quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

DADOS E INFORMAÇÕES SOBRE ÁGUAS

 

Estação de coleta de dados hidrometeorológicos na ANA em Brasília.

 A gestão das águas necessita de coleta de dados e de números e séries históricas que dêem embasamento às decisões.

Dados numéricos sobre as chuvas e as vazões dos rios são coletados continuamente. Para a coleta dos dados ser feita com responsabilidade é preciso o preparo técnico e ético dos hidrometristas. Com isso evitam-se os dados falsos, fraudados ou inventados.  Do mesmo modo, uma maior consciência da sociedade sobre a importância desses dados e adequada vigilância e segurança podem evitar vandalismo, destruição e furto de equipamentos de medição.

Os dados coletados são interpretados e tornam-se informação e conhecimento aplicável para a tomada de decisões sobre questões como:  quanto uso deve ser autorizado, como operar um reservatório para evitar riscos de exaustão, onde construir uma usina hidroelétrica.  Eles também são a base para lidar com as emergências de secas e enchentes, como se faz nas salas de crise e salas de acompanhamento das crises hídricas.

As séries hidrológicas de dados sobre chuva e vazão servem de baliza para o planejamento hidroenergético e para a previsão de ações nas áreas de saneamento e agricultura. Nesse contexto, faz sentido fortalecer o monitoramento hidrometeorológico e manter atualizados os bancos de dados e informações hidrológicas, disponibilizar dados e informações à sociedade por meio das Tecnologias da Informação e instalar radares meteorológicos. 

Com a emergência climática, a tradicional gestão de recursos hídricos baseada em dados de chuva e vazão medidos em séries históricas corre o risco de não dar respostas às circunstâncias e situações concretas que se apresentam de agora em diante. Eles perdem confiabilidade diante dos eventos imprevisíveis e atípicos que se tornam mais frequentes, tais como cheias, chuvas intensas, secas prolongadas.   Quando os dados não são mais previsíveis, pois o clima se comporta de acordo com novos normais antes inexistentes, aumentam as inseguranças e por vezes escapa-se por um triz dos colapsos e desastres.

O conhecimento sobre a qualidade das águas depende de dados obtidos por meio de monitoramento, analisados em laboratórios com procedimentos padronizados, por pessoas capacitadas para realizar essa avaliação e para divulgar os resultados das análises.

Estação de coleta de dados hidrometeorológicos na ANA em Brasília.

 Pode-se utilizar, de vários modos, os dados, informações sobre a água que estão disponíveis na internet e nas plataformas da inteligência artificial.

Na área das águas há sistemas de informações sobre recursos hídricos, sistema de informações sobre meio ambiente, sistema de informações sobre saneamento, sistema de informações sobre segurança de barragens e muitos outros. Muitas vezes falta integração entre os diversos sistemas criados no âmbito nacional com os que são usados no âmbito dos estados e dos municípios e os sistemas não conversam entre si, o que prejudica a produção do conhecimento, para além das informações.

A produção, organização e disseminação de informações confiáveis sobre a situação e sobre a disponibilidade de água são essenciais para seu gerenciamento e para criar uma consciência coletiva sobre o tema.

A PIRÂMIDE DA HIDROSABEDORIA

 

Dados, informações, conhecimentos e sabedoria são distintos. Vivemos num mundo com uma grande quantidade de dados, que podem ser trabalhados com inteligência para formular ideias e informações, bem como para gerar conhecimentos e sabedoria

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A relação entre dados, informação, conhecimento e sabedoria pode ser ilustrada pela Pirâmide da Sabedoria, também conhecida como Hierarquia DIKW (Data-Information-Knowledge-Wisdom). Cada nível da pirâmide se baseia no nível anterior, e todos são necessários para tomar decisões baseadas em dados. [1]

As diferenças entre dados, informações, conhecimento e sabedoria estão nas definições seguintes e no exemplo usando o tema da água:

Dados são os elementos brutos, não organizados e sem significado intrínseco. Representam fatos ou observações simples e, isoladamente, não transmite entendimento. Exemplo: "20mm, 30mm, 10mm, 40mm". Estes números representam medições de chuva em milímetros, mas, sozinhos, não dizem muito.

Informações são os dados que foram organizados, processados ou interpretados, adquirindo relevância e utilidade em um determinado contexto. Exemplo: "A média de precipitação em uma região é de 25mm por dia durante o mês de novembro." Os dados foram processados e contextualizados, revelando uma tendência sobre a quantidade de chuva em uma região.

Conhecimento é a compreensão e aplicação da informação, muitas vezes combinada com experiências, habilidades ou reflexões. É mais profundo e envolve a capacidade de relacionar informações e tirar conclusões. Exemplo: "Durante novembro, a média de precipitação de 25mm por dia é suficiente para encher reservatórios locais, garantindo o abastecimento de água para a população nos meses seguintes." Aqui, entende-se a importância da informação no contexto de gestão de recursos hídricos e sua aplicação prática.

Sabedoria é a capacidade de aplicar o conhecimento de maneira ética, prática e orientada para o bem-estar geral. É o nível mais elevado e requer julgamento, experiência e valores. Exemplo: "Para garantir segurança hídrica a longo prazo, é essencial combinar o armazenamento adequado da água da chuva em novembro com políticas de uso consciente e estratégias de conservação, especialmente em períodos de seca." A sabedoria envolve a aplicação do conhecimento considerando implicações éticas, práticas e sustentáveis para o bem-estar coletivo e futuro.

Resumindo essas definições e o exemplo dado:

       Dados: Matéria-prima bruta (fatos). Números isolados de precipitação.

       Informação: Dados organizados e contextualizados. A média de precipitação em um período.

       Conhecimento: Informação assimilada. Compreensão do impacto da chuva na gestão de recursos hídricos.

       Sabedoria: Conhecimento aplicado com discernimento e visão ampla. Planejamento e tomada de decisões sustentáveis com base no conhecimento.

Essa hierarquia demonstra como as medições básicas são transformadas em ações que promovem o bem-estar e a sustentabilidade no uso da água.

Na água do corpo há verdades e conhecimentos sobre nossa origem e nossos ancestrais. Testes de DNA com uma pequena amostra de cuspe revelam quem é a nossa ascendência durante as gerações passadas e podem modificar a consciência, reduzir os extremismos, os preconceitos raciais e étnicos e culturais, acelerando o descondicionamento das mentes. Experiências desse tipo, com viagens por meio do DNA, são mostradas no site LetsOpenOurWorld.com e mostram como a água do corpo transporta dados e informações que podem ser elaboradas em conhecimentos e sabedoria.

