quinta-feira, 28 de março de 2024

Maria Helena Andrés ilustradora


As ilustrações em livros facilitam a compreensão, atraem e cativam leitores, complementam a narrativa escrita. Contam a história em linguagem visual, permitem uma comunicação sintética, com economia de linguagem. Cartilhas e livros ilustrados fazem uso de linguagem artística, complementando a linguagem literária. Uma imagem fala mais do que mil palavras.

Grandes ilustradores valorizaram as obras que ilustraram. Gustave Doré ficou conhecido por suas ilustrações para a Divina Comédia de Dante. Ziraldo escreveu muitos livros e os ilustrou, além de ter produzido histórias em quadrinhos, onde a maior parte do espaço é ocupada por imagens.

Numa sociedade midiática, em que as pessoas têm pouco tempo para leitura e preferem textos telegráficos e econômicos, as ilustrações têm um papel cada vez mais importante.

Maria Helena Andrés, artista plástica e escritora, quando sentiu afinidade com os textos escritos, aceitou convites para ilustrar vários livros. Em seu blog, Maria Helena escreveu que “A ilustração é a forma do pensamento tomar as vestes das artes plásticas, virar cor, transparência, linha. “ …”Assim, já ilustrei poemas de Célia Laborne e um texto poético de Pierre Weil, viajando nas palavras e nos sonhos dos poetas. Realizei viagens pela Índia para ilustrar o livro de Aparecida Andrés, Pepedro nos caminhos da Índia. Outras vezes ilustro minhas próprias reflexões como o álbum Oriente – Ocidente, integração de culturas.”




Capa e ilustração do livro Pepedro nos caminhos da Índia.



Ilustrações para o álbum Oriente-Ocidente: integração de culturas.


O tema da água esteve presente nas ilustrações para os  livros de Marco Antônio Tavares Coelho  sobre o rio das Velhas, o São Francisco e o Rio Doce.

Ela ilustrou esses livros e comentou que “ também embarquei pelo rio das Velhas, revivi meu passado histórico até chegar ao presente. Senti também o impacto da transposição do rio São Francisco e agora, mais recentemente colaborei com a capa do livro sobre o rio Doce.”

Uma imagem contendo Texto

Descrição gerada automaticamente            Texto, Quadro de comunicações

Descrição gerada automaticamente 


Maria Helena criou as mais de cem ilustrações para o livro eletrônico infanto-juvenil  A Água Fala, com texto de Maurício e Aparecida Andrés. Com  uma linguagem poética a fim de facilitar sua comunicação com o público jovem, o livro retrata a viagem da água pelo cosmos até o interior dos seres vivos, o subsolo e as superfícies da terra.  

Diagrama

Descrição gerada automaticamenteDiagrama

Descrição gerada automaticamente Diagrama

Descrição gerada automaticamenteDiagrama

Descrição gerada automaticamente

Capas das várias versões do livro A água fala.

Ela ilustrou também o livro Ondas à procura do mar, do psicólogo fundador da UNIPAZ, Pierre Weil.


Capa e ilustração para o livro Ondas à procura do mar, de Pierre Weil. 1987.






quarta-feira, 27 de março de 2024

Maria Helena Andrés e o cinema


Maria Helena Andrés  nasceu em 1922, na época do cinema mudo.

O cinema falado surgiu em 1927, durante a sua infância. Com os irmãos e primos brincava de fazer cinema, em teatros de sombra improvisados.

Quando a irmã do Colégio Sacré Coeur  de Marie, onde estudava,  chamou seus pais ao colégio e disse que ela precisava se aprimorar, pois era uma artista, suas colegas perguntaram: artista de cinema? Não! Artista visual, artista plástica, foi a resposta.

Artes plásticas e cinema  são uma dupla constante na sua vida e na obra.

O cinema a acompanhou desde o início e durante sua obra.

