Uma mãe instrui a criança: “Meu filho, não jogue o lixo no quintal, porque aí não é o rio”. Em pleno século XXI, os rios ainda são usados para afastar o lixo e o esgoto e as cidades voltam as costas para eles. Enquanto existirem mães que educam seus filhos com esses valores – e certamente existem milhares delas – estará sendo reproduzida uma atitude de agressão para com a água. Nas pequenas ou grandes cidades, o rio ainda é o lugar onde se despeja o esgoto sem tratamento. É lá que se joga o lixo que a água leva embora e que polui as captações de água de cidades que se estendem ao longo de rio; ou que, nas enchentes, entope os bueiros e bocas de lobo e provoca prejuízos econômicos.
Os cidadãos urbanos vivenciam fragmentos limitados do ciclo da água. Desconhecem o caminho que ela percorre até chegar à torneira e ignoram para onde ela vai quando desaparece no ralo. Pistas de rolamento para o tráfego de veículos cobrem rios, córregos, ribeirões urbanos. Avenidas sanitárias escondem os rios das cidades. Nas enchentes, eventos críticos cada vez mais freqüentes, os cidadãos urbanos têm um contato dramático com as águas, que causam prejuízos econômicos e mortes nos fundos de vales, quando os rios extravasam os caixotes em que foram confinados. As áreas de proteção de mananciais são ocupadas por habitações ou por indústrias, que poluem a águas e as consomem. A água torna-se assunto em momentos de crise, quando falta, obrigando ao racionamento ou ao rodízio ou quando se torna motivo de disputa entre cidades que dela necessitam se abastecer.
Os cidadãos urbanos desconhecem o ciclo da água que se condensa nas nuvens, precipita, escorre superficialmente ou infiltra no solo. Diferentemente de povos indígenas, agricultores ou pescadores, que têm uma noção mais integral desse ciclo, por dependerem dele para sua sobrevivência, o cidadão urbano tornou-se hidroalienado. A hidroalienação é a falta de consciência sobre como funciona o ciclo da água e a falta de conhecimento sobre como ele é alterado pela ação humana.
Os cidadãos urbanos não têm consciência das relações entre o ciclo do carbono e o ciclo da água e o fato de que, ao interferir no ciclo do carbono e aumentar a emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera, o ser humano provoca uma resposta no ciclo da água, sensível a variações de temperatura. As mudanças climáticas em curso contribuem para colocar em pauta o tema da água e da necessidade de sua gestão correta.
Tampouco tem consciência da presença da água no cosmos, de onde se origina. E muito menos ainda de seus aspectos sutis, como condutora de informação – qualidade usada na terapêutica e na homeopatia, por exemplo. De sua influência nos pensamentos e nos sentimentos (Emoto), e de linhas de pesquisa e de experimentação de ponta (ver filme Water e outros). Desconhecem também que a água circula dentro dos corpos dos animais e seres humanos, bem como dos vegetais que a devolvem à atmosfera na evapotranspiração.
A relação com a água precisa tornar-se amigável.
Para desenvolver uma relação harmônica do cidadão com a água, um primeiro passo é hidroalfabetizá-lo, dar-lhe o bê-á-bá da água. Hidroalfabetizar é promover a aprendizagem sobre a água, sua importância para a vida e como relacionar-se com ela de forma amigável; é proporcionar as noções básicas sobre o ciclo da água e sobre como a atividade humana o altera, no âmbito local ou global. (Alfabetizar é dar instrução básica e ensinar a ler e escrever. É condicionar a consciência a descobrir significados em letras, sílabas, palavras, frases, o que permite explorar o mundo da cultura e das idéias). Fritjof Capra criou na Califórnia um Centro para a Alfabetização Ecológica, ou seja, para entender como os ecossistemas sustentam a rede da vida, entender os princípios da ecologia, integrar conceitos por meio do pensamento ecológico, aprender no mundo real, criar comunidades de aprendizado, integrar a cultura da escola e o currículo. A partir daí podem-se conceber e implantar comunidades humanas sustentáveis.
Progressivamente pode-se promover a consciência hídrica, as noções sobre o ciclo da água, a presença da água no ambiente, nos corpos vivos, as manifestações culturais que a envolvem, a história do seu uso.
O grande desafio para implementar a política de águas é comportamental e cultural: transformar uma relação agressiva em uma postura amigável para com a água. Dessa questão derivam os demais desafios gerenciais, administrativos e políticos.
A hidroalfabetização para a gestão da água inclui conhecer processos participativos e instrumentos de ação, bem como o que é feito para conservá-la e dar-lhe uso sustentável. Na educação a partir do bolso, pode-se incentivar, inclusive com estímulos econômicos, que ele se interesse pela produção da água. Por meio da cobrança pelo uso da água pode-se induzir a redução dos desperdícios. É relevante conhecer os instrumentos de ação disponíveis na política ambiental e na política das águas – o licenciamento ambiental, os planos de recursos hídricos, o enquadramento de corpos d’água, a outorga, os sistemas de informação e saber como utilizá-los com perícia, de forma articulada e integrada.