Um exemplo:

Dados: coleta-se um pouco de cuspe para um teste de DNA

Informação: os resultados do teste mostram a origem e ascendência da pessoa.

Conhecimento: a pessoa toma consciência de seu passado ancestral e de seus ascendentes e descondiciona sua mente de preconceitos étnicos e raciais

Sabedoria: a pessoa tem nova percepção da fraternidade universal e da unidade da família humana

A água do corpo humano contém dados, transporta informações e revela conhecimentos que, sendo bem compreendidos, podem resultar em sabedoria sobre a unidade humana para além da diversidade e das microidentidades que separam.

O processamento de dados para a tomada de decisões e para facilitar que ela flua e se movimente tornou-se como uma nova religião, o dataísmo, afirma Yuval Noah Harari, em seu livro Homo Deus.

Na minha infância ouvíamos contos de fadas. Elas tinham uma varinha de condão; bastava acionar a varinha e a coisa desejada aparecia. Na atualidade, varinhas de condão modernas fazem aparecer a informação. O Google é o mais conhecido, entre outros mecanismos de busca que, ao toque de uma tecla, disponibilizam grande quantidade e variedade de informações sobre o assunto desejado. Empresas como as chamadas bigtechs - Meta, Facebook, Whatsapp, Instagram - coletam dados sobre os usuários e os utilizam comercialmente para direcionar anúncios, publicidade. Cresce um movimento para evitar o uso abusivo dos dados das pessoas para fins comerciais e outros não autorizados.

Navegamos em meio a um oceano de dados e de informações e podemos ser tragados e afogados caso não nos movimentemos com perícia.  Nesse oceano, é relevante a tarefa de curadoria, ao separar aquilo que tem qualidade daquilo que é pouco confiável. Saber buscar a informação, saber discernir o joio do trigo, saber classificar as informações para poder acessá-las quando forem necessárias, são habilidades valiosas no mundo contemporâneo.  Assim como a qualidade da água pode ser limpa ou poluída, também a informação pode ser verdadeira ou falsa. Bebê-la poluída adoece o organismo; consumir informação de má qualidade pode intoxicar o organismo e a psique.

HIDROLOGIA INTEGRAL

 As várias hidrologias especializadas situam-se num quadro geral em que a água pode ser considerada de modo mais amplo, numa abordagem integral.

 Abordagens integrais vêm sendo aplicadas a variados temas, da psicologia à ecologia, da educação ao yoga.  Por meio delas, vai-se além de enfoques que fragmentam o campo estudado. Assim, por exemplo, a ecologia integral pioneiramente estudada por Pierre Dansereau, Pierre Weil e outros, foi adotada pelo Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si. Ela estuda tanto os aspectos biológicos relacionados com as espécies vegetais e animais em seus ambientes, como também as questões culturais, sociais e políticas que incluem a espécie humana, além da dimensão subjetiva e psicológica relacionada com a ecologia do ser. A educação integral trata de modo holístico esse campo estratégico para a formação das consciências. Pioneiro dos estudos integrais, Ken Wilber se aprofundou na psicologia integral e na espiritualidade integral. O sábio indiano Sri Aurobindo desenvolveu o Yoga integral, que abarca os inúmeros campos em que se desdobra aquela ciência e prática milenar.


Quando se aplica a visão integral ao campo da hidrologia, consideram-se todos e cada um dos aspectos temáticos específicos da água. Considera-se seus aspectos científicos bem como sua manifestação nas artes, nas tradições espirituais e na filosofia. A hidrologia integral busca superar visões reducionistas e quantitativas. Numa abordagem integral, procura-se refletir em várias escalas, do cosmos à gota e à molécula. Da escala mega até a escala nano. A hidrologia integral não é apenas uma ciência árida e seca. Ela é fertilizada com enfoques qualitativos.

A abordagem integral é inclusiva. Vai além da visão dos especialistas, reconhece sua importância e a insere num contexto maior.  Essa abordagem não fica refém de condicionamentos conceituais legais, como por exemplo os adotados nas leis que valorizam a água como um recurso dotado de valor econômico e que não explicitam seu valor ecológico e sua importância como um patrimônio coletivo.

Uma abordagem integral a partir da água pode ser necessária para compreender a era de incertezas, mudanças e inseguranças em que vivemos; uma era líquida, mutável, em que conceitos antropocêntricos, ecocêntricos, biocêntricos, cosmocêntricos se tornam pouco esclarecedores e a ação baseada neles pouco eficaz.

É necessário desenvolver uma visão orgânica de como ela flui no ambiente, para além de visões sistêmicas parciais e setoriais; ampliar a consciência dela como parte de um sistema hídrico, que por sua vez é componente vital de um organismo vivo, seja ele o corpo humano, uma bacia hidrográfica ou o planeta Terra.

A abordagem integral enxerga os múltiplos ângulos em que as águas permeiam os ambientes, desde o cosmos até o interior dos corpos dos seres vivos. A água é múltipla, mas também é uma só. A abordagem integral ruma a uma visão em que a água passa a ser tema dos estudos teóricos e práticos da hidrosofia (hidro+sophia), uma abordagem que traz sabedoria, e da hidrofilia, a amizade para com a água (hidro+ philos) para além dos conhecimentos, das informações e dos dados.

Para lidar com a água numa perspectiva integral é necessária a abordagem transdisciplinar, que combina ciência e arte, tradições e filosofias, e que vai além de cada uma das disciplinas acadêmicas especializadas a partir das quais ela é percebida e estudada.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

HIDROLOGIAS

 A palavra hidrologia significa o estudo científico da água. A Hidrologia é uma ciência natural que estuda o ciclo da água na Terra, incluindo sua distribuição, movimento e propriedades nos diversos compartimentos, como rios, lagos, oceanos, atmosfera e aquíferos. Baseia-se em métodos quantitativos e empíricos para entender os processos hidrológicos e prever fenômenos como enchentes, secas e disponibilidade hídrica. Seu objetivo é prover dados e soluções técnicas para a gestão e uso sustentável da água, mitigação de desastres naturais e planejamento de recursos hídricos. É interdisciplinar ao envolver geologia, meteorologia, química, física, matemática e engenharia.