Na adolescência começou a desenhar. Seus primeiros trabalhos artísticos foram o desenho de artistas de cinema,  seus mitos de adolescência, a partir de fotografias de Ginger Rogers, Fred Astaire, Greta Garbo, Marlene Dietrich e vários outros artistas de cinema.


Nos anos de 1970 ela construiu uma casa no condomínio do Retiro das Pedras, num local onde originalmente havia sido planejado instalar  um estúdio de cinema, devido à paisagem cinematográfica e ao céu e atmosfera  muito límpidos.


Os fotogramas,  retratos de um instante no cinema, estao presentes em várias de suas obras.




Sobre o painel de azulejos da  Basilica da Serra da Piedade, em Caeté ela escreveu que “A figura de São José é representada em pé, como guardião do sacrário. Procurei representar São José como aquele que foi designado para cuidar de Jesus e de Maria, segurando com a mão direita um bastão. Na parte de baixo, como num filme, procurei sugerir passagens da Bíblia!

Detalhe do painel na Basilica da Serra da Piedade 


Os fotogramas  estão presentes nos cinco milagres desenhados para o painel de azulejos realizado em 2023 para a igreja de Nossa Senhora Aparecida em Diamantina. Ali  foi gravado um filme em que ela é a protagonista: artista plástica e artista de cinema.


sexta-feira, 22 de março de 2024

Maria Helena Andrés e Pierre Weil, do Retiro das Pedras à Unipaz

 

Desde 1974, quando ambos moravam no condomínio Retiro das Pedras, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, Maria Helena era amiga de Pierre Weil.   Naquela ocasião ambos viveram insights de síntese holística, ela no campo das artes, ele no campo organizacional. A colaboração de Maria Helena com Pierre Weil se deu no campo da arte, da educação pela arte e das letras e livros.

Em 1977, Maria Helena publicou o livro Os caminhos da Arte e ela escreveu que “Devo a ele um prefácio muito bonito para o meu livro “Os Caminhos da Arte”, que eu acabara de escrever. Minha trajetória artística já começava a se delinear com muita nitidez. Uma outra trajetória, humanística, com abertura para novas pesquisas no campo das religiões comparadas e a Índia, me parecia a direção mais certa

 

Desenho de rosto de pessoa visto de perto

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

Pouco depois ela ilustrou o livro dele, Ondas à procura do mar.

 Quando Pierre criou a Unipaz em Brasília ele a convidou para participar de workshops como o Encontro das Dimensões.

C:\Users\mauricio.andres\Pictures\MHA pessoa\20151224_163805.jpg

Ela participou de congressos holísticos em Salvador e em Belo Horizonte, e foi facilitadora em vários workshops. Para um deles, ela levou para Brasília um grande painel que, devido a suas afinidades com a proposta holística, doou para a UNIPAZ e que se encontra na sede na granja do Ipê. “Lembro-me de quando foi pintado, no meu ateliê da fazenda, em cima de uma lona. Levei tempo realizando este trabalho, que viajou para Brasília enrolado numa vara de bambu.”

Uma pintura de uma pessoa

Descrição gerada automaticamente


Maria Helena Andrés e o painel Mandala no Cosmos na UNIPAZ-DF

Em 2018, Maria Helena retornou a Brasília e visitou a Unipaz, onde gravou cenas que estão no filme Arte e Transcendência, produzido pela UFMG.


terça-feira, 12 de março de 2024

Maria Helena Andrés e as montanhas

As montanhas, com sua grandiosidade impressionante, foram mostradas na pintura, no desenho, na fotografia e nas artes plásticas.

Na arte oriental, os seres humanos e suas realizações são minúsculos diante das montanhas e da paisagem natural. No Japão,  o Monte Fuji está sempre presente nas pinturas tradicionais; na China são conhecidas as pinturas e desenhos com paisagens montanhosas. 

