terça-feira, 20 de dezembro de 2022

ATENDIMENTO A EMERGÊNCIAS HÍDRICAS

 Maurício Andrés Ribeiro

 

Numa emergência médica, o paciente vai para um pronto socorro onde recebe os primeiros cuidados. Sendo grave o seu estado, ele é internado numa Unidade de Tratamento Intensivo- UTI onde é monitorado com aparelhos sofisticados e atendido por médicos  especializadas. Quando o paciente melhora, é levado para uma unidade de tratamento semi-intensivo e depois para um quarto. Quando recebe alta, vai para casa e lá continua seu tratamento.

Nas emergências hídricas, na iminência de um colapso no abastecimento, o pronto socorro é feito pelas salas de crise.

Salas de crise são espaços para encontros híbridos, virtuais e presenciais, nos quais participam os principais atores e instituições relacionados com a gestão da água numa bacia que entrou em estado crítico, seja por falta ou excesso. Elas são criadas quando se acendem sinais de alerta ou alarme nos dados de chuva e vazão  que são coletados sobre as bacias brasileiras. Desde que foram criadas,  centenas de reuniões foram realizadas em salas de crise e acumulou-se experiência em lidar com os eventos críticos e em resolver conflitos. São  eficientes  para a o tratamento de emergências e urgências.

As Salas de crise  atuam com um horizonte temporal que inclui os próximos dias ou semanas em função da situação conjuntural e das  circunstâncias do momento. Elas trabalham com horizontes mais curtos do que os planos de bacia, que  tratam de um horizonte de anos.

Em função dos principais problemas encontrados em cada bacia hidrográfica, reúnem-se os principais atores. As abordagens variam, conforme as características de cada bacia: em alguns casos é necessário mudar a operação de reservatórios para liberar ou reter água (São Francisco, Paraná, Tocantins). Em outros casos, lida-se com aas secas e as enchentes (rio Madeira, Pantanal) e suas consequências, como por exemplo a interrupção de rodovias ou os incêndios florestais.

 As salas de crise se baseiam em nivelamentos de informações qualificadas. O CEMADEN- Centro nacional de aleta de desastres, com sua visão interdisciplinar e aplicada, apresenta  as perspectiva para os próximos dias. O ONS -Operador nacional do sistema elétrico - apresenta como os reservatórios estão sendo operados nos vários subsistemas regionais no Brasil e o quanto de energia está sendo exportada ou importada de um sistema para o outro . O INEMET -Instituto Nacional de meteorologia faz previsões do tempo para os próximos dias e semanas a partir de modelos europeu americano e outros. Fazem-se previsões climáticas, perspectivas de chuvas, chegada de frentes frias, num horizonte de 15 dias, mais previsível. Na medida em que se aprimoram os modelos climatológicos e meteorológicos as previsões tendem a se tornar mais precisas e reduzem-se as imprevisibilidades.

A base de informações de boa qualidade é o elemento fundamental para a partir dele se construírem os consensos necessários. No início de  cada reunião das salas de crise são expostos com objetividade os dados e informações relacionados com a chuva e a vazão naquela bacia nos próximos meses. Esse nivelamento prévio de informações entre os participantes oferece um patamar comum a partir do qual podem-se propor os modos de solucionar os problemas diagnosticados.  Fala-se em linguagem técnica: modelagens, curvas de segurança, afluências e defluências, modelo curva-vazão, afluências incrementais, evaporação em reservatórios. Apresentam-se gráficos, mapas, modelos, cenários climatológicos, meteorológicos e previsões.  Fala-se em energia armazenada e energia excedente, região importadora de e exportadora de energia, fechamento e abertura de comportas em reservatórios. Simulações, vazão prevista, política de defluência, perspectiva de evolução do volume do reservatório e todo um vocabulário de hidrologuês.

Enquanto há  emergências, a frequência de reuniões precisa ser maior, diária ou semanal pois a agilidade é essencial para enfrentar situações mais graves. Quando passa o período crítico, a sala de crise se transforma numa sala de acompanhamento. É quando a bacia sai da UTI e vai para um tratamento semi-intensivo, com monitoramento para acompanhar seu estado de saúde.

Tanto nas salas de crise como nas de acompanhamento a água em estado meteórico, na atmosfera é uma informação crucial. A água na atmosfera é o elemento fundamental nessas analises e informações pois ela influi nas águas superficiais, nas cheias e secas. Compreender a água na atmosfera é uma ciência cada vez mais estratégica.

Nas salas de crise não há proposta de interferir com geoengenharias ou hidro engenharias  na quantidade de água na atmosfera, bombardeamento de nuvens etc. As salas  de crise foram testadas durante anos e constituem uma experiência positiva em lidar com eventos críticos e com emergências hídricas.

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