O campo geral de estudo da hidrologia se desdobra em inúmeros campos específicos, cada qual cobrindo um aspecto do tema. A hidrologia especializada e focada em questões quantitativas é útil para a gestão e a tomada de decisões para obras de infraestrutura. Os especialistas em recursos hídricos, de várias profissões e formações acadêmicas dominam aspectos específicos e práticos do conhecimento sobre a água, aplicados para fins de gestão ou de engenharia e construção de obras hídricas.

A hidrologia especializada usa um dialeto, o  hidrologuês, um jargão hermético e de difícil compreensão para os leigos, a quem são estranhos os conceitos e termos como curvas-chave, linhas de base, hidrograma ecológico, hidrograma unitário sintético, modelagem chuva-vazão, vazões mínimas de referência, estresse hídrico, tempo de concentração, período de retorno, volumes de espera, série temporal não-estacionária, regularização de reservatórios, vazão regularizada, rios intermitentes, alocação negociada, balanço hídrico, curvas de permanência, curvas de aversão ao risco etc.

Tal abordagem quantitativa tem sua base na coleta de dados sobre chuva e vazão de rios. Equipamentos tais como pluviógrafo, pluviômetro de proveta, réguas de cálculo, amostrador de sedimentos, anemômetro de solo, piranógrafo, flutuador, radiômetro, molinete, sonda Doppler, ecobatímetro, mini Cartan (para medir a velocidade do fluxo), cadernos para anotar observações de campo, compõem a caixa de ferramentas dos hidrometristas que observam os dados em campo e os transmitem para serem analisados e produzir informações estatísticas e séries históricas que são básicas para a tomada de decisões. 


Equipamentos para a hidrometria.

A hidrologia estatística enfatiza aspectos quantitativos valiosos para a gestão.  A hidrologia aplicada focaliza questões relacionadas com o uso dos recursos hídricos, tais como os planos de bacias hidrográficas, o abastecimento e a drenagem urbana, os aproveitamentos hidroelétricos, a erosão, as poluições e a qualidade. Relaciona-se com o projeto e a construção de obras de engenharia e de infraestrutura hidráulica – reservatórios, represas, aquedutos, canais, portos – e com as práticas de gerenciamento. Em aspectos práticos, técnicos, gerenciais e administrativos, conhecimentos hidrológicos quantitativos embasam a tomada de decisão.

A hidrologia espacial é um campo emergente que faz uso de satélites, de sensoriamento remoto e observações a partir do espaço, com as tecnologias mais recentes. A hidrologia isotópica estuda os isótopos de hidrogênio e oxigênio nas moléculas de água e a informação que eles trazem sobre a origem daquela molécula, a idade das águas subterrâneas e diversos outros aspectos.

Os campos da glaciologia ou criologia estudam o gelo; a hidro-meteorologia estuda sua presença na atmosfera, a limnologia estuda as extensões de água doce, como os lagos e pântanos; a hidrostática, a hidrocinética, a hidrodinâmica, estudam seus aspectos físicos, a hidrografia estuda as águas correntes, a oceanografia estuda as águas oceânicas e a hidrogeologia estuda as subterrâneas. O campo da hidro cosmologia estuda a que existe no cosmos e nos corpos celestes, como as caudas dos cometas.

A hidrologia ambiental fornece o conhecimento de base para os especialistas em recursos hídricos atuarem em planos, na medição de chuvas e de vazões de rios, no cálculo das águas disponíveis, na medição dos aspectos físicos, químicos e biológicos que revelam a sua qualidade.

Devido à sua importância política e social surgiram os campos da hidropolítica e da hidrologia social, bem como a hidrologia urbana.

O campo da hidrologia médica trata das curas medicinais por meio da crenoterapia nas estâncias hidrominerais, bem como das hidroterapias com agentes terapêuticos.

Não seria incorreto designar o campo da hidrologia como hoje praticada como hidronomia, fazendo um paralelo com as diferenças entre ecologia (oikos+logos) e economia (oikos+nomos). Ambos os campos estudam a casa (oikos), um deles com uma visão mais abrangente e outro com uma visão mais focada em aspectos quantitativos.

Na perspectiva utilitária, o conhecimento técnico e científico das várias hidrologias é valioso para gerenciar os usos dos recursos hídricos. Nessa visão eles são um objeto com valor econômico, do qual se pode dispor para atender demandas. Não se questionam criticamente essas demandas para avaliar se são prioritárias ou se seria melhor deixar de usar esses recursos para preservar um patrimônio natural, para a contemplação, para que água exista livremente, com um bom estado ecológico de qualidade que possa cumprir seu papel nos ecossistemas.

Especialistas sabem muito sobre pouco e perdem a visão panorâmica. Decisões baseadas apenas em sua visão podem causar estragos e danos. Dispor de competência técnica e científica é necessário, porém insuficiente para obter resultados socialmente justos. Do mesmo modo como, na medicina, um clínico geral diagnostica o estado de saúde do organismo a partir de uma visão holística e depois o paciente é encaminhado para um especialista, também no campo das águas é importante não perder essa visão panorâmica geral.

CIÊNCIAS DA ÁGUA

 


 

As ciências ajudam a compreender de modo integral o ciclo da água e expandem a hidroconsciência. A física e a química, a hidrologia, a oceanografia, a climatologia, a hidrogeologia, são ciências naturais que a estudam. As ciências da saúde e biológicas focalizam a sua presença na biosfera e no ser humano. As ciências humanas e sociais a abordam pelo ângulo das suas relações com as sociedades e indivíduos. As ciências ecológicas são permeadas pela água.

Cada ciência estuda aspectos e ângulos específicos da água: a Física estuda seus estados físicos, seu calor específico, sua tensão superficial e densidade anômala. A Química estuda a estrutura molecular (H₂O), as ligações de hidrogênio, sua qualidade de ser solvente universal, as reações químicas, a osmose e os processos de transporte celular. A Biologia a estuda como elemento essencial à vida, como meio de transporte de substâncias, sua função de regulação térmica dos organismos, as reações metabólicas e bioquímicas essenciais, como a fotossíntese e a respiração celular.  Na fotossíntese, a água é quebrada para liberar oxigênio, enquanto na respiração celular, a água é um dos produtos finais. 

Além dessas, outras ciências lidam com a água, cada uma focando em diferentes aspectos e aplicações. Na Geologia estudam-se as águas subterrâneas, a geodinâmica fluvial e a glaciologia, o estudo do gelo e das geleiras. A Ecologia inclui a ecologia aquática e a Limnologia, que estuda os ecossistemas de lagos e rios.  Outros campos são as Engenharias, como a Hidráulica e a Hidrologia, a Meteorologia, a Oceanografia, a Agronomia, a. Climatologia, a Saúde Pública, o Direito e Políticas Públicas, a Antropologia e a Sociologia.

