terça-feira, 22 de agosto de 2017

A água como questão de segurança


Maurício Andrés Ribeiro

Figura – Múltiplas dimensões da segurança: a segurança hídrica é uma delas


A segurança tem muitas dimensões: da militar à política, da social à econômica, da cultural à psicológica e afetiva. A segurança comunitária, doméstica, na escola, do trabalho, de instalações, a segurança da informação, a segurança pessoal ou a condominial são outros aspectos. Há uma dimensão cósmica da segurança humana, já que a Terra está sujeita a colisões de corpos celestes, com potencial para provocar catástrofes. 
No Brasil, a violência urbana e rural tornam relevantes as questões de segurança coletiva e pública, que atemorizam a sociedade e dominam o noticiário na tevê, rádios e jornais, além de demandarem ações em várias esferas dos governos, do executivo ao legislativo ao judiciário e ao ministério público. Os aspectos da segurança nacional e da segurança pública envolvem forças militares ou policiais. Guerras e conflitos violentos afetam a segurança internacional.
No mundo contemporâneo eclodem novas ameaças à segurança humana, contra as quais a força policial é inócua e são inúteis os sistemas de defesa nacional, orçamentos militares ou armamentos sofisticados. Cada vez mais, os riscos à segurança das pessoas e das coletividades relacionam-se com questões de ordem ambiental, climática e de eventos críticos relacionados com a água. Processos climáticos de escala macro – como o fenômeno El Nino, com o aquecimento das águas do oceano Pacífico – e em escala microclimática – como o aumento de precipitações de chuva e do escoamento superficial de águas, devido a mudanças na cobertura vegetal – fazem aumentar tais riscos.
A água não levanta questões de segurança, enquanto existe em boa qualidade e quantidade, seu fluxo é previsível e controlado. Uma vez que começa a faltar, nas secas, ou a sobrar nas enchentes e a causar riscos, como por exemplo no rompimento de barragens, emerge a dimensão da segurança.
Nos vários campos do conhecimento, há conceitos distintos que relacionam a água à segurança. Alguns se referem à segurança no abastecimento permanente de água para uma comunidade; outros se referem à segurança de quem bebe a água, que precisa ser de boa qualidade para as pessoas não adoecerem; outros se referem à segurança de suprimento de água para produzir alimentos.
A agricultura é um dos usuários que mais demanda agua para suas atividades.Como a água é parte integrante de todos os alimentos e é essencial durante todo o ciclo de produção deles, a falta de água pode comprometer a segurança alimentar, a capacidade da sociedade em garantir acesso em quantidade e qualidade suficiente aos alimentos.
A produção de alimentos e a segurança alimentar são dependentes da disponibilidade de agua para irrigar as lavouras e culturas.
A água afeta a segurança energética, especialmente no Brasil, país com sua matriz baseada na hidroeletricidade. A falta de água  afeta a operação de reservatórios e usinas hidrelétricas. Seu excesso pode significar riscos para a segurança das pessoas que moram a jusante de barragens que podem se romper e causar prejuízos sociais e econômicos.
Outros têm a ver com a segurança de barragens, represas, obras para estocagem de água, para que não se rompam e causem desastres. Segurança hídrica é diferente de segurança da água, que é diferente de segurança de barragens.

Eventos climáticos extremos associados ao ciclo da água, tais como secas, furacões, temporais, tendem a ocorrer com maior intensidade e frequência. Cada vez haverá mais áreas com risco de enchentes, inundações, deslizamentos de encostas. Isso aumenta a possibilidade de que, caso elas sejam ocupadas temerariamente, ocorram prejuízos sociais, econômicos e de vidas humanas, especialmente para os mais pobres e vulneráveis, que têm menores condições de acesso a áreas seguras. Com as instabilidades do clima, a segurança hídrica torna-se cada vez mais uma dimensão relevante da segurança humana.