terça-feira, 20 de dezembro de 2022

GERENCIAMENTO INTEGRAL DO CICLO DA ÁGUA

Maurício Andrés Ribeiro

 


Figura: Fonte USGS. É possível gerenciar integralmente o ciclo da água?


O gerenciamento das águas de superfície é uma tarefa difícil e complexa que depende de conhecimentos técnicos, domínio de instrumentos de ação, capacidade de articulação entre níveis de governo e com a sociedade e integração de sistemas  de informação.

O gerenciamento das águas subterrâneas tem as mesmas complexidades, acrescidas do fato de que é mais difícil detectar a sua presença e conhecer a sua dinâmica.

O gerenciamento integrado de águas superficiais e subterrâneas soma mais complexidade técnica, política e administrativa.

Praticamente todo o volume de água do planeta – nos oceanos, na atmosfera, no permafrost, no gelo, nos seres vivos encontra-se fora do alcance da gestão das águas, que atualmente prioriza a gestão das águas doces superficiais e secundariamente as subterrâneas.

  

Neste texto, proponho que se enfrente o gerenciamento integral do ciclo da água, que inclui as águas atmosféricas. As águas atmosféricas correspondem a apenas 0,04% do volume total de agua no planeta, mas uma pequena variação desse volume traz grandes impactos e eventos climáticos extremos. A evaporação dos oceanos, das florestas, das águas superficiais aumenta com o aumento da temperatura global.  

A gestão integral do ciclo vai além da gestão integrada de recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Ela agrega uma complexidade e uma dificuldade ainda maior aos já enormes problemas envolvidos com o gerenciamento integrado das águas subterrâneas e superficiais. 

Uma gestão do ciclo integral envolve todos os aspectos, desde a água na atmosfera, as nascentes, a proteção florestal e o uso do solo. Uma abordagem holística e transdisciplinar considera o ciclo integral, inclusive sua fase meteórica ou na atmosfera, pois cada vez mais a gestão de recursos hídricos está dependente do clima e de suas variações.  Tal gestão considera as interconexões entre o que ocorre quando ela escorre superficialmente, se infiltra nos solos e forma os lençóis subterrâneos e  quando se encontra em estado meteórico, no vapor na atmosfera.

A gestão integral do ciclo considera todas as suas formas de presença na natureza: sólida, líquida, gasosa; meteórica, superficial e subterrânea. Ela exige uma compreensão ampla desse ciclo.

 A caixa de ferramentas da lei de recursos hidricos é insuficiente para  lidar  com a gestão integral do ciclo da água.

É necessário um grande conjunto de ferramentas que vai muito além desses instrumentos legais e que estão presentes em outras políticas, como a do meio ambiente, do saneamento, da segurança de barragens, do ordenamento territorial, das mudanças climáticas, do patrimônio natural, das unidades de conservação, da educação ambiental, entre outras.

Neste ano de 2024, muitos eventos climáticos extremos se precipitaram: enchentes no Rio Grande do Sul, incêndios no Brasil, Bolívia, na África, em Portugal e na Califórnia; furacões na Flórida, seca nos rios da Amazônia; chuvas no Saara, esverdeamento da Antártida e muitos outros.Neste ano, no mundo todo e no Brasil, intensificaram-se os eventos climáticos de enchentes, inundações, secas e queimadas, nas quais o excesso e a escassez de água são componentes centrais.

 Existe maior percepção e consciência sobre a importância das águas na forma de vapor, nas nuvens, rios voadores e outras denominações para designar essa parcela do conjunto das águas no planeta, que influencia crescentemente a vida, a economia, os desastres que afetam de modo mais impactante as populações vulneráveis, os ribeirinhos, os pescadores, o transporte hidroviário, a geração de energia hidrelétrica  todos os  campos da sociedade e setores da economia que são direta ou indiretamente relacionados com as águas.

A gestão integral do ciclo da água depende de uma boa articulação federativa entre o nível federal, os estados e municípios,  a partir de dados e informações compartilhados. Numa federação, cada ente tem suas responsabilidades. A chuva chove nos municípios, pois ela cai no território da bacia e quem cuida do uso e ocupação do solo são os municípios. Depois ela escorre para riachos e córregos estaduais e algumas vezes chega a rios federais. Quando ela infiltra no solo passa a ser de domínio dos estados, que gerenciam as águas subterrâneas. Enquanto está na atmosfera, ninguém é responsável pelo seu gerenciamento.

Para se lidar de modo integral com a gestão do ciclo, é relevante reduzir as demandas nas diversas atividades econômicas, especialmente o consumo pelo usuário que mais a utiliza, a agricultura irrigada.  Isso implica em inovar em tecnologias e em atuar sobre a economia para reduzir as demandas excessivas que causam estresse hídrico, sobre a cultura e os hábitos alimentares e de vida.