Henri Cartier Bresson  fotografou os Himalaias no Kashmir indiano e em seu livro Gênesis, o fotógrafo Sebastião Salgado focalizou grandes montanhas. Pintores europeus e norte americanos mostraram paisagens majestosas de cordilheiras e montanhas

No Brasil, destaca-se nesse tema  Alberto da Veiga Guignard. Ele viveu grande parte de sua vida em Minas Gerais. Guignard admirava e retratava a grandiosidade das montanhas e se sentia bem nesse ambiente.  Sua aluna Maria Helena Andrés escreveu que “Em carta a Portinari, Guignard dizia: "Sabes que sou montanhês e por isso, forte de saúde". As montanhas lhe ofereciam cenário para paisagens líricas, transparentes, igrejas surgindo da bruma, balões coloridos subindo aos céus.”

Alberto da Veiga Guignard - Paisagem imaginária - 1947

A destruição das montanhas no entorno de Belo Horizonte foi objeto de atenção dos artistas e poetas. “Olhe bem as montanhas”, foi um adesivo que circulou nos anos de 1970, criado por Manfredo de Souzanetto. Em 1976, Carlos Drummond de Andrade publicou o conhecido poema Triste Horizonte, que denunciava a destruição da Serra do Curral, em Belo Horizonte. Naquele mesmo ano Maria Helena Andrés pintou o quadro intitulado O Guardião das Montanhas.  Sobre essa obra, ela escreveu que: “O quadro foi pintado movido por uma necessidade interior de preservar, defender e guardar a natureza. Ele está no  limite entre o figurativo e o abstrato, entre a terra e o céu. Embaixo,  as montanhas, bem figurativas e, riscando o céu,  incisivamente, o gestual direto  e firme do guardião.”

Maria Helena Andrés, cidadã do mundo pelas viagens e estudos que realizou em diversos países, sempre retornou a sua terra natal, Belo Horizonte, no montanhoso quadrilátero ferrífero de Minas Gerais. As grandes montanhas são objeto de sua atenção, na pintura, na escultura, na fotografia e em seus textos.  "Arte e vida são companheiras inseparáveis, e a minha vida foi mudando da urgência das grandes viagens ao cotidiano, a me fixar no meu dia a dia, no meu entorno. Agora vejo as montanhas se estendendo à frente da minha janela; o raio de sol que penetra dentro de casa e desenha formas geométricas sobre a mesa. " "Vou olhando a paisagem e fotografando a incidência da luz solar sobre as curvas sensuais dos montes nas diferentes horas do dia."


Em 2021, instalou uma escultura em aço,  intitulada “A guardiã das montanhas”, ao lado de sua casa no Retiro das Pedras, diante do vale do Paraopeba e a região do córrego do Feijão onde  ocorreu o grave episódio conhecido como o desastre de Brumadinho, com muitos mortos e  desaparecidos, além de grandes prejuízos econômicos, danos sociais e psicológicos.



Maria Helena Andrés e a escultura   A Guardiã das Montanhas.


 . Ela testemunha a ação de seres humanos, pequenos diante da grandeza da natureza, que corroem, escavam, poluem, criam feridas na paisagem natural, um prejuízo estético irreversível. Ela fotografou as rochas, observou o avanço humano sobre as montanhas, deu  entrevistas para jornais e fez depoimentos em vídeo, tendo expressado por diversos meios sua consciência ecológica.

 





quarta-feira, 6 de março de 2024

Alberto da Veiga Guignard e Maria Helena Andrés em duas exposições

              Guignard foi o primeiro grande mestre de Maria Helena, marcando a sua trajetória durante mais de 80 anos de arte.


Guignard e as alunas da primeira turma: Amarilis Coelho, Maria Helena Andrés e Edith Bhering, 1944

 

Na exposição Conversas entre coleções, na Casa Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, uma paisagem com balões de Guignard está colocada ao lado de um quadro construtivo de balões flutuando no ar, de sua ex-aluna Maria Helena, mostrando o diálogo entre as coleções de Roberto Marinho e de Márcia e Luiz Chrysostomo. 

