segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

ARQUITETURA E ÁGUA

 

A arquitetura é a principal expressão das artes espaciais. Ela organiza o espaço tridimensional, considerando aspectos como proporção, textura, escala e funcionalidade. Ao projetar edifícios e estruturas, os arquitetos criam experiências espaciais que influenciam a maneira como os usuários interagem com o ambiente construído. A arquitetura envolve arte, ciência, técnica construtiva, domínio dos espaços, da sombra e da luz.

Muitas vezes está associada à pintura (por exemplo a obra de Michelangelo na Capela Sistina no Vaticano), à escultura (as estátuas dos templos gregos e hindus), ao paisagismo, ao urbanismo, às artes do mobiliário, à tapeçaria.



Piscina integrada ao paisagismo num hotel à beira mar em Salvador na Bahia.

A água condicionou historicamente a arquitetura. A água é frequentemente integrada aos edifícios por meio de cisternas, fontes, espelhos d’água e sistemas de coleta de chuva. Fontes, piscinas e cascatas são usadas para criar uma conexão visual e auditiva com a água, promovendo calma e bem-estar.  Esses elementos desempenham, ainda, papéis práticos.



Um espelho d’água reflete a imagem do Taj Mahal, em Agra, na Índia.

Entre as obras de arquitetura mais conhecidas que utilizam a água como elemento central estão a Ópera de Sydney (Austrália). a Casa das Cascatas (Fallingwater, EUA) projetada por Frank Lloyd Wright, o Museu de Arte Islâmica (Qatar) o complexo futurista de Marina Bay Sands (Singapura), os Jardins Flutuantes de Lily Pads (França), a Biblioteca de Alexandria (Egito), o Museu Guggenheim Bilbao (Espanha). A água é integrada em projetos monumentais, a exemplo do Taj Mahal na Índia, o Alhambra na Espanha ou o Palácio do Itamaraty em Brasília.

Os modos de se construir variam conforme se esteja num clima seco ou úmido, quente ou frio. No clima gelado do ártico, os iglus dos esquimós são casas feitas de água em estado sólido, o gelo que ali é abundante.

Construções são adaptadas ao ambiente hídrico ou ao clima, como as palafitas em áreas alagadas ou os sistemas de ventilação natural que usam a água para resfriamento.

Nos palácios islâmicos, na Índia, a água foi usada para amenizar a secura do ar e dar conforto ambiental.

. Em climas secos e desérticos busca-se trazer umidade para o ambiente construído e melhorar o conforto ambiental.

 

As fontes em jardim no palácio em Udaipur, na Índia, têm função estética e funcional, para umedecer o ar. Na arquitetura árabe, fontes e lagos nos jardins e no interior das casas umedecem o ambiente e proporcionam conforto ambiental e térmico. Nela, a captação de água de chuva e seu depósito em cisternas é uma prática milenar. 

No planalto central brasileiro umidificadores de ar são valiosos para melhorar o bem-estar nos períodos secos.  Em Brasília, espelhos d’água umedecem o ambiente nos períodos quentes e secos e a evaporação no lago do Paranoá ameniza a secura.

Em muitas partes, foram construídas palafitas, casas sobre as águas.

Em climas úmidos, é um objetivo evitar o contato excessivo dela com a edificação. Beirais e varandas reduzem o desgaste causado nas construções pela água de chuva; azulejos protegem paredes, fachadas e áreas úmidas internas, tais como banheiros e cozinhas A proteção interna contra a umidade provê higiene e salubridade, evitando as doenças relacionadas com o ambiente interno úmido. A ventilação natural e a entrada de luz solar são recursos valiosos para reduzir a umidade. Telhados e coberturas bem construídos protegem o interior das casas das indesejáveis goteiras durante chuvas fortes. Para evitar que suba por capilaridade pelas paredes, as casas são projetadas suspensas do solo.  

