A arquitetura é a principal expressão das artes espaciais.
Ela organiza o espaço tridimensional, considerando aspectos como proporção,
textura, escala e funcionalidade. Ao projetar edifícios e estruturas, os
arquitetos criam experiências espaciais que influenciam a maneira como os
usuários interagem com o ambiente construído. A arquitetura envolve arte,
ciência, técnica construtiva, domínio dos espaços, da sombra e da luz.
Muitas vezes está associada à pintura (por exemplo a obra de
Michelangelo na Capela Sistina no Vaticano), à escultura (as estátuas dos
templos gregos e hindus), ao paisagismo, ao urbanismo, às artes do mobiliário,
à tapeçaria.
Piscina integrada ao paisagismo num hotel à beira mar em
Salvador na Bahia.
A água condicionou historicamente a arquitetura. A água é frequentemente integrada aos
edifícios por meio de cisternas, fontes, espelhos d’água e sistemas de coleta
de chuva. Fontes, piscinas e cascatas são usadas para criar uma conexão visual
e auditiva com a água, promovendo calma e bem-estar. Esses elementos desempenham, ainda, papéis
práticos.
Um espelho d’água reflete a imagem do Taj Mahal, em Agra, na
Índia.
Entre as obras de arquitetura mais conhecidas que utilizam a
água como elemento central estão a Ópera de Sydney (Austrália). a Casa das
Cascatas (Fallingwater, EUA) projetada por Frank
Lloyd Wright, o Museu de Arte Islâmica (Qatar) o complexo futurista de
Marina Bay Sands (Singapura), os Jardins Flutuantes de Lily Pads (França), a
Biblioteca de Alexandria (Egito), o Museu Guggenheim Bilbao (Espanha). A água é
integrada em projetos monumentais, a exemplo do Taj Mahal na Índia, o Alhambra
na Espanha ou o Palácio do Itamaraty em Brasília.
Os modos de se construir variam conforme se esteja num clima
seco ou úmido, quente ou frio. No clima gelado do ártico, os iglus dos esquimós
são casas feitas de água em estado sólido, o gelo que ali é abundante.
Construções são adaptadas ao ambiente hídrico ou ao clima,
como as palafitas em áreas alagadas ou os sistemas de ventilação natural que
usam a água para resfriamento.
Nos palácios islâmicos, na Índia, a água foi usada para
amenizar a secura do ar e dar conforto ambiental.
. Em climas secos e desérticos busca-se trazer umidade para
o ambiente construído e melhorar o conforto ambiental.
As fontes em jardim no palácio em Udaipur, na Índia, têm
função estética e funcional, para umedecer o ar. Na arquitetura árabe, fontes e
lagos nos jardins e no interior das casas umedecem o ambiente e proporcionam
conforto ambiental e térmico. Nela, a captação de água de chuva e seu depósito
em cisternas é uma prática milenar.
No planalto central brasileiro umidificadores de ar são
valiosos para melhorar o bem-estar nos períodos secos. Em Brasília, espelhos d’água umedecem o
ambiente nos períodos quentes e secos e a evaporação no lago do Paranoá ameniza
a secura.
Em muitas partes, foram construídas palafitas, casas sobre
as águas.
Em climas úmidos, é um objetivo evitar o contato excessivo
dela com a edificação. Beirais e varandas reduzem o desgaste causado nas
construções pela água de chuva; azulejos protegem paredes, fachadas e áreas
úmidas internas, tais como banheiros e cozinhas A proteção interna contra a
umidade provê higiene e salubridade, evitando as doenças relacionadas com o
ambiente interno úmido. A ventilação natural e a entrada de luz solar são
recursos valiosos para reduzir a umidade. Telhados e coberturas bem construídos
protegem o interior das casas das indesejáveis goteiras durante chuvas fortes.
Para evitar que suba por capilaridade pelas paredes, as casas são projetadas
suspensas do solo.