A gestão do ciclo de vida das águas articula seu planejamento e gestão numa perspectiva de longo prazo. Ela compartilha dados e sistemas de informação. Requisito importante para se tornar realidade é evoluir dos estudos técnicos especializados e dos conhecimentos da hidrologia como atualmente praticada, para  a perspectiva de uma hidrologia integral, transdisciplinar, e daí para a Hidrosofia, ou seja, lidar com a água com sabedoria.

A Amazônia oferece um laboratório prático para se testar globalmente  a gestão integral do ciclo da água. Um dos modos de  incluir as aguas atmosféricas na gestão é proporcionar os meios para que a floresta continue a existir e que os rios voadores continuem a prestar os seus serviços ecossistêmicos.

Ao mesmo tempo expandimos a visão, para além do enfoque utilitarista associado aos conceitos de recursos hídricos,  e contemplamos a importância da proteção das águas num enfoque mais holístico e transdisciplinar e isso demanda o uso de instrumentos de ordenamento territorial, uso e ocupação do solo, proteção de unidades de conservação e do patrimônio natural.

O gerenciamento do ciclo integral das águas é um projeto potencial e virtual que se inicia com a hidratação das mentalidades, da sociedade, da economia, para que a civilização se torne hidrocêntrica, supere a hidroalienação e valorize a hidroconsciência.

O gerenciamento integral do ciclo da água é uma missão impossível, um objetivo utópico? Preferimos acreditar que é um ideal e uma meta  que progressivamente dá seus primeiros passos. Há uma longa caminhada pela frente para que ele se realize.

ATENDIMENTO A EMERGÊNCIAS HÍDRICAS

 Maurício Andrés Ribeiro

 

Numa emergência médica, o paciente vai para um pronto socorro onde recebe os primeiros cuidados. Sendo grave o seu estado, ele é internado numa Unidade de Tratamento Intensivo- UTI onde é monitorado com aparelhos sofisticados e atendido por médicos  especializadas. Quando o paciente melhora, é levado para uma unidade de tratamento semi-intensivo e depois para um quarto. Quando recebe alta, vai para casa e lá continua seu tratamento.

Nas emergências hídricas, na iminência de um colapso no abastecimento, o pronto socorro é feito pelas salas de crise.

Salas de crise são espaços para encontros híbridos, virtuais e presenciais, nos quais participam os principais atores e instituições relacionados com a gestão da água numa bacia que entrou em estado crítico, seja por falta ou excesso. Elas são criadas quando se acendem sinais de alerta ou alarme nos dados de chuva e vazão  que são coletados sobre as bacias brasileiras. Desde que foram criadas,  centenas de reuniões foram realizadas em salas de crise e acumulou-se experiência em lidar com os eventos críticos e em resolver conflitos. São  eficientes  para a o tratamento de emergências e urgências.

As Salas de crise  atuam com um horizonte temporal que inclui os próximos dias ou semanas em função da situação conjuntural e das  circunstâncias do momento. Elas trabalham com horizontes mais curtos do que os planos de bacia, que  tratam de um horizonte de anos.

Em função dos principais problemas encontrados em cada bacia hidrográfica, reúnem-se os principais atores. As abordagens variam, conforme as características de cada bacia: em alguns casos é necessário mudar a operação de reservatórios para liberar ou reter água (São Francisco, Paraná, Tocantins). Em outros casos, lida-se com aas secas e as enchentes (rio Madeira, Pantanal) e suas consequências, como por exemplo a interrupção de rodovias ou os incêndios florestais.

 As salas de crise se baseiam em nivelamentos de informações qualificadas. O CEMADEN- Centro nacional de aleta de desastres, com sua visão interdisciplinar e aplicada, apresenta  as perspectiva para os próximos dias. O ONS -Operador nacional do sistema elétrico - apresenta como os reservatórios estão sendo operados nos vários subsistemas regionais no Brasil e o quanto de energia está sendo exportada ou importada de um sistema para o outro . O INEMET -Instituto Nacional de meteorologia faz previsões do tempo para os próximos dias e semanas a partir de modelos europeu americano e outros. Fazem-se previsões climáticas, perspectivas de chuvas, chegada de frentes frias, num horizonte de 15 dias, mais previsível. Na medida em que se aprimoram os modelos climatológicos e meteorológicos as previsões tendem a se tornar mais precisas e reduzem-se as imprevisibilidades.

A base de informações de boa qualidade é o elemento fundamental para a partir dele se construírem os consensos necessários. No início de  cada reunião das salas de crise são expostos com objetividade os dados e informações relacionados com a chuva e a vazão naquela bacia nos próximos meses. Esse nivelamento prévio de informações entre os participantes oferece um patamar comum a partir do qual podem-se propor os modos de solucionar os problemas diagnosticados.  Fala-se em linguagem técnica: modelagens, curvas de segurança, afluências e defluências, modelo curva-vazão, afluências incrementais, evaporação em reservatórios. Apresentam-se gráficos, mapas, modelos, cenários climatológicos, meteorológicos e previsões.  Fala-se em energia armazenada e energia excedente, região importadora de e exportadora de energia, fechamento e abertura de comportas em reservatórios. Simulações, vazão prevista, política de defluência, perspectiva de evolução do volume do reservatório e todo um vocabulário de hidrologuês.

