O ser humano está em evolução, em transição entre o que já foi desde o início da espécie, até o homo sapiens que viveu há 160.000 anos. Nos nossos dias do antropoceno – o período em que nossa espécie predomina - ela provoca impacto crescente no planeta e no clima. O rumo da evolução daqui para diante será cada vez mais influenciado pelo comportamento de nossa espécie e, em última instância, por sua consciência. Se ela pressionar num rumo de ecocídio, poderá provocar seu próprio colapso. Se tomar juízo e relacionar-se de modo amigável e harmônico com o ambiente e o planeta - a mãe terra - poderá ter um futuro promissor.
Nesse
contexto se inserem as riquezas da Índia para a evolução humana. Riquezas de um
povo não são apenas econômicas, financeiras, materiais, mas são também e
principalmente as riquezas imateriais e intangíveis que criou e codificou, com
as quais se guia na sua passagem pela terra. São riquezas filosóficas, de
pensamentos e ideias, de práticas e cuidados com a saúde pessoal e ambiental.
A
Índia foi uma das duas grandes civilizações (a outra é a chinesa) que duraram
mais de 4000 anos. Teve uma grande capacidade de resiliência, de responder
positivamente às sucessivas ondas de invasões que sofreu em sua história.
Desenvolveu um espírito de tolerância para com as diferenças, anfitrionando
numerosos hóspedes que se instalaram no fértil subcontinente indiano. Para
promover a coexistência pacifica entre esses diversos grupos, formulou e
colocou em prática o princípio da não violência, ou ahimsa, aplicado por Gandhi
para alcançar pacificamente a independência do país em 1947. Cultivou a unidade
na diversidade, a consciência da unidade humana e dali brotaram diversas
tradições sapienciais e espirituais. A psicologia indiana é sofisticada e o
vocabulário de psicologia em sânscrito é muito mais rico do que aquele em grego
ou em inglês, permitindo descrever estados de consciência de modo mais acurado.
A cosmovisão indiana é ampla e seus mitos perduram por milênios. Sua concepção
do que é o ser humano, com sua materialidade, emoções, sentimentos, intelecto, o mental, a
sua valorização do amplo espectro da consciência, do infra ao ultra consciente,
ajuda a dar respostas aos problemas de um
mundo em conflito, limitado em seus recursos naturais. Por meio do Yoga, ali inventado, consegue-se
sintonizar um estado de consciência mais lucido e a meditação, ali codificada, ajuda a compreender de modo mais abrangente o
mundo e a si mesmo. O dharma, conceito central na Índia, é a missão ou tarefa que cada indivíduo ou
povo tem a desempenhar em sua vida. Ele não opõe direitos e deveres, que são
ideias ocidentais; a dharmacracia é um modo de governo que aplica o dharma. Uma
visão mundialista na política faz transcender os nacionalismos e o auto
interesse estreito, colocando em primeiro lugar a saúde da mãe terra. O grande
símbolo da Índia é a flor de lótus, que se alimenta do lodo embaixo, mas também
da luz do sol que vem de cima.
Sendo
os dois maiores países tropicais do mundo, Brasil e Índia podem compartilhar
muitos conhecimentos e o Brasil pode se beneficiar da sabedoria de sua irmã
mais experiente. A capacidade antropofágica de digerir as influências de fora,
o jeitinho ou jugaad, o clima, a
ecologia tropical e o ambiente, a capacidade de criar e improvisar a partir de
uma base material precária, a criatividade, alegria, espiritualidade e inteligência
espiritual aproximam esses dois povos.
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