Os dois artistas expressam uma visão lírica de festas e balões presentes na infância,  Guignard relembra as festas de São João e Maria Helena as brincadeiras de crianças.

“Quando eu era menina, gostava de soltar papagaios na rua. Era um prazer vê-los subir, ganharem os céus, seguirem o vento, sustentarem-se no ar. Fazíamos nós mesmos os papagaios de papel de seda e a disputa entre os amigos era de ver quem chegava mais longe, mais perto do céu.”

Alberto da Veiga Guignard, Noite de São João, óleo s/madeira, 1961 e Maria Helena Andrés, Pipas, óleo s/tela, 1955.

               

Na exposição A paixão segundo Guignard, realizada no Palácio das Artes em Belo Horizonte, com curadoria de Paulo Schmidt e Claudia Renault, Maria Helena está presente com algumas obras de suas diversas fases, destacando-se as obras de sua coleção e das coleções de seus familiares.

 Da fase figurativa está sendo apresentado um desenho de grafite sobre papel e duas pinturas  em óleo sobre madeira e óleo sobre cartão.  

Maria Helena desenha com a precisão do lápis duro o seu autorretrato, seguindo os ensinamentos de Guignard que exigia a observação cuidadosa da figura humana, assim como faziam os artistas renascentistas.

                                                       Autorretrato, grafite  s/papel, 1945

  

Uma das pinturas figurativas é a paisagem urbana de Belo Horizonte sobre a qual ela escreveu:

 É uma lembrança do meu quarto de solteira. Da minha janela eu registrei nesse quadro a paisagem que eu via em minha frente, a cidade de Belo Horizonte. Naquela época não existiam prédios altos em Belo Horizonte. Vejo no quadro uma parte do Colégio Sagrado Coração de Jesus, telhados e mais telhados, o Colégio Padre Machado, muitas árvores e o céu de Minas se estendendo sobre as casas.”

                               Paisagem de Belo Horizonte, óleo s/madeira, 1944

 

 A outra pintura retrata, de forma expressionista, o ateliê da Escola Guignard, com os materiais de pintura no primeiro plano e as alunas pintando, entre pincéis e tintas, ao fundo.

                                            Ateliê da Escola Guignard, óleo sobre cartão, 1947

  

 Da fase construtiva, Maria Helena expõe uma pintura que tem como referência a mãe e o filho, um tema recorrente em sua obra com forte viés espiritual, lembrando a Madona acolhendo o seu filho.  Nesta pintura as figuras são geométricas, as linhas são contínuas e as formas, em laranja e amarelo,  contrastam com o fundo verde.

                                                             Mãe e filho, óleo  sobre tela, 1953.

  

Também está apresentada, nesta exposição, a pintura  O Guardião das Montanhas, de sua fase abstrata, no qual a presença humana é pequena diante da grandiosidade das montanhas e dos céus.  Este quadro foi pintado em 1976, no mesmo ano em que Carlos Drummond de Andrade escreveu o seu famoso poema Triste Horizonte, em que denunciava a destruição das montanhas de Minas. O recurso de colocar os seres humanos e as pequenas cidades minúsculas diante dos grandes espaços naturais foi usado na pintura chinesa e também por Guignard nas suas paisagens imaginárias pintadas em Minas Gerais, como aquela que está exposta na Casa Roberto Marinho. 

 O guardião das montanhas, acríl. s. tela, 1976

 

O diálogo de Maria Helena Andrés com seu mestre Alberto da Veiga Guignard, que começou na década de 1940, continua até hoje presente nas paisagens imaginárias dos dois artistas que são apaixonados por Minas Gerais.