No contexto da adaptação às emergências climáticas, a água
tem importância redobrada para a arquitetura e a construção de abrigos e requer
reforços nas estruturas para resistir aos eventos climáticos extremos.
No Japão rural, a água condiciona a escolha de áreas para se
construir. Evita-se a construção em declives onde há enxurradas fortes e
evita-se construir nos fundos de vales úmidos e insalubres, sujeitos a
enchentes.
Nas edificações, as águas usadas têm diferentes qualidades:
as cinzas passaram pelo chuveiro e lavabo e podem ser reaproveitadas em usos
que necessitam menor qualidade; águas negras passaram pelos vasos sanitários.
Elas são diferenciadas: as águas amarelas receberam urina e as marrons
receberam fezes. Elas podem ser tratadas e reaproveitadas para usos menos
exigentes.
Projetos de casas autônomas fazem com que elas se auto
abasteçam. Biopiscinas são crescentemente usadas, com tratamento biológico. Em
ecovilas, sanitários secos e tratamento biológico são soluções adotadas.
Em contextos rurais em que não há energia elétrica ou outro
meio para bombear, a escolha de onde construir leva em consideração o essencial
abastecimento por gravidade.
Na bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiaí - PCJ construiu-se casa modelo para uso racional de água e
energia elétrica, envolvendo as áreas de construção civil, arquitetos e
engenheiros. Estimou-se que tal casa pode economizar até 60% no consumo. Paredes
hidráulicas com as tubulações internas de cozinha e banheiro são soluções de
projeto mais econômicas.
A legislação de construções de Curitiba criou
o programa de conservação e uso racional da água nas edificações. A água de
chuva coletada é usada para todos os usos não potáveis. Isso reduz a conta a
ser paga e o volume que escorre nas enxurradas.
Para dar melhor aproveitamento às águas, alguns municípios tornam
obrigatória a implantação de sistema para retenção de águas pluviais coletadas
por telhados, terraços, coberturas e pavimentos descobertos, em lotes que
tenham área impermeabilizada. As licenças para os parcelamentos do solo,
projetos de habitação, obras e instalações ficam condicionadas ao cumprimento
dessas normas.
Alguns municípios adotam programas de conservação e uso
racional e reuso em edificações, visando a reduzir desperdícios. Outros
municípios têm hidratado a legislação municipal de uso e ocupação do solo,
códigos de obras e de posturas, o que pode torná-los cidades hidricamente
conscientes, que sintonizam a legislação urbanística com a legislação de
recursos hídricos.
Em contextos urbanos modernos há relação entre o gasto de
água e o de energia para seu aquecimento. Um modo de atuar junto a usuários é
educá-los pelo bolso. Para reduzir desperdícios, alguns municípios adotam
códigos de obras que exigem a hidrometração individual, na qual cada unidade paga
pelo que consome. A instalação de hidrometria individualizada em cada domicílio
pode reduzir consumos, já que a conta é mais alta para quem gasta mais. A hidrometração coletiva induz ao
desperdício, pois a conta é rateada num valor médio entre todos e quem consome
mais paga relativamente menos.
Coletores solares para aquecer água economizam na conta de
energia e reduzem o consumo, ao reduzirem as distâncias para ela chegar quente
aos chuveiros. Em novos projetos, esse é
um recurso valioso. Há a necessidade de aprender como reduzir o consumo e
desenvolver tecnologias que levem à redução de desperdícios.
O arquiteto hidroconsciente pode atuar em várias frentes: ao
conceber o projeto arquitetônico de modo integrado com o projeto hidráulico e
de uso de energia solar; ao especificar componentes da construção que
economizem ou reusem, ao aproveitar água de chuva, ao influir na aprovação de
legislação municipal de obras que induza a economia, seu aproveitamento e
reuso. Retrofits ou reformas para tornar as edificações antigas mais eficientes
são métodos para adaptá-las a tempos em que ela se torna escassa e mais cara.
Os arquitetos e engenheiros podem projetar ambientes construídos
que se relacionem de modo harmônico com a água e nos quais ela esteja
integrada.