Enquanto há  emergências, a frequência de reuniões precisa ser maior, diária ou semanal pois a agilidade é essencial para enfrentar situações mais graves. Quando passa o período crítico, a sala de crise se transforma numa sala de acompanhamento. É quando a bacia sai da UTI e vai para um tratamento semi-intensivo, com monitoramento para acompanhar seu estado de saúde.

Tanto nas salas de crise como nas de acompanhamento a água em estado meteórico, na atmosfera é uma informação crucial. A água na atmosfera é o elemento fundamental nessas analises e informações pois ela influi nas águas superficiais, nas cheias e secas. Compreender a água na atmosfera é uma ciência cada vez mais estratégica.

Nas salas de crise não há proposta de interferir com geoengenharias ou hidro engenharias  na quantidade de água na atmosfera, bombardeamento de nuvens etc. As salas  de crise foram testadas durante anos e constituem uma experiência positiva em lidar com eventos críticos e com emergências hídricas.

PROJETO ESSE RIO É MEU

 Maurício Andrés Ribeiro

 


O projeto Este rio é meu é uma das iniciativas mais abrangentes e criativas que vem sendo realizadas de educação escolar para crianças e jovens. O projeto estimula o protagonismo infantil e estudantil, a partir de uma parceria da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, por meio das Secretarias de Educação e de Meio Ambiente,  com a OSCIP planetapontocom, dirigida pela educadora Silvana Gontijo e com empresa patrocinadora. O projeto se iniciou com ações no Rio Carioca,  no programa educacional Cidades, Salvem Seus Rios, que propõe uma abordagem educativa que envolve as escolas nos cuidados com os rios locais e dá protagonismo aos estudantes.

O projeto traz o tema dos rios para os processos pedagógicos de modo inter e multidisciplinar e integrado. As coordenações pedagógicas das escolas mobilizam os professores das diversas disciplinas e estimulam a aprendizagem em torno do rio existente nas vizinhanças dessas escolas. Projetos foram desenvolvidos no rio dos Macacos, no rio banana Podre, no rio Carioca, no rio Faria-Timbó,  no rio Acari, no rio das Pedras. Por serem rios urbanos que cortam áreas adensadas, muitos deles estão sujos, poluídos, canalizados e tornam-se destino de lixo e esgotos.  Em cada escola o projeto se adapta às situações locais. Presta-se atenção  ao rio e a percepção sobre ele ressalta seus problemas. A partir da constatação de qual é a relação das crianças e jovens com o rio urbano, são apresentados dados históricos e geográficos sobre ele. Em geral, o projeto realiza um resgate de história do rio, desenha uma linha do tempo e imagina qual o sonho dos participantes para o futuro do rio.

A alfabetização é baseada nas palavras relacionadas com o rio, os animais,  o entorno e a cultura da comunidade. As crianças aprendem com os movimentos comunitários existentes.  

As pesquisas sobre o rio suscitam questões e perguntas  sobre o que é foz, mata ciliar, tamanho da bacia, nascente. As perguntas são respondidas com visitas dos alunos em campo e a reflexão das crianças sobre os rios e sua situação. Realizam-se trabalhos sobre a variedade de situações encontradas: a limpeza dos rios e a questão do lixo, sobre os peixes; pesquisa-se a qualidade das águas e preserva-se a horta escolar.

Como o projeto se realiza simultaneamente em várias escolas no município, elas se reúnem para trocar experiências e aprendizagem. Promove-se a integração pedagógica entre escolas vizinhas numa mesma bacia e que trabalha sobre mesmo rio. A arte é crucial, com a apresentação de coral e músicas, bem como relatos sobre o trabalho. Produzem-se histórias sobre o rio com linguagem própria, em inglês  e em português. Compõem-se músicas sobre o tema e são construídas maquetes da bacia hidrográfica. Criam-se jogos didáticos com  abordagem lúdica e informações  são divulgadas em redes sociais.

A partir da consciência despertada, as escolas se engajam na preservação e recuperação dos rios, promovem o envolvimento das comunidades no entorno e assumem compromissos com o rio.  Produzem-se vídeos para comunicar e leva-se o resultado para os órgãos públicos tomarem providências. Há atuação junto às comunidades, com panfletagem, entrevistas com moradores antigos, divulgação em revista escolar, bem como gincanas de coleta de lixo, com parceria de empresa recicladora.

