Maurício
Andrés Ribeiro (*)
Duas
moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio compõem a água: H2O.
A água se
apresenta em distintos estados físicos. Em estado sólido, está no gelo da cauda
dos cometas, no solo de Marte (cosmosfera), nas calotas polares (criosfera),
nos freezers e geladeiras, no granizo. Encontra-se em estado líquido nos
oceanos, mares, lagos, rios, nascentes, fontes (hidrosfera), nos aquíferos e
lençóis freáticos, infiltrada na litosfera. Está, ainda, nos corpos dos seres
vivos, animais e vegetais, no líquido da bolsa onde se gestam os embriões (biosfera).
Em estado gasoso, está na umidade do ar e nas nuvens onde se condensam as gotas
de chuva (atmosfera).
As
atividades humanas alteram o estado físico das águas ao interferirem na
temperatura do planeta, com a emissão de gases de efeito estufa para a
atmosfera. Alterações no ciclo do carbono provocam mudanças no ciclo da água.
Sensíveis ao aumento de temperaturas, gelos
se derretem e águas líquidas evaporam.
A água
nem sempre é um líquido insípido, inodoro e incolor, como se ensinava nas
escolas. A ação humana degrada a água, ao lançar substâncias que a poluem, conferindo-lhe cor, odor e sabor, tornando-a
turva e menos transparente. Quando suja, poluída ou
contaminada, tratamento e depuração são necessários para que ela se torne
novamente utilizável ao retornar ao ambiente. Sua qualidade pode ser melhorada
por meio de tratamento e remoção
de poluentes.
As
águas usadas num domicílio têm diferentes qualidades, identificadas por cores:
águas cinzas passaram pelo chuveiro e lavabo; águas negras passaram pelos vasos
sanitários e podem ser diferenciadas; águas amarelas receberam urina e as águas marrons receberam
fezes.
Em estâncias
hidrominerais há águas com qualidades e valores
especiais. Conforme sua composição química podem ser alcalinas,
ferruginosas, carbogasosas, com qualidades terapêuticas valiosas nos
tratamentos de saúde e na crenoterapia. Com
mais de uma molécula de oxigênio tem-se a água oxigenada: H2O2.
Elas são diversas quanto a seu
preço: as águas minerais têm alto valor econômico,
sendo vendidas em mililitros, em doses ou em copos; já as águas potáveis se
vendem aos litros em garrafas e garrafões, enquanto os metros cúbicos são a
unidade de venda das águas brutas e não tratadas, menos valorizadas.
Conforme
o teor de sal nelas presente há águas doces, salobras, salinas ou salgadas. Dessalinizar
a água é um processo tecnológico caro usado em locais com escassez de água
potável.
Em meio
a inundações causadas por chuvas intensas ou a um oceano de água salgada, ela
está em toda a parte, mas a água para beber é um bem escasso e o donativo mais
valioso e necessário é a água potável.
Há uma gradação de qualidades, desde as águas potáveis na fonte
até o esgoto. Para distingui-las, as normas
ambientais (Resolução Conama 357/2005 e outras) classificam as águas de
superfície conforme seu potencial para atenderem aos usos mais ou menos exigentes.
Essa classificação é semelhante àquela que avalia a qualidade de hotéis, que
variam de uma a cinco ou seis estrelas. Assim, as águas mais puras são
as de classe especial (se fossem hotéis, seriam aqueles
de seis estrelas) e que se destinam ao abastecimento para consumo
humano, com desinfecção simples, à preservação do equilíbrio natural das
comunidades aquáticas e à preservação
dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. Em
seguida, em termos decrescentes de qualidade, estão as águas de classe 1, que podem
ser destinadas ao abastecimento para consumo humano após tratamento
simplificado; à proteção das comunidades aquáticas; à natação, esqui aquático,
mergulho e demais formas de recreação e esporte com contato direto com a água;
à irrigação de hortaliças consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam
rentes ao solo e sejam ingeridas cruas sem remoção da casca, ou seja, aqueles
produtos alimentares com contato direto com a água; e à proteção das
comunidades aquáticas em terras indígenas. As demais classes destinam-se a
usos progressivamente menos exigentes em termos de qualidade da água. As de
classe 4, de pior qualidade, podem ser destinadas à navegação, à harmonia
paisagística e a usos que não exponham o ser humano e os animais ao risco de
contraírem doenças.
Do mesmo modo se classificam as
águas subterrâneas. A resolução Conama n.396 de 2008 dispõe que as mais puras são ás aguas dos aquíferos
destinadas à preservação de ecossistemas em unidades de conservação de proteção
integral e as que contribuam diretamente para os trechos de corpos de agua
superficial enquadrados como classe especial. As águas de Classe 1 são as dos aquíferos
sem alteração de sua qualidade por atividades humanas e que não exigem
tratamento para usos preponderantes devido a suas características hidrogeoquímicas
naturais. Em ordem decrescente de qualidade chega-se às águas de Classe 5, destinadas
a atividades que não têm requisitos de qualidade para uso.
O
esgoto tem 99,9% de água e apenas 0,1% de material sólido – areia, óleos e
graxas, metais, nitrogênio, fósforo.
Águas podem
ser reutilizadas ou tratadas. Por meio do reúso, águas de qualidade
inferior são aproveitadas para usos menos exigentes. O reúso e o tratamento do
esgoto permitem que ele seja reutilizado, até mesmo para uso potável.
A melhoria da qualidade da água exige investimentos na sua
conservação, no seu tratamento, no controle de erosão e de poluições, nos
sistemas de gestão das águas.
O conhecimento sobre a qualidade
das águas depende de dados obtidos por meio de seu monitoramento, analisados em laboratórios com procedimentos
padronizados, por pessoas capacitadas para
realizar essa avaliação e para divulgar
dos resultados das análises.
A quantidade de águas existente
no Brasil e sua importância como um recurso para a agricultura foi registrada
por Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao rei de Portugal: “Águas são muitas;
infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela
tudo; por causa das águas que tem!” Cinco séculos depois, é relevante
reconhecer também a sua diversidade. Distinguir as
várias realidades no mundo das águas ajuda a compreendê-las integralmente. A
hidrodiversidade é um conceito mal conhecido e pouco usado, mas de valiosa aplicação.
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