Um grande desafio é, portanto, promover a hidroconsciência dos cidadãos e da sociedade. Existem várias formas de fazê-lo, por meio da hidroalfabetização, de sinais econômicos emitidos pelo sistema de preços e da implementação da gestão participativa e descentralizada das águas.
Em situações de carência e escassez torna-se imperiosa a conservação da água. Boas práticas muitas vezes derivam de benéficos conceitos e ideias, da aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos, bem como da sabedoria culturalmente acumulada.
Empresas, organizações sociais, indivíduos, governos locais têm-se empenhado em realizar boas práticas. A comunicação é fundamental para a mudança cultural e para reduzir a hidroalienação. Nesse sentido, bons serviços são prestados por programas de televisão produzidos por jornalistas ecologicamente conscientes, que divulgam soluções urbanas e rurais e contribuem para disseminá-las. Na internet muitos sites divulgam boas práticas de gestão da água. Em alguns condomínios em Brasília sujeitos à escassez hídrica, os condôminos financiam pesquisas tecnológicas voltadas para o reuso e a conservação da água, o reaproveitamento de água de chuva, a recarga de aquíferos, conservação do solo e da cobertura vegetal. Estímulos e reconhecimento a essas boas práticas têm sido dados pelos prêmios oferecidos àqueles que as desenvolvem.
A hidroalfabetização é um passo para tornar o cidadão hidroconsciente e para que suas atitudes para com a água sejam de respeito e de cuidado. Também as empresas, organizações e os vários setores do governo precisam ser hidratados e tornar-se hidroconscientes. A hidroconsciência é a compreensão de como a água está presente no universo e no planeta, como funciona o ciclo da água, a importância das bacias hidrográficas, os impactos negativos ou positivos que as atividades humanas provocam sobre ela. É um requisito para desenvolver atitudes amigáveis no relacionamento com a água. As cidades precisam voltar-se de frente para os rios e para a água.
A água é o elemento central na estruturação de um território regional. É um elemento vital que deve ser considerado por urbanistas com compromissos sociais e por ruralistas com motivações econômicas. Diferentemente de segmentos da população, tais como movimentos sociais ou empreendedores econômicos, a água não conta com advogados ou lobistas que lhe deem voz e pro isso muitas vezes é esquecida. Somente é lembrada quando se torna um problema, por escassez ou excesso. O planejamento e a gestão hidroconscientes serão cada vez mais relevantes para responder às questões sociais e econômicas. A proteção das águas e sua conservação passam a ser partes integrantes de uma evolução ecologicamente amigável.
Os cidadãos urbanos vivenciam fragmentos limitados do ciclo da água. Desconhecem o caminho que ela percorre até chegar à torneira e ignoram para onde ela vai quando desaparece no ralo. Pistas de rolamento para o tráfego de veículos cobrem rios, córregos, ribeirões urbanos. Avenidas sanitárias escondem os rios das cidades. Nas enchentes, eventos críticos cada vez mais freqüentes, os cidadãos urbanos têm um contato dramático com as águas, que causam prejuízos econômicos e mortes nos fundos de vales, quando os rios extravasam os caixotes em que foram confinados. As áreas de proteção de mananciais são ocupadas por habitações ou por indústrias, que poluem a águas e as consomem. A água torna-se assunto em momentos de crise, quando falta, obrigando ao racionamento ou ao rodízio ou quando se torna motivo de disputa entre cidades que dela necessitam se abastecer.
Os cidadãos urbanos desconhecem o ciclo da água que se condensa nas nuvens, precipita, escorre superficialmente ou infiltra no solo. Diferentemente de povos indígenas, agricultores ou pescadores, que têm uma noção mais integral desse ciclo, por dependerem dele para sua sobrevivência, o cidadão urbano tornou-se hidroalienado. A hidroalienação é a falta de consciência sobre como funciona o ciclo da água e a falta de conhecimento sobre como ele é alterado pela ação humana.
Os cidadãos urbanos não têm consciência das relações entre o ciclo do carbono e o ciclo da água e o fato de que, ao interferir no ciclo do carbono e aumentar a emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera, o ser humano provoca uma resposta no ciclo da água, sensível a variações de temperatura. As mudanças climáticas em curso contribuem para colocar em pauta o tema da água e da necessidade de sua gestão correta.
Tampouco tem consciência da presença da água no cosmos, de onde se origina. E muito menos ainda de seus aspectos sutis, como condutora de informação – qualidade usada na terapêutica e na homeopatia, por exemplo. De sua influência nos pensamentos e nos sentimentos (Emoto), e de linhas de pesquisa e de experimentação de ponta (ver filme Water e outros). Desconhecem também que a água circula dentro dos corpos dos animais e seres humanos, bem como dos vegetais que a devolvem à atmosfera na evapotranspiração.