Desencadeiam-se ações para promover melhorias nos rios vizinhos. Fortalece-se o sentido de pertencimento e de  responsabilidade. Cartas são enviadas ao poder público,  solicita-se ajuda e ações do município, tais como a colocação de caçambas para lixo e de placas de sinalização para  identificar os rios urbanos. Foi proposto um projeto de lei municipal para sinalizar a localização dos rios subterrâneos e para  conscientizar sobre a limpeza dos rios. As melhorias reais trazidas por tais ações realimentam o processo educativo.

A partir da água se pensa sobre a vida e o cuidado do ser humano consigo mesmo e com  o próximo. É um processo de longo prazo e contínuo, um trabalho de formiguinha com efeito multiplicador.

Os relatos sobre as experiências educacionais em várias escolas em que o projeto foi implantado mostram expressivos resultados positivos inesperados. A divulgação é amplificada pelo trabalho de comunicação sobre o projeto, que estimula a mídia a cobrir as escolas e publica  periodicamente informações e matérias numa  revista. Com isso os estudantes e suas realizações saem da invisibilidade. Eles são estimulados a compartilhar e a querer mostrar o projeto. Os professores recebem formação em mídia educação, o que os habilita para serem  ativadores nos territórios em que atuam. Os estudantes aprendem a escrever ofícios, textos para divulgar em rede social, matérias jornalísticas e uma variedade de gêneros literários. Como as redações são feitas com um sentido prático e de ação, aumentaram a produção de textos e o interesse pela leitura e pela escrita.

ÁGUA E SUSTENTABILIDADE

 Maurício Andrés Ribeiro

A água se relaciona com todos e com cada um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

 


As Nações Unidas definiram 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) com propostas a serem atingidas numa Agenda para 2030.  Usualmente associa-se a água ao objetivo relacionado com água potável e saneamento (ODS 6). Entretanto, é limitante reduzir as questões da Água ao ODS 6, ou ao ODS 14, que trata da vida na água.

Por ser um tema transversal, ela está presente em maior ou menor medida em todos e em cada um dos demais objetivos do desenvolvimento sustentável. Prover água para todos contribui para a erradicação da pobreza (ODS 1); ela é um elemento essencial para erradicar a fome e para a agricultura sustentável (ODS 2), é vital para a saúde e bem-estar (ODS 3); a hidroalfabetização é essencial numa educação de qualidade (ODS 4); prover água perto da casa evita sobrecargas  para as mulheres e contribui para a igualdade de gênero (ODS 5); sua disponibilidade em reservatórios para geração hidrelétrica contribui para obter energia limpa e acessível (ODS 7); ela é essencial para o desenvolvimento econômico e o trabalho decente (ODS 8) e essencial também nas atividades hidro-dependentes na indústria e infraestrutura (ODS 9); a universalização do acesso a ela contribui para reduzir desigualdades (ODS 10); as cidades sensíveis à água são mais  sustentáveis e se adaptam melhor às emergências climáticas (ODS 11); a hidroconsciência  contribui para o consumo e produção sustentáveis (ODS 12); as ações de adaptação, inclusive em relação a eventos extremos envolvendo a água, são parte das ações contra a mudança global do clima (ODS 13). Ela é o meio natural para a vida na água (ODS 14) e é fundamental para a vida animal e vegetal terrestre (ODS 15); a prevenção, mediação e resolução de conflitos em torno da água são essenciais na construção da paz e da justiça e de instituições eficazes (ODS 16) e esse tema tão transversal e onipresente exige múltiplas parcerias e meios de implementação (ODS 17).

Uma abordagem holística, transdisciplinar e transversal do tema da água a relaciona com todos e com cada um dos objetivos do desenvolvimento sustentável definidos pela ONU na sua Agenda para 2030.

sábado, 26 de novembro de 2022

OCEANOS

 Maurício Andrés Ribeiro



 

Os cinco grandes oceanos são um só, interligado por correntes marítimas que no passado foram usadas pelos navegadores ao viajarem pelos mares. 96,5% de toda a água existente na Terra é salgada e se encontra no oceano. O sal existente nos oceanos resulta de milhões de anos em que os rios transportaram para  os mares os sais existentes nas rochas.

A água tem a capacidade de reter calor e de liberá-lo para a atmosfera, e o clima é afetado pelo comportamento dos oceanos. Os oceanos são crescentemente compreendidos como reguladores térmicos do planeta.

A água evaporada dos oceanos forma as nuvens que, trazidas pelos ventos, chovem nos continentes - as monções na Índia, os rios voadores na Amazônia. Com  o aquecimento  ela se evapora em maior quantidade e formam-se os furacões e tempestades. Ao evaporar, as águas se dessalinizam e o sol é portanto, um grande dessalinizador natural de água do mar. 

Com o degelo nos polos, a quantidade de água liquida aumenta e eleva-se o nível dos mares. Se as correntes marítimas se alteram existe a possibilidade de se cortar a corrente do Golfo, o que poderá levar à Europa uma nova era do gelo. 

