terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Aproximação da história natural com a história humana





Os geólogos e cientistas da natureza constataram que a presença humana deixa marcas duradouras sobre os registros geológicos e concebem um novo período na historia da Terra, o antropoceno, no qual  o ser humano tem um papel fundamental.
Por seu lado, a ecologia, que se originou nas ciências biológicas, se desdobra em inúmeros campos que crescentemente estudam a presença humana, tais como a ecologia humana, a ecologia cultural, a ecologia social, a ecologia urbana, a ecologia industrial, bem como um outro tanto de campos que estudam a consciência e os aspectos subjetivos e psicológicos: a ecologia do ser, a ecologia pessoal, a ecologia mental entre outros.
A ecologia integral, pioneiramente estudada por Pierre Dansereau e adotada em 2015 como conceito central pelo papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si integra aspectos biológicos, sociais e a ecologia interior. Tal movimento integrador  não se limita às fronteiras das  disciplinas e encontra pontes entre elas, numa visão holística e menos fragmentada.
As escalas temporais com que se trabalha na história natural são de bilhões ou milhões de anos, enquanto que na história das civilizações humanas essa escala se estende por alguns milhares de anos. As mudanças climáticas são processos que duram milhares de anos, mas se aceleram em períodos de transição entre eras  geológicas. Nesses momentos - como o que vivemos hoje, na atual transição deste estágio terminal da era cenozoica, a  era dos mamíferos - tende a haver uma convergência dos estudos da historia natural e ambiental com  os da historia humana. A evolução da humanidade se relaciona com as condições naturais do planeta,  as eras glaciais e os períodos interglaciais,( estamos no final de um periodo interglacial qaue se iniciou a cerca de 12000 anos)  os grandes eventos como erupções vulcânicas, como mostra o estudo sobre A jornada da humanidade produzido pela Fundação Bradshaw ( ver http://pt.slideshare.net/LCDias/a-jornada-da-humanidade ) , que evidencia como as mudanças naturais e climáticas impulsionaram migrações, deslocamentos de populações humanas e alteraram  o curso da história humana e das histórias nacionais.

As histórias nacionais, a história da vida humana, a história da vida, estão inseridas num contexto maior, da história do planeta, com suas variações climáticas, com seus grandes eventos de extinções, com as grandes eras, idades, períodos, épocas, estudados na historia geológica do planeta. Essa, por sua vez está inserida  numa visão cósmica, como mostra o astrônomo Carl Sagan em O pálido ponto azul. https://www.youtube.com/watch?v=YPUhj_lNdMQ
Na escala nacional brasileira essa abordagem da história ecológica pode tratar as questões da diversidade ecológica e a diversidade humana, e os complexos  ligados aos diversos recursos naturais que foram centrais na história econômica: recursos do reino mineral ( o ouro, os diamantes), do reino vegetal ( o pau brasil, a cana de açucar, a borracha, o café) e do reino animal ( a pecuária). Pode tambem valorizar o conhecimento dos povos indígenas sobre o ambiente, conhecimento que lhes é essencial para a sobrevivência. Ver, no Globo Ecologia, programa sobre a Formação do Brasil – uma história ecológica http://redeglobo.globo.com/globocidadania/videos/v/formacao-do-brasil-uma-historia-ecologica/1499898/
A convergência das ciências se faz em mão dupla: das ciências naturais para as ciências humanas e vice-versa, num movimento de aproximação e integração.
A visão da história humana ( e das histórias nacionais ou regionais que são capítulos dela) integrada com a história e evolução da Terra, seus climas, biomas e ecossistemas, tem  papel fundamental para  inspirar a consciência das pessoas, desde a infância, no sentido de promover  o cuidado com o ambiente e  induzir a uma sociedade e economia ecologizadas. No atual período de crises climáticas que se tornam crises de segurança e de desenvolvimento, esse tipo de visão integradora pode impulsionar as ações humanas num rumo menos destrutivo. Uma história integral, uma abordagem holística à história, correspondente ao movimento pela ecologia integral, começa nos estudos na infância e se estende a todas  as fases da vida.
Conectam-se então a história nacional, a história mundial da humanidade, a história ambiental, a história natural. Uma história que transite do estado-nação ao planeta e ao cosmos. No antropoceno, faz sentido ecologizar e superar visão antropocentrada da história, reconectar a  evolução da espécie e a da natureza. No antropoceno, faz sentido evoluir para uma visão ecocêntrica  e cosmocêntrica. Faz sentido  tomar consciência de uma história que ajude a enfrentar os desafios da dinâmica acelerada de transformações no ambiente no século XXI.

Um comentário:

José Matarezi disse...

Concordo com a Visão aqui expressa e saliento que infelizmente fomos inconsequentes com o conhecimento e os amplos domínios dos saberes dos povos Indígenas. Nos descuidamos com estas informações que permitiram a diversos grupos a sobrevivência de forma relativamente harmônica em seu ambiente natural. Refletir sobre o resgate destes conhecimentos, que "ainda" estão a nossa disposição, também faz parte de um cuidado do "todo" a nossa disposição.

Agradecemos ao Amigo José Matarezi por disponibilizar seu PC para nosso pequeno comentário !

Julio Cesar de Sá
jcsarqueo@gmail.com