 

Marília e Maurício Andrés Ribeiro

terça-feira, 5 de março de 2024

MARIA HELENA ANDRÉS E A INTEGRAÇÃO ENTRE O BRASIL E A ÍNDIA


Ilustração do álbum Oriente-Ocidente, integração de culturas

Maria Helena Andrés é a artista plástica brasileira que mais se empenhou em promover a integração entre o Brasil e a Índia e que mais contribuiu para o conhecimento, no Brasil, sobre a cultura indiana. Ela o fez pioneiramente, a partir da década de 70, numa época em que, no Brasil, pouca atenção era dada às relações culturais com a Índia. 

Maria Helena identificou-se com a cultura da Índia. Por meio de imersão no cotidiano, desbravou o país, estudou a filosofia e a arte numa perspectiva ampla, absorveu o espírito e a postura cósmica dos indianos. As inúmeras viagens à Índia em busca da integração refletiram-se na sua obra teórica e plástica.  Seguiu sua intuição e sua atração pessoal por aquela cultura, em prol do desenvolvimento da consciência.

Tal intercâmbio resultou em textos publicados em seus livros. No livro Encontro com Mestres no Oriente (1993), discorre sobre suas viagens e reflexões no Japão, Tailândia, Nepal e Índia, focalizando mestres como o Mahatma Gandhi, Sri Ramakrishna, Sri Aurobindo, Sri Ramana Maharshi, Jiddu Krishnamurti, Swami Dayananda, Vimala Thakar, sendo que com os dois últimos teve convivência pessoal.

No livro Os caminhos da Arte (3ª edição em 2015), aproxima a arte moderna da arte oriental, enfatizando a importância da intuição, da liberdade de criação e da arte estendida à vida na prática da pintura, poesia, fotografia, música, teatro e dança.

Ilustrou o livro "Pepedro nos Caminhos da Índia" (1984 e 2007), de autoria de Aparecida Andrés, que relata a viagem de um menino brasileiro naquele país. De seus estudos  resultou o álbum Oriente-Ocidente, integração de culturas (1984).

         Várias reflexões sobre as viagens à Índia foram publicadas em seus blogs Minha Vida de Artista e Memórias e Viagens: www.mariahelenaandres.blogspot.com  

Ela buscou ativamente uma  Síntese oriente-ocidente. Para  Maria Helena, “A síntese Oriente – Ocidente e a integração planetária estão dentro de nós mesmos, no equilíbrio do lado direito e esquerdo de nosso cérebro, razão e intuição.”

Essa integração e o intercâmbio promovido por Maria Helena Andrés têm um significado especial nesse momento de crise da civilização, nessa etapa da história e da evolução humana em que a Ásia readquire centralidade e importância globais e na qual a cosmovisão indiana, no mundo pós colonialista, passa a ser novamente valorizada.


sexta-feira, 1 de março de 2024

Maria Helena Andrés escreve sobre Guignard educador


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUMiSq9FYJhTo377PTfAZ8vZcNg3pzaxS5rg5JPBnwuP8zF4_Xsi0WF-xkgu_1f1MWKX9DMyTTBk9iWHFHIUXAqKpF-bCNu52o7gZnULtrNXz1BnEkl8iTnuu0tEz020dPmLrJNTaT5QaV/s320/foto+13.tif

O mestre Guignard entre seus alunos e alunas

Maria Helena Andrés escreveu que “Em 1944, quando Alberto da Veiga Guignard foi convidado pelo então prefeito Juscelino Kubitscheck para liderar a Escola do Parque Municipal em Belo Horizonte, fui uma das primeiras a me inscrever no curso.”

“Éramos 40 alunos, jovens cheios de vida, pertencíamos à primeira geração de artistas que estudou com Guignard em Minas: Amílcar de Castro, Mário Silésio, Marilia Giannetti, Mary Vieira, Nelly Frade, Gavino Mudado, Leda Selmi Dei Gontijo, Heitor Coutinho, Arlinda Corrêa Lima, Farnese Andrade, Letitia Renault, Jeferson Lodi, Petrônio Bax, Vicente Abreu e Wilde Lacerda. Fomos direcionados por um mestre que viera do Rio para nos conduzir. Guignard viera cheio de ideias novas, trazendo panoramas abertos para o aprendizado de arte em Minas. Deixara o Rio de Janeiro, onde já era considerado um dos maiores professores de arte do Brasil e também um dos maiores artistas brasileiros.”