Esses campos das ciências por vezes trabalham de maneira interdisciplinar, colaborando para compreender e resolver os desafios relacionados à água, tais como escassez, poluição, gestão sustentável dos recursos hídricos e conservação dos ecossistemas aquáticos.

A consciência da crise hídrica é divulgada por estudos científicos; os relatórios do IPCC – Painel intergovernamental de cientistas sobre a crise do clima – apontam-na como elemento chave nas estratégias de adaptação. 

A vulgarização do conhecimento científico é feita por cientistas com linguagem inteligível para o grande público. Um dos mais conhecidos foi o astrônomo Carl Sagan; no Brasil, Antonio Donato Nobre e os rios voadores; Altair Sales Barbosa em seus estudos sobre o cerrado.

Cientistas e técnicos alertam, a partir do seu conhecimento especializado, sobre temas que escapam à percepção direta, como os riscos à saúde humana e das águas, as emergências climáticas, a contaminação de águas subterrâneas, os resíduos radioativos. Entretanto, quando tais alertas não estão formulados em linguagem comunicativa e estão desacompanhados de soluções para os problemas, eles tendem a saturar e criar uma insensibilidade, como defesa psicológica e a serem negados ou ignorados, para que não se constituam numa camada adicional de preocupações. O negacionismo da ciência pode funcionar como uma defesa psicológica contra verdades inconvenientes que podem gerar insegurança, dar trabalho e exigir esforços para serem resolvidas.

A ÁGUA NAS DIVERSAS ESFERAS DA NATUREZA

 

 

 


Esferas com volume total de água no planeta, com volume de água doce no solo, lagos, áreas úmidas e rios e a água doce somente em lagos e rios. Fonte: US Geological Survey, Water Science School.

A hidrosfera e a quantidade de água existente na Terra parecem ser grandes, pois se espalham sobre 70% da superfície do planeta, cobertos por mares e oceanos. Entretanto, ao compararmos o volume total existente na Terra com o volume total da esfera terrestre, evidencia-se que ele é pequeno.  Caso a Terra tivesse o volume de uma bola de futebol, o volume de água nela contido seria comparável ao de uma bola de tênis; o total de água doce seria menor do que o de uma bola de gude e aquela em lagos e rios seria equivalente a uma cabeça de alfinete.

Toda a água existente na Terra é como uma pequena gota que pingou do cosmos.

O botânico e geógrafo canadense Pierre Dansereau concebeu e desenhou esquemas integrados e holísticos valiosos para compreender a evolução e o funcionamento inter relacionados das diversas esferas da natureza.



Num desses desenhos ele inclui a noosfera, a esfera da consciência humana, que penetra gradualmente muito além da biosfera e impacta todas as demais esferas. Assim como a noosfera, a água também se infiltra em todas as demais esferas.

A hidrosfera compõe-se de toda a água existente no planeta, presente de modo dominante nos oceanos, mares, lagos, rios e nas calotas polares e nas geleiras. O estudo da água na hidrosfera é uma abordagem limitada ao não valorizar a sua presença em todas e em cada uma das demais esferas. Ela está na litosfera quando se infiltra no solo e alimenta os lençóis freáticos e os aquíferos subterrâneos. Em contato com o calor no interior quente da terra vem à superfície nos geisers e nas estâncias de águas termais com poderes curativos que a trazem aquecida da pirosfera.  A água está presente na atmosfera, nas nuvens, nos rios voadores, na umidade do ar de onde se precipita na forma de chuvas, neves, granizo.

Ela é parte constituinte dos corpos de todos os seres vivos, vegetais, animais e humanos, que compõem a biosfera que habita uma fina membrana na superfície do planeta. Cerca de 70% do peso de um ser humano é composto de água. As plantas a sugam do solo e devolvem à atmosfera, por evapotranspiração, que circula em sua seiva.

Ela está presente na cosmosfera, nas caudas dos cometas, nas luas de Júpiter e de Saturno, nos confins do sistema solar e em muitos corpos celestes.

Ao transportar informação e ser sensível às informações que lhe chegam, ela está presente na noosfera, não apenas como parte constituinte dos corpos dos seres pensantes, mas também de seus humores, emoções e sentimentos. Por meio dos líquidos corporais, exames de DNA identificam as origens étnicas das pessoas a partir da informação por eles transportadas.

O CICLO DA ÁGUA

 



O ciclo da água é o processo natural e contínuo de circulação da água na Terra, que envolve sua movimentação entre a superfície, a atmosfera e o subsolo. Esse ciclo é impulsionado pela energia do sol e pela gravidade, e é essencial para manter o equilíbrio dos ecossistemas e disponibilizar água para os seres vivos. O Sol é a grande fonte de energia que afeta o seu ciclo. A energia solar provoca a evaporação de quantidades enormes de água dos oceanos, mares, rios e lagos para a atmosfera e é o motor que movimenta esse ciclo.

O ciclo da água na Terra compreende várias etapas que são a evaporação, quando a energia do sol aquece corpos d'água, como oceanos, rios e lagos, fazendo com que a água líquida se transforme em vapor de água e suba para a atmosfera. A evapotranspiração é o processo de liberação de vapor de água pelas plantas durante a transpiração. A condensação ocorre quando o vapor de água sobe para altitudes mais altas e frias na atmosfera, se esfria e se transforma em gotículas de água, formando nuvens. Quando as gotículas nas nuvens se juntam e ficam grandes o suficiente, elas caem na forma de precipitação (chuva, neve, granizo ou neblina) de volta para a superfície da Terra.

Na infiltração, parte da água que atinge a superfície penetra no solo e é absorvida, abastecendo lençóis freáticos e aquíferos subterrâneos. Parte da água infiltrada continua a se mover lentamente para níveis mais profundos do solo através do processo de percolação, reabastecendo aquíferos e abastecendo fontes subterrâneas.

A água que não se infiltra no solo flui pela superfície da Terra como escoamento superficial, alimentando rios, lagos e oceanos. A maior parte da água dos rios e do escoamento superficial acaba voltando para os oceanos, que são os maiores reservatórios de água do planeta. O ciclo então se reinicia, com a água evaporando novamente.

O ciclo da água é crucial para a distribuição de água doce, que é essencial para a vida. Ele mantém os ecossistemas equilibrados, regula o clima e reabastece as fontes de água potável. O ciclo hidrológico está diretamente conectado a outros ciclos naturais, como o ciclo do carbono e o ciclo de nutrientes, desempenhando um papel fundamental no funcionamento do planeta.