Como grande parte da população humana se localiza em zonas costeiras, são expressivos os impactos sociais e econômicos da elevação do nível dos mares. As cidades costeiras tornam-se vulneráveis e exigem medidas de adaptação. Aumenta a intrusão da cunha salina,  ou seja, águas salgadas e salobras se misturam nas águas doces, e isso afeta os sistemas de abastecimento em cidades costeiras.

O fenômeno do El Nino, com a elevação da temperatura do Pacífico,  provoca alterações climáticas em várias partes do mundo e especialmente na América do Sul. No Brasil, aumentam chuvas no Sul, reduzem-se chuvas no nordeste, nos anos de El Nino. Inversamente, o fenômeno La Nina resfria o Pacífico e influencia o clima na América do Sul e no Brasil, onde aumentam as  chuvas no norte e nordeste e aumentam as secas no sul.

Os mares e oceanos recebem das águas doces superficiais dos rios. Quando não são devida e previamente saneadas, elas carreiam para os mares resíduos em grandes quantidades gerando ilhas de lixo como aquelas que se formaram no oceano Pacífico. Os oceanos tem sido crescentemente poluídos com plásticos e com o derramamento de óleo no mar em acidentes e desastres, bem como com o despejo de esgoto que afeta a balneabilidade das praias.  Em fevereiro de 2023 a Marinha brasileira afundou no oceano Atlântico o porta-aviões São Paulo, contendo toneladas de amianto, material  cancerígeno, outros poluentes químicos e eventualmente até resíduos radioativos, já que ele tinha operado no oceano Pacífico quando dos testes nucleares realizados alí pela França. Trata-se de mais um evento que demonstra a atitude do homo lixius de tratar o oceano como lata de lixo onde despejam seus resíduos, atitude que precisa ser superada. A ecologização da Marinha pode ser um caminho para evitar ações similares no futuro.

Os oceanos também são atingidos por desastres ecológicos, como o rompimento de uma barragem em  Mariana em 2018, que poluiu todo o rio Doce e chegou ao Oceano Atlântico. A construção de represas ao longo dos rios retém sedimentos e altera a vida a jusante e nos mares.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, das Nações Unidas, trata da vida aquática e propõe conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.

A Agenda 21, produto da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992 dedica seu capitulo 17 à proteção dos oceanos, de todos os tipos de mares -- inclusive mares fechados e semifechados -- e das zonas costeiras, e proteção, uso racional e desenvolvimento de seus recursos vivos. 

James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, observa que “durante bilhões de anos, os oceanos forneceram (e continuam a fornecer) um meio muito mais estável para o desenvolvimento da vida do que as superfícies terrestres. Os oceanos não estão sujeitos a amplas flutuações de temperatura: os nutrientes tendem a ficar mais uniformemente dispersos (embora as concentrações variem com a mistura física e a atividade dos plânctons); além disso, como é um meio mais denso do que o ar, fornece flutuabilidade e apoio para organismos simples, que carecem de estrutura rígida.” (Gaia - Pág. 104.)

Para restaurar oceanos limpos e saudáveis há uma pauta prioritária que inclui combater as fontes de degradação marinha, desde aquelas distantes - como por exemplo barragens de minério nas montanhas - lixo, esgoto urbano, até o derramamento por navios, do óleo que polui as praias. Filtrar, gradear, coletar os resíduos  com redes antes que cheguem ao mar e de preferência em sua origem são modos de gerenciar a questão do lixo e de limpar os oceanos. Para proteger as áreas costeiras e estuarinas dos efeitos das mudanças climáticas  são necessárias  ações para conter a progradação das praias, e a intrusão de cunhas salinas nas  águas que  abastecem cidades costeiras.

A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, realizada em Lisboa em 2022 propõe salvar os oceanos e proteger o futuro. Oceanários como o de Lisboa ou o de Monterrey na California são locais de divulgação de conhecimentos sobre os oceanos e sobre a necessidade de sua proteção.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

HIDROLOGIAS

 Maurício Andrés Ribeiro





A palavra hidrologia significa o estudo da água. Ela estuda a sua ocorrência no planeta Terra, como está distribuída e se movimenta, suas propriedades físico-químicas, sua relação com o ambiente e com a vida. 

A hidrologia especializada usa um dialeto, o  hidrologuês, um jargão hermético e de difícil compreensão para os leigos, a quem são estranhos os conceitos e termos como curvas-chave, linhas de base, hidrograma ecológico, hidrograma unitário sintético, modelagem chuva-vazão, vazões mínimas de referência, estresse hídrico, tempo de concentração, período de retorno, volumes de espera, série temporal não-estacionária, regularização de reservatórios, vazão regularizada, rios intermitentes, alocação negociada, balanço hídrico, curvas de permanência, curvas de aversão ao risco etc. Essa hidrologia especializada e focada em questões quantitativas é  útil para a gestão e a tomada de decisões para obras de infraestrutura. Os especialistas em recursos hídricos, de várias profissões e formações acadêmicas dominam aspectos específicos e práticos do conhecimento sobre a água, aplicados para fins de gestão ou de engenharia e construção de obras hídricas. Cientistas, especialistas e interessados se ocupam em estudar e gerenciar seu uso.

