boca coletiva do povo esta palavra que, expressa em atos, constitui a contribuição de cada nação para uma humanidade ideal e perfeita. Para o antigo Egito, tal palavra foi Religião; para a Pérsia, Pureza; para a Caldéia, Ciência; para a Grécia, Beleza; para Roma, Lei, e para a Índia - o mais velho de seus filhos -, para a Índia, Ele concedeu uma palavra que a todas resumia, a palavra Dharma. Eis a palavra da Índia para o mundo.

                                        Annie Besant, in Dharma  

A palavra Dharma tem múltiplos significados e definições. Um deles se relaciona com a sustentabilidade. Entre todas as civilizações, a indiana  é a mais sustentável.  O Dharma ajuda a explicar como aquela civilização se sustentou durante milênios e não entrou em colapso, como ocorreu com outras civilizações que não tiveram a capacidade de se sustentar, tais como a grega, a egípcia,  as dos incas, maias e astecas. A civilização indiana acumula um tesouro de saberes úteis para um mundo que perde aceleradamente suas condições de sustentabilidade. O conceito de dharma é fecundo no atual contexto em que se valoriza o que é sustentável. Dharma tem, nesse sentido, uma relação direta com as questões da sustentabilidade. Ao exercer seu dharma, a espécie humana pode buscar meios para  sustentar-se  nessa era em que  se anunciam colapsos e limites do planeta.
O Dharma é um dos tesouros imateriais indianos. O substantivo provém do sânscrito dhr, que significa sustentar, carregar: “É a lei, aquilo que sustenta, mantém unido ou erguido” observa Heinrich Zimmer, no seu livro Filosofias da Índia. Dharma é “o ‘suporte’ dos seres e das coisas, a lei da ordem em sua maior extensão, isto é, a ordem cósmica.”.   [2] LEMAITRE. Hinduísmo ou Sanatana Dharma, p.76.
O ex-presidente S. Radhakrishnan, em livro sobre a visão hindu da vida diz que “Dharma sustenta os meios os quais prendem uma coisa e mantém sua existência. Toda forma de vida, todo grupo de homens tem seu dharma, que é a lei do seu ser. Dharma ou virtude está em conformidade com a verdade das coisas; adharma ou vício é a oposição disto.”[1]
Cada um de nós nessa vida tem seu dharma, sua missão ou tarefa a cumprir.  
Swami Dayananda esclarece a importância do autoconhecimento e da autoconsciência, bem como a relevância da ação bem realizada: “Como não há um certo absoluto e nem um errado absoluto nesse mundo relativo, o senso de dharma tem que crescer dentro de cada um. Uma pessoa que entende o dharma pode decidir sobre uma ação apropriada a qualquer situação, assim como o bom motorista sabe como comportar-se em qualquer nova situação do tráfego. [...] O dharma é a justiça ideal que se fez vida; a virtude é medida pela perfeição atingida por cada um no exercício do seu papel”.[2][10] 
Dayananda observa que “De acordo com o dharma, a ação humana tem um resultado invisível bem como um resultado imediato e tangível. O resultado invisível da ação soma-se de forma sutil na conta do ‘fazedor da ação’ e, com o tempo, frutificará, tangivelmente, para ele como uma experiência ‘boa’ ou ‘má’ - algo prazeroso ou doloroso.”[3] Para ele, uma boa ação frutifica como prazer e uma má ação frutifica como dor ou sofrimento. No campo da ação, há uma relação do dharma com o conceito de carma (ou karma).
O dharma é, no dizer de Sri Aurobindo, a lei do ser, padrão de verdade, regra ou lei da ação; é a forma como o povo indiano concebe a conduta religiosa, social ou moral. Dharma significa cada ideal que podemos nos propor e a lei do seu trabalho e da sua ação.”16-175  Sri Aurobindo
O dharma pode ser visto como um fator de agregação, que evita a fragmentação de uma pessoa ou civilização.
Uma declaração universal do dharma humano e sua aplicação prática poderiam  ser um passo relevante para lidar com a emergência climática, ecológica e ambiental que desafiam o mundo contemporâneo.



[1] RADHAKRISHNAN. A visão hindu da vida. Rio de Janeiro: Edições MM, 1971. .(pg.69)
 
[2] DAYANANDA, Swamy, the teaching of the Bhagavad Gita, p.20.
 
[3] DAYANANDA, Swamy, Introduction to Vedanta, p.10.
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

A Índia e a liberdade

Maurício Andrés Ribeiro
India e China são as duas grandes civilizações contínuas em  quatro mil anos  de história.
 