Ao longo de bilhões de anos, o ciclo da água manteve a distribuição e a circulação da água na Terra, sendo essencial para a vida como a conhecemos. Embora grande parte da água terrestre tenha origem primordial, esse ciclo é crucial para a sustentação dessa substância vital.

 

O ciclo da água é o processo natural e contínuo de circulação da água na Terra, que envolve sua movimentação entre a superfície, a atmosfera e o subsolo. Esse ciclo é impulsionado pela energia do sol e pela gravidade, e é essencial para manter o equilíbrio dos ecossistemas e disponibilizar água para os seres vivos. O Sol é a grande fonte de energia que afeta o seu ciclo. A energia solar provoca a evaporação de quantidades enormes de água dos oceanos, mares, rios e lagos para a atmosfera e é o motor que movimenta esse ciclo.

O ciclo da água na Terra compreende várias etapas que são a evaporação, quando a energia do sol aquece corpos d'água, como oceanos, rios e lagos, fazendo com que a água líquida se transforme em vapor de água e suba para a atmosfera. A evapotranspiração é o processo de liberação de vapor de água pelas plantas durante a transpiração. A condensação ocorre quando o vapor de água sobe para altitudes mais altas e frias na atmosfera, se esfria e se transforma em gotículas de água, formando nuvens. Quando as gotículas nas nuvens se juntam e ficam grandes o suficiente, elas caem na forma de precipitação (chuva, neve, granizo ou neblina) de volta para a superfície da Terra.

Na infiltração, parte da água que atinge a superfície penetra no solo e é absorvida, abastecendo lençóis freáticos e aquíferos subterrâneos. Parte da água infiltrada continua a se mover lentamente para níveis mais profundos do solo através do processo de percolação, reabastecendo aquíferos e abastecendo fontes subterrâneas.

A água que não se infiltra no solo flui pela superfície da Terra como escoamento superficial, alimentando rios, lagos e oceanos. A maior parte da água dos rios e do escoamento superficial acaba voltando para os oceanos, que são os maiores reservatórios de água do planeta. O ciclo então se reinicia, com a água evaporando novamente.

O ciclo da água é crucial para a distribuição de água doce, que é essencial para a vida. Ele mantém os ecossistemas equilibrados, regula o clima e reabastece as fontes de água potável. O ciclo hidrológico está diretamente conectado a outros ciclos naturais, como o ciclo do carbono e o ciclo de nutrientes, desempenhando um papel fundamental no funcionamento do planeta.

Ao longo de bilhões de anos, o ciclo da água manteve a distribuição e a circulação da água na Terra, sendo essencial para a vida como a conhecemos. Embora grande parte da água terrestre tenha origem primordial, esse ciclo é crucial para a sustentação dessa substância vital.

 

A INFLUÊNCIA DA LUA E DO SOL SOBRE A ÁGUA NA TERRA

 

Os corpos celestes, especialmente a Lua e o Sol, exercem influências significativas sobre as águas do planeta Terra.  O cosmos influencia o comportamento da água na hidrosfera e na biosfera.

As diversas fases da lua têm distintos efeitos de atração sobre os líquidos.

As principais influências são as marés, causadas pela interação gravitacional entre a Terra, a Lua e o Sol, que faz com que a água dos oceanos se mova. Essas interações afetam não apenas o movimento das águas oceânicas, mas também têm implicações importantes para a circulação oceânica, ecossistemas marinhos e fenômenos climáticos costeiros.

Os oceanos pulsam conforme as marés, atraídos pela lua e pelo sol. Um vídeo do Greenpeace mostra a respiração da Terra, nesse pulsar. As marés influenciam as correntes marítimas costeiras, que, por sua vez, afetam o transporte de calor, nutrientes e organismos marinhos. Elas ajudam a misturar as águas superficiais e profundas, influenciando a distribuição de temperatura e salinidade nos oceanos. Marés extremas podem influenciar eventos climáticos costeiros, como tempestades e inundações, especialmente durante tempestades coincidentes com marés altas.

Essas variações na altura das marés têm impacto na vida marinha, na navegação e em atividades costeiras. Além disso, o atrito entre a água e o fundo do oceano pode dissipar energia, o que leva a uma pequena desaceleração na rotação da Terra ao longo do tempo. Isso faz com que a duração do dia aumente gradualmente, um fenômeno conhecido como desaceleração da rotação terrestre devido às marés.

A atração da Lua provoca marés nos oceanos, mares e nas águas continentais, causando variações periódicas no nível da água. A atração gravitacional da Lua gera uma protuberância na água do lado mais próximo da Lua e do lado oposto da Terra (lado afastado), resultando em duas marés altas e duas marés baixas por dia na maioria das áreas costeiras. A força gravitacional é mais forte no lado da Terra mais próximo à Lua, puxando a água e formando uma maré alta. No lado oposto da Terra, a inércia da água (devido à rotação da Terra) causa uma maré alta, mesmo que a força gravitacional da Lua seja menor. Entre essas duas marés altas, ocorrem marés baixas. A Terra experimenta duas marés altas e duas marés baixas aproximadamente a cada 24 horas e 50 minutos, devido à rotação da Terra e ao movimento da Lua ao redor da Terra.



Figura: Marés - Fonte Wikipedia

 

O calendário da agricultura biodinâmica criada por Rudolf Steiner considera a influência da lua e dos planetas sobre as diversas plantas, e orienta sobre os melhores momentos para se semear, transplantar, capinar, bater manteiga, bem como os momentos que não são propícios e que são bons para descansar.

A seiva dos vegetais é atraída para cima nas fases da lua cheia e crescente e menos atraída nas fases minguante e na lua nova. A força de atração da lua sobre os líquidos na seiva condiciona as decisões sobre o melhor momento para a poda das árvores. A lua minguante e a lua nova são bons momentos para se fazer a poda. A maior quantidade de seiva na lua crescente e na lua cheia torna essas fases propícias para o plantio. Raízes e tubérculos se beneficiam da maior quantidade de seiva sob a terra e podem ser plantados na fase minguante e na lua nova.




Os corpos humanos são 70% de água, que é influenciada pela atração gravitacional da lua.  A força de atração da lua sobre os líquidos nos corpos dos animais influencia na gestação. Os ciclos lunares de 28 dias correspondem aos ciclos menstruais nas mulheres. Assim também, associa-se os partos e a fertilidade com as fases da lua e especialmente com a lua cheia.

