Maurício Andrés Ribeiro
A cooperação pode ser benéfica para todos. |
No meio
natural as relações ecológicas variam da parceria e cooperação até
o antagonismo e competição. Simbiose
e comensalismo são relações em que os organismos atuam em conjunto para
proveito mútuo, nos quais ambos os organismos recebem benefícios. Simbiose
implica adaptação mútua de um organismo
a outro, cooperação, convivência, co-evolução do ser em seu ambiente. São desarmônicas interações como a antibiose (princípio
usado nos antibióticos, que matam ou inibem certos organismos vivos), a
predação, o canibalismo, o vampirismo, o esclavagismo, o parasitismo.
O físico Fritjof
Capra (1993), autor de O ponto de mutação, escreveu que "Quanto mais
estudamos o mundo vivo, mais nos apercebemos de que a tendência para a
associação, para o estabelecimento de vínculos, para viver uns dentro de outros
e cooperar é uma característica essencial dos organismos vivos. O estudo
detalhado dos ecossistemas nestas últimas décadas mostrou com muita clareza que
a maioria das relações entre organismos vivos é essencialmente cooperativa, e
elas são caracterizadas pela coexistência e a interdependência, e simbióticas
em vários graus. Embora haja competição, esta ocorre usualmente num contexto
mais amplo de cooperação, de modo que o sistema maior é mantido em equilíbrio.
Até mesmo as relações predador-presa, destrutivas para a presa imediata, são
geralmente benéficas para ambas as espécies. Esse insight está em profundo
contraste com os pontos de vista dos darwinistas sociais, que viam a vida
exclusivamente em termos de competição, luta e destruição. A concepção que eles
tinham da natureza ajudou a criar uma filosofia que legitima a exploração e o
impacto desastroso de nossa tecnologia sobre o meio ambiente natural. Darwin
propôs uma teoria da evolução em que a unidade de sobrevivência era a espécie,
a subespécie ou algum outro componente básico da estrutura do mundo biológico.
Mas, um século mais tarde, ficou bem claro que a unidade de sobrevivência não é
qualquer uma dessas unidades. O que sobrevive é o
organismo-em-seu-meio-ambiente." Nessa mesma linha, Peter Kropotkin também já escrevera sobre a
cooperação e a ajuda mutua na natureza.
O Homo
sapiens mantém relações ecológicas e interações com os demais de sua espécie, com
outras espécies e com o planeta que o hospeda. As
forças ou energias que movem a ação humana podem ser a ambição de poder, de
desejo de enriquecimento material, de vaidade e de obtenção do sucesso, de
interesses egoístas; ou podem ser interesses altruístas, de luta pelo bem
comum, público e coletivo, com sentido de serviço e de solidariedade social e
ambiental mais amplo e generoso.
No campo das relações
políticas, sociais, econômicas, afetivas as relações negativas podem ser de
guerra, de confronto e de conflito violento ou não violento, de dominação, de
submissão, de dependência, de manipulação; na interação positiva ou harmônica
ressaltam as relações de diálogo, de cooperação e parceria, de enriquecimento
mútuo, de aliança. Lester
Smith (1975) em Intelligence came first
escreveu que “A inteligência humana pode ser sua destruição ou sua salvação.
Aliada à sua natureza mais básica, ela leva a comportamento egoísta, antissocial;
aliada a suas qualidades espirituais, ela leva ao altruísmo, cooperação e
unidade.”
Uma das
muitas percepções sobre nossa espécie, o Homo honestus é um primata que coopera e que se
comporta com valores éticos.
O Princípio da cooperação ou da solidariedade
considera que diante de um problema ou desafio grandioso, a união e a soma de
forças e convergência de ações são um modo eficaz de reduzir riscos e danos
potenciais para os indivíduos e as comunidades. O princípio da solidariedade é
a base para gerenciar os recursos naturais. Solidariedade para com a atual e com as
futuras gerações que virão habitar esse planeta e solidariedade para com as
demais formas de vida.
Na área da ecologia e do clima, há
significativa aplicação do princípio da cooperação tanto em escala internacional (cooperação
técnica e científica, intercâmbio de conhecimentos, trocas culturais etc.) como
em escala local quando, por exemplo acontece uma tragédia e as pessoas são
induzidas a cooperar. A aplicação do princípio da cooperação implica transformar
valores, e influi nos modos de construir e organizar o
espaço e a sociedade. Envolve o cultivo de atitude de atenção, de abertura ao diálogo, solidariedade, compaixão, paciência, tolerância, importância da cooperação e das relações
ecológicas harmônicas,
o respeito à
diferença, para criar situações que favoreçam a vida humana e as demais formas
de vida.
A água é fio condutor
da convivência regional, pois supõe a solidariedade entre cidadãos de uma bacia. A água é um dos elementos da natureza sobre o qual
acontecem relaçoes harmônicas e desarmônicas. Numa bacia hidrográfica, ao longo
de um rio e de seus afluentes, é crucial a cooperação entre as comunidades
que precisam usá-lo para finalidades múltiplas. Em torno da água se desenvolvem vários projetos de cooperação
técnica e cientifica internacional que compartilham conhecimentos necessários para se lidar com a água em
bacias hidrográficas transfronteiriças.
Uma abordagem transdisciplinar ajuda a se alcançar a cooperação. Reflexões, experiencias e alianças em favor da
vida compõem o conteúdo de publicação sobre Água e cooperação.[1]
Em torno da água se desenvolvem muitas possibilidades de cooperação. |
A partir da água dos rios, lagos e áreas úmidas catalisam-se
processos de ordenamento territorial cooperativos.
A internet e as redes de
cooperação e de intercâmbio de conhecimentos oferecem ferramentas
contemporâneas que permitem aprofundar a cooperação e a participação da
sociedade, das organizações públicas e privadas e de indivíduos na tomada de
decisões sobre alocação de água e outros temas ambientais.