A espiral da evolução na planta de Auroville |
Sri Aurobindo ashram , Delhi. |
Estátua de Sri Aurobindo no ashram em Delhi. |
Em dezembro de 1977
assisti a uma palestra sobre Unidade e
fraternidade entre as nações, proferida por A.B. Patel, no Índia
International Centre, em Nova Délhi. Ele expunha o pensamento político e social
de Sri Aurobindo, registrado em três livros, respectivamente “O ciclo humano”,
“O ideal da unidade humana” e “Guerra e autodeterminação”. Para ele, indivíduos
isolados foram capazes de perceber o todo, mas as sociedades, ainda não o
fizeram. Instituições como a Organização das Nações Unidas são um começo ainda
imperfeito, e o Estado-nação não constitui o último passo na evolução política
da humanidade.
Em janeiro de 1978 reencontrei
Sri A.B. Patel em Pondicherry, onde fica a sede do ashram, a comunidade reunida em torno das ideias de Sri Aurobindo.
Patel dirigia a World Union, uma associação voltada para as questões
planetárias. Sri Patel sofrera um ataque cardíaco entre nosso primeiro e
segundo encontro e encontrei-o repousando em sua casa simples de Pondicherry.
Em nossa conversa sobre o
Brasil Sri Patel relembrou que nas primeiras décadas do século XX uma delegação
brasileira visitou a Índia buscando emigrantes que pudessem povoar o Brasil.
Naquela ocasião, o governo dos ingleses na Índia não quis facilitar a
emigração, preocupado que estava com as condições nas outras colônias e
preocupado também com a luta pela independência na Índia.
Ele finalizou nossa
conversa perguntando: E o Brasil, aspira ainda a tornar-se superpotência? referindo-se provavelmente aos sonhos
militares que naquele momento eram evidentes. Me ocorreu a imagem de uma
miragem no deserto, que se afasta à medida em que se pensa estar aproximando
dela: o Brasil se esforçando para tornar-se uma nação poderosa, quando a
própria ideia de estado-nação já se dissolve para ceder lugar a outras unidades
de organização política.
Patel me disse que as
pessoas que procuram o ashram em Pondicherry geralmente estão mais interessadas
na yoga integral e que a parte social e política da obra de Sri Aurobindo é
menos estudada.
Patel escreveu que “às
vésperas da Independência da Índia, Sri Aurobindo enviou uma mensagem à nação
indiana na qual afirmava que observara que quase todos os movimentos mundiais
que ele esperara ver alcançados em seu período de vida já se realizavam ou
estavam adiantados em seu caminho para terem sucesso, embora em seu início eles
parecessem ser sonhos irrealizáveis. No decorrer de sua mensagem ele referiu-se
a cinco sonhos; o terceiro deles era o de uma união mundial formando a base
exterior de uma vida mais justa, brilhante e nobre para toda a humanidade. Ele
afirma então que a unificação do mundo humano estava a caminho e que havia um
início imperfeito já organizado, mas que lutava contra dificuldades tremendas.
Mas o momentum estava ali, e essa unificação iria inevitavelmente crescer e
vencer. Ele também afirmou que uma catástrofe poderia ocorrer interrompendo ou
destruindo o que estava sendo feito; mesmo assim o resultado era certo, porque
a unificação era uma necessidade da Natureza e um movimento inevitável. Para
ele, a unificação do mundo era necessária para as nações porque, sem ela, a
liberdade das pequenas nações estaria sempre em perigo e a vida, mesmo das
nações grandes e poderosas, seria insegura.” (pág. 17, Towards a new world
order)
Em Pondicherry me veio às
mãos pela primeira vez a Constituição para a Federação do planeta Terra,
editada pela imprensa de Auroville e que posteriormente traduzi para o
português, publicada pela UNIPAZ.
Ainda que tanto Darwin
como Sri Aurobindo fossem evolucionistas, enquanto Darwin era formal e
materialista, para Aurobindo o motor da evolução é o espírito que faz
desenvolver a forma para se adequar a ele.
Ele questiona o historicismo já que o futuro é imprevisível e uma
extrapolação do passado não pode dar referências sobre esse futuro.
A função do Ashram, nesse
contexto, seria a de acelerar a evolução. Para Patel, a partir de meados da
década de 50 o homem vem se tornando cada vez mais capaz de fazer acontecer a
evolução, com suas próprias mãos e vontade. Ele crê que dentro de alguns anos virá a
supermente e o próximo passo da ciência e da evolução será a exploração do
universo interior.
Quando saí de Pondicherry
já conhecedor do trabalho de Sri Aurobindo sobre a unidade humana, acometeu-me
um cansaço ao vislumbrar o trabalho enorme ainda a ser feito antes de alcançar
esse ideal. A obra de Sri Aurobindo é vasta: 30 volumes foram publicados pela
Sociedade Sri Aurobindo por ocasião do centenário de seu nascimento em 1972.
Na biblioteca de
Pondicherry e posteriormente nas de outros institutos, como o da Sociedade
Teosófica em Adyar e do Centro de Estudos em Desenvolvimento em Trivandrum,
tive acesso a textos sobre o tema do mundialismo e da federação planetária.
A India é uma sociedade
com grande abertura para tais visões sobre a evolução e sobre o futuro político
e social da humanidade
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