Outras influências da lua, menos físicas e mais psicológicas e subjetivas acontecem nos seres vivos, animais e humanos. Os humores, o estado de espírito, os estados emocionais também estão sujeitos a influências da lua.

Esses são alguns dos exemplos de como o comportamento da água é influenciado por forças externas ao planeta terra. A cosmosfera influi sobre a hidrosfera de modos ainda pouco conhecidos e reconhecidos. Como a lua está bem próxima da Terra, sua influência é evidente e facilmente perceptível. Assim como a lua, outros corpos celestes também exercem força gravitacional. Essa força é menos perceptível e mais sutil.

Embora o Sol esteja muito mais distante da Terra do que a Lua, sua enorme massa exerce uma influência gravitacional significativa sobre as marés. Embora tenham uma influência gravitacional muito menor em comparação com a Lua e o Sol devido à sua grande distância, Júpiter e Saturno, os maiores planetas do sistema solar podem causar pequenas variações nas marés terrestres.

ORIGEM DA ÁGUA NA TERRA

 

O astrônomo e divulgador das ciências Carl Sagan disse que todos somos poeiras de estrelas.  Essa é uma parte da verdade. Somos também água de estrelas.

Há várias hipóteses para a origem da água existente na Terra.  Alguns propõem que ela surgiu a partir do choque de corpos celestes gelados provenientes da nuvem de Oort. Essa nuvem pode abrigar entre um e cem bilhões de cometas e asteroides, está localizada a quase um ano-luz do Sol e sua parte externa define o limite gravitacional do Sistema Solar.  As nuvens interestelares que dão origem a estrelas e planetas contêm moléculas de água em sua composição. Ela teria vindo especificamente do cinturão de Kuiper, existente para além da órbita de Netuno, onde existem mais de 100 mil corpos celestes compostos principalmente de gelo de água e outros materiais.

 



A água no Cinturão de Kuiper e na nuvem de Oort. Fonte: Wikimedia

Outros estudos astronômicos propõem que ela tenha vindo do cinturão de asteroides situado entre as órbitas de Marte e de Júpiter e do grupo dos asteroides troianos na órbita de Júpiter.

Acredita-se que a maior parte da água presente no nosso planeta tenha origem nos primeiros estágios do sistema solar, há cerca de 4,6 bilhões de anos, quando a Terra estava se formando a partir da nebulosa solar. O cosmos é a origem da substância que se formou na junção do hidrogênio com o oxigênio. Cada vez mais se constata a presença da água líquida em inúmeros corpos celestes, como por exemplo em Europa, uma das luas de Júpiter ou em Titã, lua de Saturno, que contêm água congelada em sua superfície e subsuperfície.

A água pode ter sido trazida por cometas e asteroides que colidiram com a Terra durante o período conhecido como "bombardeio pesado tardio", aproximadamente entre 4,1 e 3,8 bilhões de anos atrás. Esses corpos celestes continham grandes quantidades de gelo e compostos voláteis, contribuindo para a quantidade de água no planeta. Ela viaja pelo espaço nas caudas dos cometas, compostos principalmente de gelo de água misturado com poeira e outros materiais e é aspergida sobre os corpos celestes que passam por suas órbitas. A hipótese da panspermia vê os cometas como espermatozoides cósmicos que fecundam os corpos celestes (óvulos) em seu caminho e ali criam as condições para florescer a vida.

Inicialmente, a atmosfera primitiva da Terra era composta principalmente por vapor d'água, proveniente de processos vulcânicos e de impactos de cometas e asteroides ricos em gelo. À medida que o planeta esfriava, a água começou a condensar-se e cair na forma de chuva, formando os oceanos primitivos.

 A Terra tornou-se um lugar com água em estado líquido, atmosfera, solo fértil, elementos favoráveis à vegetação e à vida animal. No deserto dos espaços siderais interplanetários a Terra tornou-se um oásis com condições ambientais propícias ao surgimento e evolução da vida.

Nesse campo sempre surgem novidades. Novas descobertas são feitas regularmente à medida que se expande nossa compreensão do cosmos e do planeta. Recentemente divulgou-se a existência de um vasto oceano subterrâneo na Terra, de onde pode ter se originado a água líquida existente no planeta.[1]

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

ARQUITETURA E ÁGUA

 

A arquitetura é a principal expressão das artes espaciais. Ela organiza o espaço tridimensional, considerando aspectos como proporção, textura, escala e funcionalidade. Ao projetar edifícios e estruturas, os arquitetos criam experiências espaciais que influenciam a maneira como os usuários interagem com o ambiente construído. A arquitetura envolve arte, ciência, técnica construtiva, domínio dos espaços, da sombra e da luz.

Muitas vezes está associada à pintura (por exemplo a obra de Michelangelo na Capela Sistina no Vaticano), à escultura (as estátuas dos templos gregos e hindus), ao paisagismo, ao urbanismo, às artes do mobiliário, à tapeçaria.



Piscina integrada ao paisagismo num hotel à beira mar em Salvador na Bahia.

A água condicionou historicamente a arquitetura. A água é frequentemente integrada aos edifícios por meio de cisternas, fontes, espelhos d’água e sistemas de coleta de chuva. Fontes, piscinas e cascatas são usadas para criar uma conexão visual e auditiva com a água, promovendo calma e bem-estar.  Esses elementos desempenham, ainda, papéis práticos.



Um espelho d’água reflete a imagem do Taj Mahal, em Agra, na Índia.

Entre as obras de arquitetura mais conhecidas que utilizam a água como elemento central estão a Ópera de Sydney (Austrália). a Casa das Cascatas (Fallingwater, EUA) projetada por Frank Lloyd Wright, o Museu de Arte Islâmica (Qatar) o complexo futurista de Marina Bay Sands (Singapura), os Jardins Flutuantes de Lily Pads (França), a Biblioteca de Alexandria (Egito), o Museu Guggenheim Bilbao (Espanha). A água é integrada em projetos monumentais, a exemplo do Taj Mahal na Índia, o Alhambra na Espanha ou o Palácio do Itamaraty em Brasília.

Os modos de se construir variam conforme se esteja num clima seco ou úmido, quente ou frio. No clima gelado do ártico, os iglus dos esquimós são casas feitas de água em estado sólido, o gelo que ali é abundante.

Construções são adaptadas ao ambiente hídrico ou ao clima, como as palafitas em áreas alagadas ou os sistemas de ventilação natural que usam a água para resfriamento.

