terça-feira, 10 de outubro de 2017

Psicoeconomia e Ambiente



Maurício Andrés Ribeiro (*)

O comportamento do Homo lixius produz resíduos de todo tipo.
 Questões subjetivas  influem na demanda de bens e serviços e no comportamento humano na economia. Em modelos mentais estão fincadas as raízes do consumismo, da pressão sobre os recursos naturais, da agressão e destruição da biosfera, da extinção de espécies, das mudanças climáticas. Na subjetividade se encontram potenciais e recursos valiosos para desenvolver comportamento ecologizado e amigável em relação à natureza e para ecologizar a economia.
A economia é movida por impulsos e por motivações psicológicas que, quando predatórias, destroem o equilíbrio ecológico. A psicoeconomia – assim como outros campos emergentes como a economia do comportamento, a neuroeconomia[1] e a economia evolucionária -  tratam da relação entre a psicologia e a atividade econômica, e de como as necessidades, expectativas, esperanças e aspirações subjetivas influenciam e formam as demandas de consumo e de produção. Edgar Morin observa que a economia carrega em si necessidades, desejos, e paixões humanas que ultrapassam os meros interesses econômicos.[2]
Na economia, trabalha-se com a oferta e a demanda. Demanda e necessidade têm um forte componente subjetivo. Demandas são distintas de necessidades, que também são diferentes de desejos e de aspirações. A economia é movida por desejos ou medos próprios ou induzidos de fora para dentro. Desejos ou sonhos de consumo por um bem material ou por algo intangível e imaterial como por exemplo, a felicidade, constituem impulsos básicos dos consumidores.
Uma parte do consumo deriva de necessidades biológicas, como por exemplo saciar a fome. A propaganda para o consumo explora os aspectos psicológicos, de satisfação, segurança, conforto, comodidade, sobrevivência, e também manipula os instintos básicos. Assim, por exemplo, o medo e o pânico, referentes a perigos imaginários ou reais, insuflam a produção e consumo de armas; o desejo de alterar estados de consciência insufla o mercado de drogas; o desejo de velocidade infla a indústria de automóveis; o anseio pela beleza alimenta o mercado da moda e dos cosméticos, bem como as cirurgias plásticas. Subliminares, a propaganda e o marketing induzem, influenciam, provocam hipnose pelo desejo. Os desejos de consumo induzidos pela propaganda, são manipulados subliminarmente, inclusive nas crianças. (Por essa razão em alguns países é restrita a propaganda voltada para os muito jovens, presas fáceis das ilusões e estímulos da propaganda na TV).
Ecologizar demandas e substituí-las por outras que sejam ecologicamente menos destrutivas é um processo psicológico e subjetivo, pois implica em dissolver ou reduzir certos tipos de desejo. Reorientar a demanda é um processo mental, relacionado com a razão e o conhecimento objetivo, e também com o equilíbrio ou o desequilíbrio emocional, os sentimentos, instintos e intuições subjetivas. O atendimento acrítico e não seletivo a demandas do mercado precisa ser abolido da prática econômica, pois demandas ilimitadas exercem pressão ilimitada sobre a capacidade de suporte do ambiente, levando à degradação climática e ambiental
Ao conhecer os processos psicológicos, pode-se lidar com o desejo, dissolvê-lo ou saciá-lo, e até mesmo superá-lo. A psicologia pode ajudar a responder algumas questões:
  • Como se formam os desejos e os medos?
  • Qual é a nossa relação individual e coletiva com os desejos e sua satisfação?
  • É possível dissolvê-los, superá-los, saciá-los?
  • Que aspirações mais elevadas, intangíveis, não-materiais e ideais é necessário cultivar?
  • Por que se  deseja algo que é negativo para a saúde ambiental, o clima e para o meio ambiente?
  • Como reduzir o atendimento a demandas não essenciais e aumentar o atendimento a necessidades básicas?
  • Como identificar o que é uma demanda não essencial ou que não atende a necessidades básicas?
  • A sociedade deve impor interdições, restrições ou multas ao atendimento de desejos que se mostrem antiecológicos?
  • Como opera  a psicologia de pessoas que resistem e recusam o consumo de bens e serviços e o processo que as leva a optar por esse modo de vida?
 Diferenciar o que sejam necessidades básicas do que são demandas supérfluas é um exercício cada vez mais necessário. No limite, para evitar impactos ambientais e climáticos, será necessário suprimir demandas supérfluas. É preciso, portanto, questioná-las, estimular a frugalidade e onerar as demandas destrutivas. 
Trabalhar sobre os processos psicológicos que aumentam demandas ilimitadas, reverter e transformar  desejos e necessidades, podem ser formas de reduzir as pressões sobre o ambiente e de mitigar a degradação ambiental, as mudanças climáticas e suas conseqüências nefastas.


[1] A neuroeconomia é uma disciplina de integração entre a  Economia, a Psicologia e a Neurociência que pode  fornecer uma teoria do comportamento humano única e geral. E compreender os processos que relacionam sensação e ação, ao revelar os mecanismos neurobiológicos Os economistas e os psicólogos trabalham conceitos para compreender e modelizar o comportamento (softwares?) ; já os neurobiólogos estudam os mecanismos( hardware que processa as informações).

[2] Os interessados no tema da psicologia econômica tem uma boa fonte de consulta nos trabalhos de Vera Rita de Mello Ferreira. Ver  http://www.verarita.psc.br/portugues.php?id=psico  Em 2017 o Prêmi
o Nobel de Economia foi para Richard Thaler, da área da economia comportamental.

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