Entretanto, deixam em segundo plano múltiplos aspectos qualitativos, tratados como pano de fundo sem maior relevância.

A hidrologia ambiental fornece o conhecimento de base para os especialistas em recursos hídricos atuarem em planos, na medição de chuvas e de vazões de rios, no cálculo das águas disponíveis; na medição dos aspectos físicos, químicos e biológicos que revelam a sua qualidade. Trata-se de abordagem quantitativa que tem sua base na coleta acurada de dados sobre chuva e vazão de rios. Equipamentos tais como pluviógrafo, pluviômetro de proveta, réguas de cálculo, amostrador de sedimentos, anemômetro de solo, piranógrafo, flutuador, radiômetro, molinete, sonda Doppler, ecobatímetro, mini Cartan (para medir a velocidade do fluxo), cadernos para anotar observações de campo, compõem a caixa de ferramentas dos hidrometristas que observam os dados em campo e os transmitem para serem analisados e produzirem informações estatísticas e séries históricas que são básicas para a tomada de decisões.  

A hidrologia estatística enfatiza aspectos quantitativos valiosos para a gestão.  A hidrologia aplicada focaliza questões relacionadas com o uso dos recursos hídricos, tais como os planos de bacias hidrográficas, o abastecimento e a drenagem urbana, os aproveitamentos hidroelétricos, a erosão, as poluições e a qualidade. Relaciona-se com o projeto e a construção de obras de engenharia e de infraestrutura hidráulica – reservatórios, represas, aquedutos, canais, portos – e também nas práticas de gerenciamento. Nesses aspectos práticos, técnicos, gerenciais e administrativos, conhecimentos hidrológicos quantitativos embasam a tomada de decisão.

A hidrologia espacial é um campo emergente e com grande futuro e que faz uso de satélites, de sensoriamento remoto e observações a partir do espaço com as tecnologias mais recentes. A hidrologia isotópica estuda os isótopos de hidrogênio e oxigênio nas moléculas de água e a informação que eles trazem sobre a origem daquela molécula, a idade das águas subterrâneas e diversos outros aspectos.

Os campos da glaciologia ou criologia estudam o gelo; a hidro-meteorologia estuda sua presença na atmosfera, a limnologia estuda as extensões de água doce, como os lagos e pântanos; a hidrostática, a hidro cinética, a hidrodinâmica, estudam seus aspectos físicos, a hidrografia estuda as águas correntes, a oceanografia estuda as águas oceânicas e a hidrogeologia estuda as subterrâneas. O campo da hidro cosmologia estuda a que existe no cosmos e nos corpos celestes, como as caudas dos cometas.

Cada vez mais os aspectos humanos, culturais, históricos, econômicos, tendem a se desenvolver. Devido à sua importância política e social surgiram os campos da hidropolítica e da hidrologia social, bem como a hidrologia urbana.

O campo da hidrologia médica trata das curas medicinais por meio da crenoterapia nas estâncias hidrominerais, das hidroterapias com agentes terapêuticos. A hidropatia é o tratamento de algumas doenças. Escalda pés e compressas alternadas de água quente e fria foram práticas efetivas para alguns males da saúde.

Tais abordagens são necessárias, porém não são suficientes quando isoladas umas das outras e tratadas de modo fragmentado. Dispor de competência técnica e cientifica é necessário, porém insuficiente.

Especialistas sabem muito sobre pouco e perdem a visão panorâmica. São um perigo se estão soltos e sem direção lúcida. Decisões baseadas apenas em sua visão podem causar estragos e danos.

 O conhecimento técnico e científico das várias hidrologias são valiosos  para gerenciar os usos da água, numa perspectiva utilitária. Nessa visão ela é um objeto de uso do qual se pode dispor ao bel prazer para atender demandas.

Em geral não se questionam ou avaliam criticamente essas demandas para saber se são prioritárias ou se seria melhor deixar de usar aquele bem para preservar uma paisagem natural, para a contemplação, para ela existir livremente.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

JUSTIÇA DAS ÁGUAS


Maurício Andrés Ribeiro
 

As ações humanas transformam o meio ambiente, o clima e as águas. Essas ações beneficiam alguns indivíduos, grupos sociais ou países e prejudicam outros. Assim, por exemplo, a emissão de gases de efeito estufa pelos países industrializados, desde a revolução industrial na Europa no século XVIII está causando consequências desastrosas em pequenas ilhas do Pacífico, situadas a milhares de quilômetros de distância.  Alguns agem e se beneficiam, outros são prejudicados pelas consequências negativas dessa ação.