Nos palácios islâmicos, na Índia, a água foi usada para amenizar a secura do ar e dar conforto ambiental.

. Em climas secos e desérticos busca-se trazer umidade para o ambiente construído e melhorar o conforto ambiental.

 

As fontes em jardim no palácio em Udaipur, na Índia, têm função estética e funcional, para umedecer o ar. Na arquitetura árabe, fontes e lagos nos jardins e no interior das casas umedecem o ambiente e proporcionam conforto ambiental e térmico. Nela, a captação de água de chuva e seu depósito em cisternas é uma prática milenar. 

No planalto central brasileiro umidificadores de ar são valiosos para melhorar o bem-estar nos períodos secos.  Em Brasília, espelhos d’água umedecem o ambiente nos períodos quentes e secos e a evaporação no lago do Paranoá ameniza a secura.

Em muitas partes, foram construídas palafitas, casas sobre as águas.

Em climas úmidos, é um objetivo evitar o contato excessivo dela com a edificação. Beirais e varandas reduzem o desgaste causado nas construções pela água de chuva; azulejos protegem paredes, fachadas e áreas úmidas internas, tais como banheiros e cozinhas A proteção interna contra a umidade provê higiene e salubridade, evitando as doenças relacionadas com o ambiente interno úmido. A ventilação natural e a entrada de luz solar são recursos valiosos para reduzir a umidade. Telhados e coberturas bem construídos protegem o interior das casas das indesejáveis goteiras durante chuvas fortes. Para evitar que suba por capilaridade pelas paredes, as casas são projetadas suspensas do solo.  

No contexto da adaptação às emergências climáticas, a água tem importância redobrada para a arquitetura e a construção de abrigos e requer reforços nas estruturas para resistir aos eventos climáticos extremos.

No Japão rural, a água condiciona a escolha de áreas para se construir. Evita-se a construção em declives onde há enxurradas fortes e evita-se construir nos fundos de vales úmidos e insalubres, sujeitos a enchentes.

Nas edificações, as águas usadas têm diferentes qualidades: as cinzas passaram pelo chuveiro e lavabo e podem ser reaproveitadas em usos que necessitam menor qualidade; águas negras passaram pelos vasos sanitários. Elas são diferenciadas: as águas amarelas receberam urina e as marrons receberam fezes. Elas podem ser tratadas e reaproveitadas para usos menos exigentes.

Projetos de casas autônomas fazem com que elas se auto abasteçam. Biopiscinas são crescentemente usadas, com tratamento biológico. Em ecovilas, sanitários secos e tratamento biológico são soluções adotadas.

 Em contextos rurais em que não há energia elétrica ou outro meio para bombear, a escolha de onde construir leva em consideração o essencial abastecimento por gravidade.

Na bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiaí - PCJ construiu-se casa modelo para uso racional de água e energia elétrica, envolvendo as áreas de construção civil, arquitetos e engenheiros. Estimou-se que tal casa pode economizar até 60% no consumo. Paredes hidráulicas com as tubulações internas de cozinha e banheiro são soluções de projeto mais econômicas.

 

A legislação de construções de Curitiba criou o programa de conservação e uso racional da água nas edificações. A água de chuva coletada é usada para todos os usos não potáveis. Isso reduz a conta a ser paga e o volume que escorre nas enxurradas.  Para dar melhor aproveitamento às águas, alguns municípios tornam obrigatória a implantação de sistema para retenção de águas pluviais coletadas por telhados, terraços, coberturas e pavimentos descobertos, em lotes que tenham área impermeabilizada. As licenças para os parcelamentos do solo, projetos de habitação, obras e instalações ficam condicionadas ao cumprimento dessas normas.

Alguns municípios adotam programas de conservação e uso racional e reuso em edificações, visando a reduzir desperdícios. Outros municípios têm hidratado a legislação municipal de uso e ocupação do solo, códigos de obras e de posturas, o que pode torná-los cidades hidricamente conscientes, que sintonizam a legislação urbanística com a legislação de recursos hídricos.

Em contextos urbanos modernos há relação entre o gasto de água e o de energia para seu aquecimento. Um modo de atuar junto a usuários é educá-los pelo bolso. Para reduzir desperdícios, alguns municípios adotam códigos de obras que exigem a hidrometração individual, na qual cada unidade paga pelo que consome. A instalação de hidrometria individualizada em cada domicílio pode reduzir consumos, já que a conta é mais alta para quem gasta mais.  A hidrometração coletiva induz ao desperdício, pois a conta é rateada num valor médio entre todos e quem consome mais paga relativamente menos.

 

Coletores solares para aquecer água economizam na conta de energia e reduzem o consumo, ao reduzirem as distâncias para ela chegar quente aos chuveiros.  Em novos projetos, esse é um recurso valioso. Há a necessidade de aprender como reduzir o consumo e desenvolver tecnologias que levem à redução de desperdícios.

O arquiteto hidroconsciente pode atuar em várias frentes: ao conceber o projeto arquitetônico de modo integrado com o projeto hidráulico e de uso de energia solar; ao especificar componentes da construção que economizem ou reusem, ao aproveitar água de chuva, ao influir na aprovação de legislação municipal de obras que induza a economia, seu aproveitamento e reuso. Retrofits ou reformas para tornar as edificações antigas mais eficientes são métodos para adaptá-las a tempos em que ela se torna escassa e mais cara.

Os arquitetos e engenheiros podem projetar ambientes construídos que se relacionem de modo harmônico com a água e nos quais ela esteja integrada.

HIDROSOFIA

 

A palavra água vem de origem latina (aqua), que originou palavras como aquário, aquático, aquoso etc. Palavras que designam lugares batizados pelos povos originários têm a partícula í , que se refere à água: Itororó é bica d’água; Pitangui, rio das crianças; Itamaraty, água entre pedras soltas; igarapé é caminho das canoas.

 Muitas palavras em português se compõem com origens no grego: logos (estudo científico); nomos (lei ou regra); grafos (escrita); sofia (sabedoria). O vocábulo grego hidro designa a água. Dessa combinação derivam os vocábulos hidrologia, hidrografia, hidrometria, hidroponia, hidrofilia, hidrofobia, cada qual com seus significados. A hidrofobia (sinal diagnóstico da raiva nos animais mamíferos, inclusive no homem) é uma doença viral aguda e mortal. A hidrofilia caracteriza as moléculas que têm afinidade com a água.  Outras palavras podem ser compostas, em neologismos que servem para designar realidades e ideias ainda sem nome: hidrosofia, por exemplo.

