As escalas de gestão da água
variam do micro ao macro. Usando a imagem de Pierre Dansereau, distinguimos dez
escalas, do indivíduo ao planeta; da água que se encontra no corpo dos seres
vivos e de cada ser humano, até a água para o abastecimento nas casas, edifícios
e cidades; às bacias hidrográficas em que ela circula na superfície; até as
regiões, estados, países, continentes e a escala planetária onde ela circula na
atmosfera e nos oceanos. Em cada uma delas destaca-se uma agenda de temas
relevantes, exemplificada abaixo:
1. 1. No
centro dessa mandala está o indivíduo interior, cujo organismo é composto de
70% de água e cuja saúde é diretamente relacionada com a quantidade e a
qualidade da água que ingere. A água passa pelo nosso corpo e pelos corpos dos
demais seres vivos animais e vegetais e somos parte do ciclo integral da água.
2. 2. O
indivíduo exterior e sua higiene corporal, banhos, limpeza, relação com a
umidade no micro clima e com a agua limpa ou contaminada, que afetam o bem
estar e a saúde física.
3. 3.A
família, o grupo social básico ao qual pertence e onde se educa na relação com
o ambiente e com a água e onde aprende a não desperdiçá-la.
4. 4. A
casa, com seus sistemas de abastecimento de água e de coleta e disposição de
esgotos; a captação de água de chuva nos telhados, aproveitando de modo
descentralizado a água que vem da atmosfera para regar jardins e para uso não
potável. O auto abastecimento com cisternas, o reaproveitamento de águas
servidas para fins menos nobres. Arquitetos e engenheiros e os projetos de edifícios
que se relacionem de modo harmônico com a água.
5. 5. A
vizinhança, escala em que podem-se construir sistemas de esgotamento
condominial de um conjunto de casas e tomar cuidados para evitar a contaminação
de cisternas.
6. 6. O
assentamento urbano, ecossistema que precisa de água para funcionar e que a
devolve ao entorno com pior qualidade. Sistemas de tratamento de água e de
esgotos, o investimento necessário para colocar a água num padrão de qualidade
que a torne potável. Os custos da despoluição. A drenagem e escoamento
superficial de água para evitar inundações urbanas, a adequada ocupação do solo
em fundos de vales, respeitando faixas de inundação de rios e demais cuidados
do urbanismo hidroconsciente. As ilhas de calor que se formam sobre as cidades,
que aumentam riscos de inundações.
7. 7. A
paisagem no entorno das cidades. As periferias e áreas rurais nos municípios, a
proteção de mananciais de abastecimento, os cuidados com o uso do solo. A
interconexão das águas superficiais e subterrâneas: a recarga de aquíferos e a
reservação de água subterrânea, os cuidados para se evitar enxurradas e escoamento
superficial e os cuidados para facilitar com que a água se infiltre nos solos
permeáveis e reabasteça os mananciais. A prevenção da poluição de aquíferos
subterrâneos. O encarecimento do custo da água quando se perdem os serviços
ambientais, e quando aumenta a necessidade de investir em obras de
infraestrutura hídrica – reservatórios, aquedutos, estações de tratamento.
8. 8. As
bacias e regiões hidrográficas, unidades de planejamento e de gestão enfatizadas
na legislação de águas e nas quais se aplicam os instrumentos de gestão tais
como os planos de bacias, os sistemas de informação sobre recursos hídricos, o
monitoramento de chuvas e de vazões, a cobrança pelo uso da água, seu
enquadramento em classes de uso. Os conselhos de recursos hídricos e os comitês
de bacias hidrográficas e a participação da sociedade no planejamento e na
gestão, com a mediação de conflitos pelo uso da água.
9. 9. Os
países, cada qual com suas disponibilidades hídricas, problemas de escassez e
estresse hídrico, necessidades de articulação institucional entre os vários
usuários da água e entre os vários níveis federativos. Necessidade de gestão da
agua de modo integral, que considere a etapa atmosférica. No caso brasileiro, o
desmatamento na Amazônia e suas repercussões sobre a redução de chuvas no
centro oeste e no sudeste brasileiro, com a redução dos rios voadores que
trazem nas nuvens a umidade da Amazônia. As conexões entre as torneiras secas
no sudeste e o desmatamento da Amazônia.
10. 10. A escala do
planeta. Os oceanos e a atmosfera, o ciclo da água na natureza e sua presença
em estado gasoso, líquido ou sólido, como evapora ou congela com as variações
de temperatura. A formação e a movimentação de nuvens e chuvas e o serviço
prestado pela evaporação nos oceanos, que dessaliniza água de modo natural. O
El Nino, com o aquecimento das águas do oceano Pacifico, e como provoca mais
chuvas no sul do Brasil e menos chuvas no nordeste.
A água é parte de um sistema
hídrico, que por sua vez é componente de um organismo vivo, seja ele o corpo
humano, uma bacia hidrográfica ou o planeta Terra. A compreensão dessas várias
escalas de abordagem da gestão da água pode reduzir a hidroalienação e permitir
que nos relacionemos adequadamente com o ciclo das águas.
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