Maurício Andrés Ribeiro
Hamburguer vegetal em anúncios de página inteira na mídia: um nicho de mercado disputado
No
dia 26 de dezembro de 2020 o jornal the
New York Times publicou extensa matéria
sobre
como o vegetarianismo tem crescido no Brasil nos últimos anos. A busca da saúde,
por razões ecológicas e de compaixão para os animais são motivações que têm
levado os brasileiros a fazerem essa opção alimentar. Num país em que a feijoada
e o churrasco fazem parte da cultura
alimentar tradicional, é positiva essa disposição a mudar hábitos alimentares dos
brasileiros e uma atitude responsável e consciente.
Nos
últimos anos as redes sociais têm divulgado intensamente mensagens a favor de
uma nova relação com os animais e denúncias sobre os impactos ambientais
negativos do hábito alimentar carnivorista. As redes sociais preenchem um vazio de
informação pois os grandes meios de
comunicação estão comprometidos com grandes
anunciantes que são as indústrias alimentícias e da carne.
Muitas pessoas têm ligado os pontos e feito as conexões sobre como seus hábitos de vida contribuem para a devastação da Amazônia e o desmatamento.O
consumo de carne em grande escala é prejudicial ao clima e à natureza. Quanto
mais de descarnivorizar a sociedade, menor o impacto e a pressão sobre o
ambiente. Cada quilo de carne exige muitos litros de água e vários hectares de
terras seja para pastagens seja para produzir soja para alimentar os animais.
Há
benefícios à saúde ambiental e à
economia de energia no vegetarianismo, que é muito menos
impactante sobre o ambiente e o clima do que outros hábitos alimentares: as
quantidades de água, de insumos
agrícolas e de área de terra necessária para alimentar vegetarianos são menores
que as necessárias para alimentar carnívoros. Empresas de
alta tecnologia, como Impossible foods pesquisam e colocam no mercado proteínas
vegetais com baixo impacto climático e ambiental que viabilizam inclusive
churrascos e feijoadas vegetarianas. Isso é relevante pois o vício de consumir
carne está associado ao prazer do
paladar.
Mais recentemente grandes empresas passaram a produzir alimentos vegetarianos para atender à crescente demanda desse mercado, que aumenta à medida que a população toma consciência dos impactos ambientais negativos de seus hábitos alimentares. A
descarnivorização da sociedade é uma das formas mais efetivas de reduzir a
pressão pelo desmatamento, os incêndios florestais, a caça e criação de animais
silvestres para alimentos, a criação de animais em fazendas-fábricas e o
frigoríficos, a pressão pela terra e pela água para produzir soja e carne e as mudanças
no clima. A
pecuária
industrializada em fazendas-fábricas com animais confinados e tratados com
crueldade e desrespeito com sistemas imunológicos
deprimidos (vacas, porcos, frangos) produz as condições para que proliferem
zoonoses ou doenças de origem animal.
A
pandemia se origina de relações estressadas com os animais e da devastação de
seus habitats.
Sociedades
carnivoristas produzem pandemias, a exemplo do coronavirus que se originou de destruição
de habitats de animais silvestres e comercio de animais em mercados molhados
sem higiene e favoráveis a contaminações e contágios.
Mercados em
que se vendem animais silvestres, com precárias
condições sanitárias são ambientes em que os vírus se multiplicam e transmitem as zoonoses pelo
contato próximo com os compradores. Em Pequim, um novo surto na China
se originou num mercado que vende carne bovina e de cordeiros.
A
abolição dos animais silvestres do menu dos chineses deve ser saudada, evoluindo na linha do que fez a vizinha
civilização indiana, há milênios, onde o vegetarianismo oferece lições para banir o carnivorismo
que impulsiona a devastação florestal.
Sociedades menos carnivoristas, como a indiana, reduzem tais riscos. A difusão de receitas e
ingredientes vegetarianos que produzem refeições saborosas facilita a mudança
de hábitos alimentares e a renuncia ao carnivorismo. O vegetarianismo indiano
mostra o caminho para uma dieta alimentar ecologizada no futuro.
Descarnivorizar
a sociedade é um caminho para a prevenção de próximas pandemias.