quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Água e civilização sustentável




A terra é um oásis no sistema solar.
A água parece ser muita porque está espalhada sobre ¾ da superfície do planeta. Mas é apenas uma gotinha que pingou do cosmos: se a Terra tivesse o volume de uma bola de futebol, a água nela contida teria o volume de uma bola de pingue pongue.
Toda a água da Terra é uma gotinha que pingou do cosmos.
A água está distribuída de modo desigual em todo o planeta. Há regiões com estresse hídrico, onde sua disponibilidade é menor do que a demanda para seus vários usos. Há riscos de aumento de conflitos e disputas pela água, à medida que há mais gente e mais atividades.


Estresse hídrico nas regiões em marrom e vermelho.

Durante a história, civilizações entraram em colapso devido à falta de água. Um dos casos mais conhecidos é o da ilha de Pascoa, que originalmente era bem florestada. Seu desflorestamento, motivado para se construírem as grandes estátuas de pedra num processo de competição entre as tribos que ali habitavam, levou a secarem as fontes de agua.

Ilha de Páscoa - colapso hídrico.
Outro episódio de colapso devido à falta de agua ocorreu no Rajastão, na Índia, em Fatehpur Sikri. Construída para ser a capital do império Mogol, foi abandonada após poucos anos devido à seca que assolou a região. Hoje há ali ruínas valiosas para o turismo.
Fatehpur Sikri - cidade colapsou devido à falta de água

No século XX, a ignorância no manejo da água secou o mar de Aral. Situado na antiga União Soviética, as águas dos rios que o abasteciam foram usadas intensamente para irrigar lavouras de algodão. Isso perdurou poucas décadas e os rios se exauriram.


O Mar  de Aral seco.
No sul da Índia, na região de Bangalore, nos últimos 35 anos também houve uma transformação econômica radical devido à falta de água. Na década de 70 eram comuns as plantações de arroz irrigadas e os tanques para piscicultura. No ano de 2010 não havia mais tais atividades devido à falta de água na região.
Fundo de vale não ocupado em cidade japonesa.
Já a sociedade japonesa aprendeu a se relacionar de modo harmônico com a agua. O Japão é um arquipélago cercado de mares, com os Alpes japoneses como sua espinha dorsal e com cidades muito densamente ocupadas. No passado houve desflorestamento das montanhas, erosão e assoreamento nos vales, perdas agrícolas, fome e problemas sociais.  Quando os japoneses aprenderam a cuidar melhor de suas montanhas e florestas, evitaram o desmate descontrolado, reduziram a erosão e as perdas agrícolas. Os fundos de vales em cidades japonesas são mantidos não edificados. Quando vem uma enchente, ela não causa mortes ou prejuízos econômicos. A agua é integrada no paisagismo e no urbanismo de modo harmônico.

Conhecer como diversas civilizações se relacionaram com a água e como algumas delas entraram em colapso e outras conseguiram se sustentar por longos períodos ajuda nos processos atuais de planejamento e gestão das águas.
Compreender o ciclo da água, seu comportamento na superfície, sua interconexão com as águas subterrâneas, sua ligação com os rios voadores, ou seja, a água em estado de vapor nas nuvens e na atmosfera é parte de um esforço de hidroalfabetização e de hidroconsciência. Tal consciência sobre o ciclo da água e tal visão integral sobre a água são vitais no mundo atual que passa por mudanças climáticas nas quais as alterações no ciclo do carbono provocam variações de temperatura. O elemento da natureza que reage mais diretamente a variações de temperatura é a agua, que congela, evapora, torna-se líquida e é portadora de enchentes, secas, furacões, eventos críticos que atingem o planeta e causam impactos sobre a vida humana e a economia.



[1] Palestra apresentada no Greenmeeting, 29-9-2015, Senado Federal- Brasília - DF

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