“Guignard foi antes de tudo um grande educador.

O encontro com Guignard possibilitou-nos um descondicionamento das fórmulas acadêmicas. Todos os alunos receberam da mesma fonte, mas cada um seguiu uma direção diferente.

Guignard abriu as janelas da criatividade em Minas

e deixou entrar luz.

A ele se achegaram aqueles que estavam preparados

para a grande viagem.”

“Guignard promoveu a ruptura do academicismo que se instalara em Minas Gerais. Fomos pioneiros de novas ideias e de uma nova arte. Ali, debaixo de árvores frondosas, à sombra de bambuzais, nós nos dispúnhamos a buscar dentro de nós mesmos uma recriação da natureza. O mestre estava ali para nos incentivar. Jogava uma pedra no lago para observarmos os círculos que ali se formavam, mandava os alunos observarem as nuvens no céu, as árvores e as raízes retorcidas. Os alunos observavam a natureza e desenhavam com lápis 6H. O lápis duro não possibilitava o uso da borracha e os alunos ficavam atentos aos detalhes da natureza. No silêncio, eles também descobriam a própria natureza interna. ““Paralelamente ao desenho de observação, ensinado debaixo das árvores, Guignard nos orientava também, dentro do ateliê. Fazíamos retratos e figuras do natural, como nas academias de Belas Artes. 

Muitas vezes acompanhávamos Guignard a Ouro Preto, para desenharmos aquela cidade histórica, e ao Rio de Janeiro para expormos nossos trabalhos.“

“Guignard reviveu de maneira quase única o antigo mestre, figura desaparecida nos tempos modernos. Atualmente, o ensino se distribui em diversas cátedras, com horários marcados e contato reduzido do professor com os alunos. Anteriormente às academias de Belas Artes, o mestre - fosse ele filósofo ou artesão - trabalhava lado a lado com seus aprendizes e a eles se misturava, sem preocupação de superioridade, desejando apenas transmitir experiências. Assim foi Guignard, o mestre moderno, que ensinava uma arte de vanguarda, não ditava leis, mas fazia o aluno descobrir o equilíbrio e a proporção no próprio trabalho, sem demonstrações dogmáticas (...) Mais do que ninguém, Guignard conseguia vislumbrar a coisa nova, a individualidade que se revela na variedade de temperamentos humanos, agora estudados com grande interesse à luz da psicologia moderna. Observações feitas à margem de um catálogo, referindo-se às tendências de cada aluno em particular, revelam esse senso profundo para descobrir vocações e conhecer temperamentos.” (Trecho do meu livro “Os Caminhos da Arte”, Editora COM/ ARTE, 2015)

“Seu método de ensino, baseado no despertar pessoal de cada aluno, assemelhava-se aos ensinamentos de Johannes Itten na Bauhaus de Weimar, na Alemanha.

Guignard significou para mim a abertura para o novo, o despertar da minha energia de criatividade. Precisava largar a iniciação acadêmica e partir em busca de maior liberdade dentro da arte. Encontrei-a no convívio com os colegas, no ambiente do Parque Municipal, na poesia da natureza. Guignard abria a percepção e a sensibilidade dos alunos mostrando anjos e guerreiros nos muros velhos, mandalas nas águas do lago, e as formas abstratas que se formavam nas nuvens.”


“Reparem os céus de Minas Gerais, são de um azul metálico, brilhante...” Assim íamos seguindo o mestre e nós desenvolvemos à luz do seu entusiasmo. Abrir a percepção, descobrir a peculiaridade de cada aluno era seu lema constante.”