quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A água e a arte de Maria Helena Andrés

 

No mundo contemporâneo da emergência climática, falta e excesso de água são situações frequentes que causam transtornos à vida humana.  As artes, com seu poder de despertar as emoções, são meios poderosos para promover a hidroconsciência  e os artistas cumprem um papel relevante na sensibilização para a água. O tema da água inspirou vários artistas, destacando-se entre eles Claude Monet, com suas  paisagens aquáticas, o japonês Hokusai, o americano David Hockney, os brasileiros Burle Marx, Iberê Camargo  e os participantes do movimento de artistas pela natureza, impulsionado por Bené Fonteles.

A presença da água na obra de Maria Helena se estende por muitas décadas e assume diversas formas. Em 1944, ela pintou seu primeiro barco, ancorado na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, ainda com a influência figurativa de Chambelland, seu primeiro professor de arte.

O primeiro barco, Rio de Janeiro, 1944.

Tendo se mudado para Belo Horizonte, foi uma das primeiras alunas de Guignard, chamado pelo então prefeito Juscelino Kubitschek para abrir uma escola de artes em Belo Horizonte. A escola de Guignard ficava num porão do Palácio das Artes, no parque municipal. Ali ele ensinava arte ao ar livre. Maria Helena pintou o lago do parque municipal, com seus barquinhos e sua ponte em arco. A influência de Guignard já se faz visível.

Lago do parque municipal, Belo Horizonte. 1944

Vivendo por décadas no alto das montanhas, em Brumadinho, Minas Gerais,  ela testemunha cotidianamente as variações nos céus de Minas, devido à presença da água na atmosfera. Em sua fase abstrata informal, ela pintou as paisagens celestiais dos céus de Minas, com suas nuvens que se movimentam e transformam e que por vezes lembram figuras e símbolos. Atenta ao momento presente, ela fotografou uma Asa de Anjo que apareceu no vapor de água das nuvens, e logo  em seguida desapareceu com o vento. O abstrato da nuvem se tornou uma figura e logo em seguida assumiu outra forma.

Nuvens no céu

Descrição gerada automaticamente

Asa de anjo. Fotografia. 2000.

Em 1986, pintou um  painel com paisagens celestiais intitulado Plataforma Espacial, para o Aeroporto Internacional de Confins. (metade desse grande painel desapareceu por ocasião das reformas e da privatização do aeroporto; outra metade encontra-se lá exposta). 

O painel original para o Aeroporto de Confins.1986

 Num quadro ela homenageia o  cometa Halley, cuja cauda é feita de gelo. Quando se busca vida em outros corpos celestes, o primeiro sinal dessa possibilidade é a existência de água, presente no cosmos.


Homenagem ao cometa Halley, 1986.

Em 2007, Maria Helena fez uma exposição na Copasa, em Belo Horizonte, intitulada O Caminho das águas.

Uma imagem contendo no interior, quarto, pequeno, pintado

Descrição gerada automaticamente

Em 2023, um grande painel em azulejos para a Igreja de N.S. Aparecida em Diamantina retrata o rio Paraíba do Sul e o milagre dos pescadores que de lá retiraram a imagem da santa.

O Milagre da pescaria. Painel na Igreja de N.S.Aparecida, Diamantina, 2023.

Em 2023, depois de muitas décadas sem focalizar o tema, a ONU finalmente promoveu em Nova Iorque uma conferência mundial sobre a água. Entre as centenas de eventos paralelos aprovados, um dos poucos que abordaram a arte foi o Instituto Maria Helena Andrés (IMHA). Em uma live  Live Water and Arts - Side Event of UN 2023 Water Conference - Água e Artes - evento paralelo (youtube.com , o IMHA apresentou a obra  de Petrônio Bax  e Maria Helena e convidou vários artistas para  se expressarem sobre o tema da água -  João Diniz, Isabela Prado, Thereza Portes, Fabrício Fernandino, Ivana Andrés.  A linguagem da arte é um poderoso meio para expandir a hidroconsciência, sensibilizar e dissolver a hidroalienação, trabalho que Maria Helena Andrés realizou durante oito décadas de sua vida artística.

Folder de divulgação de evento paralelo do IMHA na conferência da ONU sobre água. 2023


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