Figura - Um mundo de línguas – Na Índia encontram-se várias das mais faladas. Fonte:
Alberto Lucas López - http://www.scmp.com/infographics/article/1810040/infographic-world-languages?page=all
Dentro de poucos anos a Índia será o país mais populoso do mundo, com
cerca de 18% da população do planeta. É um país multicultural e abriga pessoas
de várias religiões: hindu, muçulmana, cristã, budista, jainista entre outras.
A Índia é o país com maior
diversidade linguística. Tem trinta diferentes troncos linguísticos
e centenas de dialetos. Entre
as línguas mais faladas do mundo estão o hindi, telugu, marathi, kannada,
tamil, urdu, bengali. Muitos indianos são poliglotas. Além disso, falam o
inglês, incorporado como uma nova língua no país.
Diversidade
social, cultural, psicológica, noodiversidade, caracterizam essa
sociedade. A diferença não é apenas respeitada, mas também estimulada. A Índia
cultivou a convivência entre diversos de forma introspectiva: aprofundou-se na
psicologia humana, criando tradições espirituais que priorizaram o
autoconhecimento e um estilo de vida não agressivo em relação ao ambiente
natural e social; desenvolveu tecnologia de vivência implosiva, de adensamento e
aprofundamento interno, diferente das tecnologias de conquista do mundo
exterior, desenvolvidas em outras sociedades. O princípio da não-violência é um
dos pilares dessa civilização e determina o comportamento individual e
coletivo. A luta pela independência, conduzida pelo Mahatma Gandhi,
usou da gentileza da resistência passiva e da não-violência para fazer os
invasores europeus saírem de seu território. A ahimsa ou não violência, praticada no dia a dia faz com que os índices de
violência sejam muito mais baixos do que os da América Latina e da
África. (World Tables, do Banco Mundial, mostra que os índices
de homicídios intencionais por 100.000 habitantes na Índia são seis vezes menores
do que no Brasil. Link http://data.worldbank.org/indicator/VC.IHR.PSRC.P5 )
A
Índia exerceu a hospitalidade e criou um sistema de valores que facilitava a
tolerância para com o diferente. No exercício da
convivência com o diferente, a cosmovisão indiana tem grandes contribuições
para as demais civilizações. Ali formou-se uma civilização que desenvolveu tolerância
a diferenças, ao acomodar em seu território, durante milênios, imigrantes e
descendentes de arianos e drávidas, maometanos e gregos, europeus de Portugal,
França, Inglaterra. Disso resultou um país com grande diversidade de línguas,
culturas e costumes que talvez seja, no mundo, o povo mais diverso e a
sociedade em que se experimentam mais explicitamente os extremos das grandezas
e misérias da condição humana. Ela absorveu e metabolizou influências das
inúmeras invasões que sofreu ao longo de sua história e as devolveu
transformadas ao mundo. À diferença dos países europeus, que colonizaram a
África, Ásia e América, e ali predaram e parasitaram recursos com os quais se
sustentar, a Índia nunca foi expansionista. Pelo contrário, absorveu os
imigrantes que chegavam.
A
Índia exercitou, na prática, formas de acomodação que facilitam a convivência.
Unidade na diversidade é o lema da nação indiana. Há unidade de princípios
dentro da diversidade étnica e cultural. O poeta indiano e
prêmio Nobel Rabindranath Tagore assim expressou essa condição do país: “A
missão da Índia foi como a da anfitriã que tem que prover acomodações
apropriadas para numerosos hóspedes, cujos hábitos e necessidades são
diferentes uns dos outros. Isso causa complexidades infinitas, cuja solução
depende não meramente de tato, mas de simpatia e de um verdadeiro entendimento
da unidade do homem". Tagore conclui: “Temos que reconhecer que a
história da Índia não pertence a uma raça em particular, mas a um
processo de criação para o qual várias raças do mundo contribuíram – os
drávidas e os arianos, os antigos gregos, os persas, os maometanos do oeste e
aqueles da Ásia central. E por fim, foi a vez dos ingleses nessa história,
trazendo-lhe o tributo de suas vidas; não temos o poder nem o direito de
excluir esse povo da construção do destino da Índia. ” (TAGORE, 1976). Para
abrigar hóspedes tão diversos em seu território, a civilização indiana
desenvolveu o espírito de tolerância e não violência. A capacidade de ser um
bom anfitrião e de bem receber migrantes está relacionada com um entendimento
generoso da unidade do ser humano. Tem a ver com solidariedade, empatia,
compaixão, valores que vão além dos interesses econômicos e materiais
imediatos. A receptividade para com aqueles que migram e pretendem se
estabelecer de modo permanente está relacionada com a capacidade de colocá-los
à vontade, não os hostilizar ou excluí-los. A habilidade de ser receptivo e de
acolher imigrantes é valiosa num mundo com números crescentes de refugiados de guerra,
políticos, econômicos ou ambientais. A tecnologia de convivência e respeito a
diferenças desenvolvida nessa civilização é essencial no mundo conflagrado por
conflitos étnicos. Nesse
contexto, vale aprender com a civilização indiana que soube ser
resiliente, suportar os impactos de invasões e acomodar povos e culturas
diferentes.
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