No contexto da adaptação às emergências climáticas, a água tem importância redobrada para a arquitetura e a construção de abrigos e requer reforços nas estruturas para resistir aos eventos climáticos extremos.

No Japão rural, a água condiciona a escolha de áreas para se construir. Evita-se a construção em declives onde há enxurradas fortes e evita-se construir nos fundos de vales úmidos e insalubres, sujeitos a enchentes.

Nas edificações, as águas usadas têm diferentes qualidades: as cinzas passaram pelo chuveiro e lavabo e podem ser reaproveitadas em usos que necessitam menor qualidade; águas negras passaram pelos vasos sanitários. Elas são diferenciadas: as águas amarelas receberam urina e as marrons receberam fezes. Elas podem ser tratadas e reaproveitadas para usos menos exigentes.

Projetos de casas autônomas fazem com que elas se auto abasteçam. Biopiscinas são crescentemente usadas, com tratamento biológico. Em ecovilas, sanitários secos e tratamento biológico são soluções adotadas.

 Em contextos rurais em que não há energia elétrica ou outro meio para bombear, a escolha de onde construir leva em consideração o essencial abastecimento por gravidade.

Na bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiaí - PCJ construiu-se casa modelo para uso racional de água e energia elétrica, envolvendo as áreas de construção civil, arquitetos e engenheiros. Estimou-se que tal casa pode economizar até 60% no consumo. Paredes hidráulicas com as tubulações internas de cozinha e banheiro são soluções de projeto mais econômicas.

 

A legislação de construções de Curitiba criou o programa de conservação e uso racional da água nas edificações. A água de chuva coletada é usada para todos os usos não potáveis. Isso reduz a conta a ser paga e o volume que escorre nas enxurradas.  Para dar melhor aproveitamento às águas, alguns municípios tornam obrigatória a implantação de sistema para retenção de águas pluviais coletadas por telhados, terraços, coberturas e pavimentos descobertos, em lotes que tenham área impermeabilizada. As licenças para os parcelamentos do solo, projetos de habitação, obras e instalações ficam condicionadas ao cumprimento dessas normas.

Alguns municípios adotam programas de conservação e uso racional e reuso em edificações, visando a reduzir desperdícios. Outros municípios têm hidratado a legislação municipal de uso e ocupação do solo, códigos de obras e de posturas, o que pode torná-los cidades hidricamente conscientes, que sintonizam a legislação urbanística com a legislação de recursos hídricos.

Em contextos urbanos modernos há relação entre o gasto de água e o de energia para seu aquecimento. Um modo de atuar junto a usuários é educá-los pelo bolso. Para reduzir desperdícios, alguns municípios adotam códigos de obras que exigem a hidrometração individual, na qual cada unidade paga pelo que consome. A instalação de hidrometria individualizada em cada domicílio pode reduzir consumos, já que a conta é mais alta para quem gasta mais.  A hidrometração coletiva induz ao desperdício, pois a conta é rateada num valor médio entre todos e quem consome mais paga relativamente menos.

 

Coletores solares para aquecer água economizam na conta de energia e reduzem o consumo, ao reduzirem as distâncias para ela chegar quente aos chuveiros.  Em novos projetos, esse é um recurso valioso. Há a necessidade de aprender como reduzir o consumo e desenvolver tecnologias que levem à redução de desperdícios.

O arquiteto hidroconsciente pode atuar em várias frentes: ao conceber o projeto arquitetônico de modo integrado com o projeto hidráulico e de uso de energia solar; ao especificar componentes da construção que economizem ou reusem, ao aproveitar água de chuva, ao influir na aprovação de legislação municipal de obras que induza a economia, seu aproveitamento e reuso. Retrofits ou reformas para tornar as edificações antigas mais eficientes são métodos para adaptá-las a tempos em que ela se torna escassa e mais cara.

Os arquitetos e engenheiros podem projetar ambientes construídos que se relacionem de modo harmônico com a água e nos quais ela esteja integrada.

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