A relação com a água precisa tornar-se amigável.
Para desenvolver uma relação harmônica do cidadão com a água, um primeiro passo é hidroalfabetizá-lo, dar-lhe o bê-á-bá da água. Hidroalfabetizar é promover a aprendizagem sobre a água, sua importância para a vida e como relacionar-se com ela de forma amigável; é proporcionar as noções básicas sobre o ciclo da água e sobre como a atividade humana o altera, no âmbito local ou global. (Alfabetizar é dar instrução básica e ensinar a ler e escrever. É condicionar a consciência a descobrir significados em letras, sílabas, palavras, frases, o que permite explorar o mundo da cultura e das idéias). Fritjof Capra criou na Califórnia um Centro para a Alfabetização Ecológica, ou seja, para entender como os ecossistemas sustentam a rede da vida, entender os princípios da ecologia, integrar conceitos por meio do pensamento ecológico, aprender no mundo real, criar comunidades de aprendizado, integrar a cultura da escola e o currículo. A partir daí podem-se conceber e implantar comunidades humanas sustentáveis.
Progressivamente pode-se promover a consciência hídrica, as noções sobre o ciclo da água, a presença da água no ambiente, nos corpos vivos, as manifestações culturais que a envolvem, a história do seu uso.
O grande desafio para implementar a política de águas é comportamental e cultural: transformar uma relação agressiva em uma postura amigável para com a água. Dessa questão derivam os demais desafios gerenciais, administrativos e políticos.
A hidroalfabetização para a gestão da água inclui conhecer processos participativos e instrumentos de ação, bem como o que é feito para conservá-la e dar-lhe uso sustentável. Na educação a partir do bolso, pode-se incentivar, inclusive com estímulos econômicos, que ele se interesse pela produção da água. Por meio da cobrança pelo uso da água pode-se induzir a redução dos desperdícios. É relevante conhecer os instrumentos de ação disponíveis na política ambiental e na política das águas – o licenciamento ambiental, os planos de recursos hídricos, o enquadramento de corpos d’água, a outorga, os sistemas de informação e saber como utilizá-los com perícia, de forma articulada e integrada.
Um grande desafio é, portanto, promover a hidroconsciência dos cidadãos e da sociedade. Existem várias formas de fazê-lo, por meio da hidroalfabetização, de sinais econômicos emitidos pelo sistema de preços e da implementação da gestão participativa e descentralizada das águas.
Em situações de carência e escassez torna-se imperiosa a conservação da água. Boas práticas muitas vezes derivam de benéficos conceitos e ideias, da aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos, bem como da sabedoria culturalmente acumulada.
Empresas, organizações sociais, indivíduos, governos locais têm-se empenhado em realizar boas práticas. A comunicação é fundamental para a mudança cultural e para reduzir a hidroalienação. Nesse sentido, bons serviços são prestados por programas de televisão produzidos por jornalistas ecologicamente conscientes, que divulgam soluções urbanas e rurais e contribuem para disseminá-las. Na internet muitos sites divulgam boas práticas de gestão da água. Em alguns condomínios em Brasília sujeitos à escassez hídrica, os condôminos financiam pesquisas tecnológicas voltadas para o reuso e a conservação da água, o reaproveitamento de água de chuva, a recarga de aquíferos, conservação do solo e da cobertura vegetal. Estímulos e reconhecimento a essas boas práticas têm sido dados pelos prêmios oferecidos àqueles que as desenvolvem.
A hidroalfabetização é um passo para tornar o cidadão hidroconsciente e para que suas atitudes para com a água sejam de respeito e de cuidado. Também as empresas, organizações e os vários setores do governo precisam ser hidratados e tornar-se hidroconscientes. A hidroconsciência é a compreensão de como a água está presente no universo e no planeta, como funciona o ciclo da água, a importância das bacias hidrográficas, os impactos negativos ou positivos que as atividades humanas provocam sobre ela. É um requisito para desenvolver atitudes amigáveis no relacionamento com a água. As cidades precisam voltar-se de frente para os rios e para a água.
A água é o elemento central na estruturação de um território regional. É um elemento vital que deve ser considerado por urbanistas com compromissos sociais e por ruralistas com motivações econômicas. Diferentemente de segmentos da população, tais como movimentos sociais ou empreendedores econômicos, a água não conta com advogados ou lobistas que lhe deem voz e pro isso muitas vezes é esquecida. Somente é lembrada quando se torna um problema, por escassez ou excesso. O planejamento e a gestão hidroconscientes serão cada vez mais relevantes para responder às questões sociais e econômicas. A proteção das águas e sua conservação passam a ser partes integrantes de uma evolução ecologicamente amigável.