 
A Índia e a China são as duas grandes civilizações milenares cuja linha de continuidade atravessou milênios. Essas duas grandes civilizações tiveram capacidade de sobreviver aos impactos das invasões e da colonização que sofreram, de adaptar e de absorver diversas influências.

Um fator que diferencia essas duas civilizações e seus valores, é a importância que é dada na Índia à liberdade individual, de pensamento e de palavra.  Em discussões de um congresso sobre o futuro, realizado em Bangalore em 1978, comparavam-se Índia e China. Os indianos afirmavam que, com uma história de mais de cinco mil anos, seu povo não se dispunha a sacrificar valores culturais e princípios de liberdade individual, como os chineses haviam feito, para equacionar rapidamente os problemas e necessidades básicos. Os indianos admitiam as mazelas sociais e econômicas, mas argumentavam que, para desenvolver-se em curto prazo, os chineses haviam sacrificado valores como a liberdade individual, muito prezada na cultura e sociedade indianas.

        As conquistas sociais indianas são lentas se comparadas com os avanços do outro gigante asiático – a China – no atendimento às necessidades básicas da população. Entretanto, a lentidão é compensada pelo respeito a valores milenares e preciosos, como os princípios da liberdade individual e da não-violência. A Índia equaciona seus problemas sociais sem sacrificar tais valores. Sendo a maior democracia do mundo, há a convicção de que ainda chegará a atingir maior justiça social sem sacrificar esses princípios. Está em curso caminhada do subcontinente indiano em direção a maior justiça social e igualdade, sem que para isso seja necessário abdicar da liberdade.

Na Índia nunca houve a escravidão. Diferentemente de gregos e egípcios, de sociedades africanas, dos europeus que escravizaram indígenas e africanos nas colônias a Índia praticou outro modo de organização social que prescindiu dos escravos.

A questão da liberdade individual esteve no centro da luta da Índia por sua independência. Sri Aurobindo, o grande formulador da doutrina da resistência passiva ou defensiva, justificava essa luta não apenas para alcançar a liberdade econômica ou livrar-se da opressão política, mas para alcançar uma condição coletiva que eliminasse travas ou obstáculos ao florescimento dos seres humanos e de seu espírito.

“Sua missão (da Índia)  é apontar à humanidade a verdadeira fonte da liberdade humana, da igualdade humana, da fraternidade humana. Quando o homem é livre no espírito, toda  outra liberdade está sob seu comando.”

Grandes indianos como Sri Aurobindo, Tagore, Gandhi e estudiosos ocidentais ressaltam essa importância dada à liberdade.             A Índia foi a sociedade em que se levou mais longe a proposta de liberdade.  Lia Diskin, da Associação Palas Athena, expressa isso  ao dizer que “A Índia é o maior exemplo de liberdade de pensamento que a humanidade produziu – na Índia ninguém foi obrigado a tomar cicuta por causa de suas ideias, nem foi crucificado pelas suas pregações.”

A liberdade ali praticada não se resume à liberdade econômica, política, de pensamento e de expressão, mas também a liberdade espiritual, das buscas do espírito para compreender o universo, a vida, a consciência. Os caminhos dessa busca são os mais variados e todos são respeitados. Comportamentos insólitos, exóticos, bizarros, estranhos que seriam considerados loucura e interditados ou segregados em outras sociedades, são ali não somente tolerados, mas valorizados e sustentados pela sociedade.

O apreço pela liberdade é tal que ela é praticada ainda que possa parecer estar-se à beira da anarquia. É admirável a capacidade  coletiva de se autoorganizar no limite mínimo, com margem de segurança próxima de zero,  como numa dança em que se evita pisar no pé do outro, como por exemplo no trânsito caótico nas grandes cidades.

O poeta e prêmio Nobel  de literatura Rabindranath Tagore  expressou poeticamente esse valor da liberdade:

“Onde o espírito vive sem medo
e a fronte se mantém erguida;

Onde o saber é livre;

Onde o mundo não foi dividido em pedaços
por estreitas paredes domésticas;

Onde as palavras brotam do fundo da verdade;

Onde o esforço incansável estende 

os braços para a perfeição;
 

Onde a fonte clara da razão não perdeu o veio
no triste deserto de areia do hábito rotineiro;

Onde o espírito é levado à tua presença
em pensamento e ação sempre crescentes;

Dentro desse céu de liberdade, ó meu Pai,
deixa que se erga a minha pátria.”