A justiça climática procura distribuir de modo mais justo e equitativo os benefícios e custos. Um garimpeiro que usa mercúrio para separar o ouro do cascalho se beneficia desse uso, mas prejudica populações ribeirinhas muitos quilômetros rio abaixo, que precisam do peixe para se alimentar, que se contaminou com o mercúrio. Grandes empresas mineradoras ou de agropecuária bombeiam muita água do subsolo para fazer suas atividades de extração de minério ou de produção agrícola. Com isso, rebaixam lençóis freáticos e provocam a seca subterrânea mencionada pelo médico e ambientalista Apolo Heringer Lisboa. Pequenos sitiantes sofrem as consequências quando secam as nascentes e passam a precisar de caminhões pipa para abastecê-los.

Quando alguns se beneficiam e outros são prejudicados originam-se injustiças sociais.

Num mundo justo e equitativo, cada um dos bilhões de habitantes do planeta deveria ter acesso a uma quantidade adequada de água de boa qualidade para atender às suas necessidades de vida. No mundo real, não acontece assim.  Milhões de pessoas têm dificuldades de acesso a água potável de boa qualidade. Mulheres precisam caminhar longas distâncias para carregá-la para seu uso cotidiano. A água tratada não chega a todas as casas. Rios são poluídos. Fontes secam devido à extração exagerada.

Aprofundam-se situações de injustiça hídrica. Os direitos de acesso à água são outorgados pelos governos. Grandes empresas com recursos financeiros se apropriam do direito de acessá-la. As secas e enchentes contribuem para aprofundar a injustiça hídrica, para exacerbar as desigualdades no acesso e a vulnerabilidade dos segmentos mais pobres da população.

Em 2018 Brasília sediou o 8. Fórum Mundial da Água e naquela ocasião juízes de todo o mundo aprovaram uma carta sobre justiça hídrica. Essa declaração sobre justiça da água explicitou  dez princípios:

 1. A água é um bem público.

2. Deve-se respeitar a função ecológica da propriedade.

3. Deve-se promover a justiça com os povos indígenas e das montanhas.

4. Deve-se adotar o princípio da prevenção.

5. Deve-se adotar o princípio da precaução pelo qual, ainda que não haja certeza cientifica sobre as consequências das ações, elas não devem ser tomadas para evitar que ocorram danos irreversíveis no ambiente.

6.  As leis devem ser interpretadas da maneira que mais proteja as águas. Em latim a expressão “in dubio pro aqua” significa que, na dúvida, a interpretação deve ser   a favor da água. A justiça das águas a torna sujeito de direitos e dá a ela a prioridade.

 7. Quem usa e polui deve pagar por esse uso, o poluidor e o usuário pagam.

8. Precisa haver a boa governança, com aplicação e imposição de boas leis.

9. Os juízes devem considerar a integração ambiental e ecossistêmica das águas.

10. Os procedimentos da justiça devem assegurar acesso e participação dos interessados.

Podemos acrescentar alguns princípios orientadores para a gestão que leve à justiça hídrica:

·         O princípio da solidariedade

·         O princípio da subsidiariedade

·         O princípio protetor recebedor

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

HIDROSOFIA

Maurício Andrés Ribeiro 

Hidrosofia: essa palavra que ainda não existe nos dicionários significa a sabedoria sobre a água. Tem um significado mais amplo e abrange um campo maior do que a hidrologia, o estudo científico da água.  Inclui além do conhecimento científico, outros modos de conhecer e de saber.

Para se lidar com ela de modo amigável, harmonioso e orgânico, a água  merece ser vista a partir de diversos ângulos e de diversos campos do conhecimento humano, tais como as artes, as tradições espirituais e sapienciais, a intuição  e as filosofias. Complementarmente, eles contribuem para construir uma abordagem holística, numa variedade de modos de se abordar o tema: do teórico ao prático, do abstrato ao conceitual, num mosaico de percepções.

A hidrosofia abarca o conhecimento geral e não apenas aquele produzido e comunicado por especialistas. Ao adotar uma cosmovisão  abrangente a hidrosofia inclui a visão especializada, a visão interdisciplinar e a visão transdisciplinar.

Abordar a água pelo ângulo da hidrosofia abre o olhar para outras dimensões e modelos mentais e para outras possibilidades de lidar e se relacionar com ela. Os seres humanos são vistos como parte integrante do ciclo da água que circula por seus corpos; a água deixa de ser um objeto externo ao corpo e passa a ser percebida como parte do sujeito que pensa sobre ela e a sente. O ser humano é visto de forma integrada com os processos globais. Restabelecem-se os vínculos de comunhão entre o ser humano e a água.

