Três anos depois de ter lançado o livro Uma verdade inconveniente e o filme que ganhou o Oscar e lhe proporcionou o prêmio Nobel da paz, Al Gore lançou novo livro em 2009: Nossa Escolha - um plano para resolver a crise climática. [1] Al Gore considera que há um fio comum que liga três megacrises: a de segurança, a econômica e a climática. Tal fio é a dependência de petróleo e dos combustíveis fósseis. Para ele, a solução para todas essas crises é afastar-se da dependência dos combustíveis fósseis, desenvolvendo outras fontes de energia renováveis.
Para propor soluções para a crise climática, Al Gore mobilizou mais de 30 encontros com cientistas e especialistas de vários países e áreas temáticas. Seus insights e propostas são apresentados no livro, que é uma chamada à ação: não a ação individual, mas a que interfere nos processos políticos, na elaboração de leis e regulamentos e na construção de uma infraestrutura coletiva que dê respostas à crise climática. Assim por exemplo, ele denuncia a desatualização regulatória e problemas na gestão de energia que precisam ser corrigidos com prioridade.
Em 18 capítulos, o livro trata da crise atual, das fontes e de como usamos a energia, dos sistemas vivos, dos obstáculos que precisamos superar. Capítulos específicos tratam das florestas, do solo; da população, suas demandas e impactos ambientais e climáticos.
Al Gore afirma que já temos conhecimento e tecnologia para enfrentar a crise climática, mas que falta despertar a vontade coletiva. A importância da evolução da consciência é enfatizada: "As únicas soluções efetivas e significativas para a crise climática envolvem mudanças massivas no pensamento e comportamento humanos."
O livro mapeia três tipos de dificuldades associadas à mudança de pensamento que precisam ser superadas: em primeiro lugar, aponta que nosso cérebro foi programado para processar perigos como os que nossos antepassados precisaram enfrentar em sua luta pela sobrevivência. Entretanto, a crise climática não aciona as defesas emocionais que outros riscos despertam: ela é muito abstrata, exige muito conhecimento para ser percebida como uma ameaça, é grande demais e seu impacto parece remoto: “Seus efeitos são distribuídos pela Terra num padrão que torna difícil atribuir uma relação sem ambigüidades de causa e efeito entre o que está acontecendo com a Terra como um todo e o que está acontecendo com um indivíduo num determinado momento e lugar." Exemplifica ele que “é como não sentíssemos a dor de uma queimadura e por isso continuamos a ser queimados sem perceber.”
Em segundo lugar, e como dificuldades adicionais para a mudança de pensamento, nossos cérebros estão estressados pela overdose de estímulos bombardeada pela propaganda, conduzida a partir da neurociência pelos marqueteiros e publicitários, “os grandes usuários da nova pesquisa do cérebro.” Estresse, ansiedade e preocupação dificultam que se focalize a mente no longo prazo necessário para lidar com a mudança climatica, e fazem com que se priorize o imediato, como ocorre com quem precisa lutar para sobreviver no dia a dia.
Uma terceira dificuldade para a mudança de pensamento é o poder dos lobbies das empresas que lucram com o petróleo e o carvão. Repetindo a estratégia de companhias de cigarro, que negavam que o cigarro fizesse mal a saúde, as empresas de petróleo também fazem campanhas milionárias e doam recursos para eleger políticos. Dúvida e controvérsia são semeadas na mente das pessoas e enfraquecem a motivação para agir de forma convergente. Uma estratégia de desinformação influencia o público, que tende a não querer acreditar que exista tal ameaça. “O resultado de semear tais dúvidas e controvérsias é paralisar os processos políticos ou atrasá-los, no sentido de postergar ações que contrariem interesses da indústria do petróleo e do carvão.”Al Gore defende o ativismo nas bases para neutralizar essa ação financiada por interesses poderosos. Para tanto, criou uma instituição, a Aliança para a proteção climática WWW.climateprotect.org que divulga o tema na TV, rádio, internet, jornais, revistas.
Ele nos dá pistas de que investir na ecologia mental e da consciência, ecologizar a cultura e a comunicação, são abordagens estratégicas para dar respostas à crise climática, que traz consigo uma crise da evolução.
[1] Al Gore - Our Choice, a plan do solve the climate crisis, Rodale Inc., US, 2009; 416pgs.
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