Maurício Andrés Ribeiro (*)
O comportamento do Homo lixius produz resíduos de todo tipo. |
Questões
subjetivas influem na demanda de bens e
serviços e no comportamento humano na economia. Em modelos mentais estão
fincadas as raízes do consumismo, da pressão sobre os recursos naturais, da agressão
e destruição da biosfera, da extinção de espécies, das mudanças climáticas. Na
subjetividade se encontram potenciais e recursos valiosos para desenvolver
comportamento ecologizado e amigável em relação à natureza e para ecologizar a
economia.
A
economia é movida por impulsos e por motivações psicológicas que, quando
predatórias, destroem o equilíbrio ecológico. A psicoeconomia – assim como outros campos emergentes como a economia do
comportamento, a neuroeconomia[1]
e a economia evolucionária - tratam da
relação entre a psicologia e a atividade econômica, e de como as necessidades,
expectativas, esperanças e aspirações subjetivas influenciam e formam as
demandas de consumo e de produção. Edgar Morin observa que a economia carrega
em si necessidades, desejos, e paixões humanas que ultrapassam os meros
interesses econômicos.[2]
Na
economia, trabalha-se com a oferta e a demanda. Demanda e necessidade têm um
forte componente subjetivo. Demandas são distintas de necessidades, que também
são diferentes de desejos e de aspirações. A economia é movida por desejos ou
medos próprios ou induzidos de fora para dentro. Desejos ou sonhos de consumo
por um bem material ou por algo intangível e imaterial como por exemplo, a
felicidade, constituem impulsos básicos dos consumidores.
Uma
parte do consumo deriva de necessidades biológicas, como por exemplo saciar a
fome. A propaganda para o consumo explora os aspectos psicológicos, de
satisfação, segurança, conforto, comodidade, sobrevivência, e também manipula
os instintos básicos. Assim, por exemplo, o medo e o pânico, referentes a
perigos imaginários ou reais, insuflam a produção e consumo de armas; o desejo
de alterar estados de consciência insufla o mercado de drogas; o desejo de
velocidade infla a indústria de automóveis; o anseio pela beleza alimenta o
mercado da moda e dos cosméticos, bem como as cirurgias plásticas.
Subliminares, a propaganda e o marketing induzem, influenciam, provocam hipnose
pelo desejo. Os desejos de consumo induzidos pela propaganda, são manipulados
subliminarmente, inclusive nas crianças. (Por essa razão em alguns países é
restrita a propaganda voltada para os muito jovens, presas fáceis das ilusões e
estímulos da propaganda na TV).
Ecologizar
demandas e substituí-las por outras
que sejam ecologicamente menos destrutivas é um processo psicológico e subjetivo,
pois implica em dissolver ou reduzir certos tipos de desejo. Reorientar a
demanda é um processo mental, relacionado com a razão e o conhecimento
objetivo, e também com o equilíbrio ou o desequilíbrio emocional, os
sentimentos, instintos e intuições subjetivas. O atendimento acrítico e não
seletivo a demandas do mercado precisa ser abolido da prática econômica, pois
demandas ilimitadas exercem pressão ilimitada sobre a capacidade de suporte do
ambiente, levando à degradação climática e ambiental
Ao
conhecer os processos psicológicos, pode-se lidar com o desejo, dissolvê-lo ou
saciá-lo, e até mesmo superá-lo. A psicologia pode ajudar a responder algumas
questões:
- Como se formam os desejos e os medos?
- Qual é a nossa relação individual e coletiva com os desejos e sua satisfação?
- É possível dissolvê-los, superá-los, saciá-los?
- Que aspirações mais elevadas, intangíveis, não-materiais e ideais é necessário cultivar?
- Por que se deseja algo que é negativo para a saúde ambiental, o clima e para o meio ambiente?
- Como reduzir o atendimento a demandas não essenciais e aumentar o atendimento a necessidades básicas?
- Como identificar o que é uma demanda não essencial ou que não atende a necessidades básicas?
- A sociedade deve impor interdições, restrições ou multas ao atendimento de desejos que se mostrem antiecológicos?
- Como opera a psicologia de pessoas que resistem e recusam o consumo de bens e serviços e o processo que as leva a optar por esse modo de vida?
Diferenciar
o que sejam necessidades básicas do que são demandas supérfluas é um exercício
cada vez mais necessário. No limite, para evitar impactos ambientais e
climáticos, será necessário suprimir demandas supérfluas. É preciso, portanto,
questioná-las, estimular a frugalidade e onerar as demandas destrutivas.
Trabalhar
sobre os processos psicológicos que aumentam demandas ilimitadas, reverter e
transformar desejos e necessidades,
podem ser formas de reduzir as pressões sobre o ambiente e de mitigar a
degradação ambiental, as mudanças climáticas e suas conseqüências nefastas.
[1] A
neuroeconomia é uma disciplina de integração entre a Economia, a Psicologia e a Neurociência que
pode fornecer uma teoria do
comportamento humano única e geral. E compreender os processos que relacionam
sensação e ação, ao revelar os mecanismos neurobiológicos Os economistas e os
psicólogos trabalham conceitos para compreender e modelizar o comportamento
(softwares?) ; já os neurobiólogos estudam os mecanismos( hardware que processa
as informações).
[2] Os
interessados no tema da psicologia econômica tem uma boa fonte de consulta nos
trabalhos de Vera Rita de
Mello Ferreira. Ver http://www.verarita.psc.br/portugues.php?id=psico Em 2017 o Prêmi
o Nobel de Economia foi para Richard Thaler, da área da economia comportamental.
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