A hidrosofia ultrapassa o racionalismo, o intelectualismo e o cientificismo, que não tem sido capazes de evitar sua exaustão e os maus tratos que recebe na abordagem apenas utilitarista. Ela se abre em direção à experimentação comunitária e social, compreendendo a metamorfose que está em curso no planeta.

Em meio ao excesso de dados, informações, conhecimentos técnicos e científicos procura-se alcançar a sabedoria hidrológica. Uma sabedoria que permita discernir para extrair da natureza o que é necessário para sustentar a vida e ao mesmo tempo garantir as normas, regras e prioridades que não prejudiquem a integridade dos ecossistemas e dos hidrossistemas.

O termo ainda está em elaboração. Até o momento o vocábulo
hidrosofia
foi usado apenas para fazer a publicidade de uma combinação de nutrientes num copo d’água, que teria o poder de fazer bem à saúde;
numa obra de arte de um designer intitulada  hydrosophy; e num jogo eletrônico.
 Quando se consolidar como um campo dos saberes, a hidrosofia catalisará os movimentos na busca de uma hidrologia integral e transdisciplinar.

 

 

 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

ÁGUA E TRANSDISCIPLINARIDADE

Maurício Andrés Ribeiro

 


A palavra Transdisciplinar foi usada pela primeira vez pelo educador Jean Piaget e depois por Basarab Nicolescu no seu Manifesto da Transdisciplinaridade. No Brasil,  foi adotada  nos anos 1980 pelo psicólogo e educador  Pierre Weil que criou a Universidade Holística Internacional de Brasília- UNIPAZ.

Os especialistas – hidrólogos, hidrogeólogos, oceanógrafos, climatologistas – têm papel crucial para compreender a fundo os temas relacionados com a água. Entretanto essa visão necessária não é suficiente.  Para superar a visão fragmentada acadêmica não basta somente uma visão interdisciplinar, que mantem as disciplinas. É necessária uma visão abrangente, transversal, que articule e integre os diversos olhares fragmentados e setoriais. Ser transdisciplinar significa ir além das disciplinas fragmentadas  e especializadas com as quais usualmente se classifica e se opera na educação escolar e nas profissões. Um clínico geral vê o organismo como um todo e pode identificar os pontos que merecem a atenção de especialistas.

Uma visão panorâmica sobre as águas enxerga a sua presença tanto no macro como no microambiente. Ela está no cosmos, na cauda dos cometas e nos outros corpos celestes onde se busca a existência de vida; está presente no planeta Terra, nos corpos dos seres vivos; está, ainda, na consciência das pessoas.

No campo cultural, ela está nos nomes de lugares, em palavras, músicas, poesias, manifestações religiosas e sagradas.

A visão transdisciplinar não se limita à abordagem racional, científica. O pensamento intelectual sobre a água é uma das muitas maneiras de abordá-la. Pode ser pragmático e facilitar seu uso, mas não é o modo mais abrangente para se relacionar com ela.

O transdisciplinar vai além da superação das disciplinas acadêmicas formais que fazem uso da razão e se expande para o campo das emoções, dos sentimentos e da intuição, mobilizando não apenas as ciências.  A transdisciplinaridade  articula os conhecimentos das ciências, das artes, das tradições espirituais e da filosofia.

Ela  inclui toda a percepção que as artes trazem, com a música,  literatura, a poesia, as artes plásticas, o teatro, o cinema, que mobilizam emoções e sentimentos. Os artistas têm grande poder de comunicação, de atuar sobre as emoções e mobilizar para causas hídricas e ambientais. Os artistas que colocam suas habilidades e talentos a serviço das águas prestam um relevante serviço ao sensibilizar a sociedade. Textos técnicos são importantes, mas é insubstituível o poder do cinema, da linguagem não verbal da música, da poesia, da literatura, da dança. A água está diretamente relacionada com as emoções. A emoção move, a razão organiza. Não por acaso os humores do corpo e os humores psíquicos têm a mesma palavra para designá-los.

A transdisciplinaridade e a visão holística também incluem o senso do sagrado, a ressacralização da natureza e das águas, para tratá-las com reverência e respeito e não apenas como um recurso a ser utilizado pragmaticamente para atender a necessidades, demandas e caprichos humanos.

 Pensar sobre a água, refletir sobre a água, estudar a água, sentir e se emocionar com a água se expressam numa abordagem transdisciplinar.

Em 2018, durante o 8. fórum mundial da água em Brasília criou-se o Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade- CIRAT- que defende uma visão holística e transdisciplinar sobre a água. O CIRAT atua em rede nos campos da arte e cultura, ciência e academia, educação, produção de conhecimento e inovação. Tem projetos de agricultura regenerativa, estrutura molecular da água, desenvolvimento territorial. Desde então, explorou diversos caminhos originais e alcançou resultados em seus estudos e pesquisas, articulando-se com entidades em outras partes do mundo que compartilham o mesmo espirito de  olhar a água de um jeito novo.