terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

HIDROLOGIAS

 A palavra hidrologia significa o estudo científico da água. A Hidrologia é uma ciência natural que estuda o ciclo da água na Terra, incluindo sua distribuição, movimento e propriedades nos diversos compartimentos, como rios, lagos, oceanos, atmosfera e aquíferos. Baseia-se em métodos quantitativos e empíricos para entender os processos hidrológicos e prever fenômenos como enchentes, secas e disponibilidade hídrica. Seu objetivo é prover dados e soluções técnicas para a gestão e uso sustentável da água, mitigação de desastres naturais e planejamento de recursos hídricos. É interdisciplinar ao envolver geologia, meteorologia, química, física, matemática e engenharia.

O campo geral de estudo da hidrologia se desdobra em inúmeros campos específicos, cada qual cobrindo um aspecto do tema. A hidrologia especializada e focada em questões quantitativas é útil para a gestão e a tomada de decisões para obras de infraestrutura. Os especialistas em recursos hídricos, de várias profissões e formações acadêmicas dominam aspectos específicos e práticos do conhecimento sobre a água, aplicados para fins de gestão ou de engenharia e construção de obras hídricas.

A hidrologia especializada usa um dialeto, o  hidrologuês, um jargão hermético e de difícil compreensão para os leigos, a quem são estranhos os conceitos e termos como curvas-chave, linhas de base, hidrograma ecológico, hidrograma unitário sintético, modelagem chuva-vazão, vazões mínimas de referência, estresse hídrico, tempo de concentração, período de retorno, volumes de espera, série temporal não-estacionária, regularização de reservatórios, vazão regularizada, rios intermitentes, alocação negociada, balanço hídrico, curvas de permanência, curvas de aversão ao risco etc.

Tal abordagem quantitativa tem sua base na coleta de dados sobre chuva e vazão de rios. Equipamentos tais como pluviógrafo, pluviômetro de proveta, réguas de cálculo, amostrador de sedimentos, anemômetro de solo, piranógrafo, flutuador, radiômetro, molinete, sonda Doppler, ecobatímetro, mini Cartan (para medir a velocidade do fluxo), cadernos para anotar observações de campo, compõem a caixa de ferramentas dos hidrometristas que observam os dados em campo e os transmitem para serem analisados e produzir informações estatísticas e séries históricas que são básicas para a tomada de decisões. 


Equipamentos para a hidrometria.

A hidrologia estatística enfatiza aspectos quantitativos valiosos para a gestão.  A hidrologia aplicada focaliza questões relacionadas com o uso dos recursos hídricos, tais como os planos de bacias hidrográficas, o abastecimento e a drenagem urbana, os aproveitamentos hidroelétricos, a erosão, as poluições e a qualidade. Relaciona-se com o projeto e a construção de obras de engenharia e de infraestrutura hidráulica – reservatórios, represas, aquedutos, canais, portos – e com as práticas de gerenciamento. Em aspectos práticos, técnicos, gerenciais e administrativos, conhecimentos hidrológicos quantitativos embasam a tomada de decisão.

A hidrologia espacial é um campo emergente que faz uso de satélites, de sensoriamento remoto e observações a partir do espaço, com as tecnologias mais recentes. A hidrologia isotópica estuda os isótopos de hidrogênio e oxigênio nas moléculas de água e a informação que eles trazem sobre a origem daquela molécula, a idade das águas subterrâneas e diversos outros aspectos.

Os campos da glaciologia ou criologia estudam o gelo; a hidro-meteorologia estuda sua presença na atmosfera, a limnologia estuda as extensões de água doce, como os lagos e pântanos; a hidrostática, a hidrocinética, a hidrodinâmica, estudam seus aspectos físicos, a hidrografia estuda as águas correntes, a oceanografia estuda as águas oceânicas e a hidrogeologia estuda as subterrâneas. O campo da hidro cosmologia estuda a que existe no cosmos e nos corpos celestes, como as caudas dos cometas.

A hidrologia ambiental fornece o conhecimento de base para os especialistas em recursos hídricos atuarem em planos, na medição de chuvas e de vazões de rios, no cálculo das águas disponíveis, na medição dos aspectos físicos, químicos e biológicos que revelam a sua qualidade.

Devido à sua importância política e social surgiram os campos da hidropolítica e da hidrologia social, bem como a hidrologia urbana.

O campo da hidrologia médica trata das curas medicinais por meio da crenoterapia nas estâncias hidrominerais, bem como das hidroterapias com agentes terapêuticos.

Não seria incorreto designar o campo da hidrologia como hoje praticada como hidronomia, fazendo um paralelo com as diferenças entre ecologia (oikos+logos) e economia (oikos+nomos). Ambos os campos estudam a casa (oikos), um deles com uma visão mais abrangente e outro com uma visão mais focada em aspectos quantitativos.

Na perspectiva utilitária, o conhecimento técnico e científico das várias hidrologias é valioso para gerenciar os usos dos recursos hídricos. Nessa visão eles são um objeto com valor econômico, do qual se pode dispor para atender demandas. Não se questionam criticamente essas demandas para avaliar se são prioritárias ou se seria melhor deixar de usar esses recursos para preservar um patrimônio natural, para a contemplação, para que água exista livremente, com um bom estado ecológico de qualidade que possa cumprir seu papel nos ecossistemas.

Especialistas sabem muito sobre pouco e perdem a visão panorâmica. Decisões baseadas apenas em sua visão podem causar estragos e danos. Dispor de competência técnica e científica é necessário, porém insuficiente para obter resultados socialmente justos. Do mesmo modo como, na medicina, um clínico geral diagnostica o estado de saúde do organismo a partir de uma visão holística e depois o paciente é encaminhado para um especialista, também no campo das águas é importante não perder essa visão panorâmica geral.

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