Em sua origem no grego a palavra "Hidrosofia” significa sabedoria sobre a água (hidro - água; sofia - saber).  Na Grécia Antiga era conhecida como Sofia a Deusa da sabedoria, da estratégia e da justiça.

A palavra não é amplamente utilizada em áreas acadêmicas e científicas, praticamente não existe quando se faz uma busca no Google ou em programas de inteligência artificial. Até o momento o vocábulo hidrosofia foi usado apenas para fazer a publicidade de uma combinação de nutrientes num copo d’água que teria o poder de fazer bem à saúde; numa obra de arte de um designer intitulada hydrosophy; e num jogo eletrônico. [1]

Hidrosofia: essa palavra que ainda não existe nos dicionários significa a sabedoria sobre a água. Tem um significado mais amplo e abrange um campo maior do que a hidrologia, o estudo científico da água. 


Os espelhos d’água em áreas urbanas são lugares de descanso e meditação.


Enquanto a hidrologia busca entender a água como fenômeno natural, a hidrosofia procura entender nossa relação com a água. Ambas são essenciais para enfrentar os desafios globais relacionados à água de maneira integrada. A diferença entre Hidrosofia e Hidrologia está na natureza e no propósito de cada abordagem, pois elas se referem a campos distintos, mas complementares, de compreensão das águas. A hidrosofia abarca o conhecimento geral e não apenas aquele produzido e comunicado por especialistas. Inclui além do conhecimento científico, outros modos de conhecer e de saber. Embora distintas, Hidrosofia e Hidrologia podem se complementar. A Hidrologia fornece os dados e as ferramentas científicas necessárias para compreender os sistemas hídricos. A Hidrosofia ajuda a contextualizar esses conhecimentos em uma perspectiva ética e cultural, orientando a tomada de decisões para um uso mais sábio e harmonioso das águas.

Diferenças Fundamentais entre Hidrosofia e Hidrologia

Aspecto

Hidrosofia

Hidrologia

Natureza

Filosófica e ética

   Científica e técnica

Método

Reflexivo, simbólico,  cultural

 Experimental, analítico e matemático

Objetivo

Promover consciência,  respeito

Solucionar problemas técnicos e entender fenômenos naturais

Foco

Relação humana-água

Comportamento físico da água

Aplicação

Ética ambiental, educação, artes

Gestão hídrica, infraestrutura, previsão de desastres

 

A Hidrosofia é um conceito mais recente e filosófico, que se refere à sabedoria das águas. Promove uma visão holística, conectando aspectos ecológicos, éticos, culturais e espirituais da água. Não se limita ao aspecto técnico ou científico, mas busca integrar valores, significados e práticas para um relacionamento mais respeitoso e sustentável com as águas. Tem como objetivo sensibilizar para a importância da água como um elemento vital e sagrado, inspirando atitudes mais conscientes e éticas em sua gestão e uso. É transdisciplinar e envolve filosofia, ética, antropologia, espiritualidade e artes. Promove reflexões sobre o papel simbólico dos rios em diferentes culturas e como isso pode influenciar práticas de conservação. Se não existe no vocabulário corrente, já acontecem na vida prática e no mundo real diversas situações em que a água é compreendida e cuidada com sabedoria, seja entre os povos ancestrais que a sacralizam, seja em boas práticas contemporâneas.

A água merece ser vista a partir de diversos ângulos e de diversos campos do conhecimento humano, tais como as ciências, as artes, as tradições espirituais e sapienciais, a intuição e as filosofias. Complementarmente, eles contribuem para construir uma abordagem holística, numa variedade de modos de se abordar o tema: do teórico ao prático, do abstrato ao conceitual, num mosaico de percepções.

Na hidrosofia, os seres humanos são vistos como parte integrante do ciclo da água que circula por seus corpos. A água deixa de ser vista como um objeto externo ao corpo e passa a ser percebida como parte do sujeito que pensa sobre ela e a sente. O ser humano - corpo, mente, emoções, espírito e alma - é visto de forma integrada com os processos globais. Restabelecem-se os vínculos de comunhão entre o homo sapiens sapiens (o ser que sabe que sabe) e a água.

De onde vem a sabedoria do homo sapiens?  Os dados coletados, a informação que é elaborada a partir deles, o conhecimento de como usar com prudência essas informações podem ser importantes e necessários, porém não são suficientes para criar uma relação sábia do homo sapiens com a água. Em meio ao excesso de dados, informações, conhecimentos técnicos e científicos procura-se alcançar a sabedoria hidrológica. Ela é uma sabedoria que permita discernir para extrair da natureza o que é necessário para sustentar a vida e ao mesmo tempo garantir as normas, regras e prioridades que não prejudiquem a integridade dos ecossistemas e dos hidrossistemas. A intuição, o insight e as revelações surgem muitas vezes por meio da conexão direta com uma sabedoria universal existente na natureza, captada pelas antenas da percepção e da consciência humana.

A hidrosofia ultrapassa o racionalismo, o intelectualismo e o cientificismo, que não têm sido capazes de evitar a exaustão das águas e os maus tratos que recebe na abordagem estritamente utilitarista. Ela se abre em direção à experimentação comunitária e social, compreendendo a metamorfose que está em curso no planeta. De certo modo a hidrosofia resgata as relações com a água desenvolvidas por alguns povos originários, como os maoris na Nova Zelândia, que a consideravam sagrada e um ente que não é apenas um objeto, mas uma pessoa.

Abordar a água pelo ângulo da hidrosofia abre o olhar para outras dimensões e modelos mentais e para outras possibilidades de lidar e se relacionar com ela de modo amigável, harmonioso e orgânico.

Quando se consolidar como um campo dos saberes, a hidrosofia catalisará os movimentos na busca de uma hidrologia integral e transdisciplinar.

Nesse sentido, a hidrosofia é uma virtualidade, uma meta, um objetivo a ser buscado e alcançado, por meio de uma abordagem que faça uso dos grandes modos de apreensão da realidade: a cultura, as artes, as ciências, as filosofias e as tradições sapienciais ou espirituais.



[1] No jogo Divinity: Original Sin 2. "Hydrosofista" se refere a uma habilidade de personagens que utilizam poderes de cura e controle da água. Nesse jogo as habilidades hidrosóficas são magias que envolvem controle de elementos aquáticos para curar aliados ou afetar o terreno ao redor. São habilidades usadas para apoiar a equipe de jogo por meio de cura e mitigação de efeitos negativos.