segunda-feira, 30 de maio de 2016

QUARENTA ANOS DE ESTUDOS SOBRE A ÍNDIA EM QUINZE MINUTOS



A Embaixada da Índia em Brasília promove mensalmente Chás com Letras. Entre livros, escritores, músicos e poetas, resumi em quinze minutos quarenta anos de estudos sobre a Índia.  Uma pilha de livros e revistas com textos sobre a Índia estruturou a espinha dorsal de minha apresentação.
Contei a história de minha relação com a India, desde 1976, quando propus realizar como pesquisador visitante uma pesquisa sobre Habitat e Transferência de Tecnologia. Tenho dela uma velha cópia mimeografada.
 Durante um ano, em 1977-78, estudei comparativamente Juramento, uma cidade no norte de Minas Gerais e Kenchankuppe, uma aldeia no sul da Índia.
Viajei para várias partes da India explorando possibilidades de cooperação entre esses dois maiores países tropicais do mundo. 
Contatei muitas universidades e centros de pesquisa. Encantei-me com o ambiente democrático do país, com a diversidade e efervescência da vida cotidiana.  Estudei as ideias mundialistas de Gandhi, Nehru, Tagore e o pensamento político e social de Sri Aurobindo e traduzi uma constituição para a Federação do Planeta Terra, publicada pela imprensa de Auroville.
Retornando ao Brasil, publiquei artigos em revistas, capítulos em livros, promovi encontros Brasil-India.
Condensei tudo o que escrevera até então sobre o estudo comparativo, o potencial de intercâmbio Brasil-Índia e as perspectivas do federalismo mundial no livro Tesouros da Índia, editado por Eleonora Santa Rosa em 2003. (Ver.www.ecologizar.com.br). Imaginei ter posto um ponto final no assunto. Entretanto, o livro resultou em convites para palestras  e compreendi que parte de meu dharma na presente encarnação é ajudar a aproximar a Índia e o Brasil e continuo a publicar textos sobre a Índia em meio eletrônico, a exemplo de http://ecologizar.blogspot.com.br/2015/11/unidade-na-diversidade-contribuicao.html  


Essas atividades integram um trabalho de equipe amplo. Meu pai faleceu em 1977 e eu fui para a India com  minha esposa Aparecida Andrés, meu  filho Joaquim Pedro,  minha irmã Eliana, professora de yoga e minha mãe, Maria Helena Andrés, artista plástica. Elas produziram um livro sobre um menino brasileiro a viajar pela Índia, estudos sobre integração oriente-ocidente e publicam textos e imagens em blogs. Ver http://imha.org.br/portfolio/exposicao-caminhos-das-indias/  e http://walmirgois.com.br/imha/wp-content/uploads/2015/11/MHA-Viagens-a-India-e-ao-Oriente.pdf

 A partir  de 2003 focalizei o interesse na ecologia pessoal, na noosfera e nas paisagens interiores. Cosmovisões e modos de compreender o mundo e a natureza da mente  podem mostrar caminhos para a nossa espécie de seres em transição num mundo em crise ecológica. São inspiradores os conhecimentos sobre a psicologia yogue, a subjetividade, as cosmovisões indianas que aprendi na Sociedade Teosófica em Adyar, em Pondicherry e Auroville, cidade internacional inspirada em Sri Aurobindo; na Universidade Espiritual dos Brahma Kumaris em Mount Abu, no ashram de Ramana Mararishi em Tiruvanamalai, no ashram de Gandhi em Ahmadabad. Agradeço à Índia por oferecer a inspiração para tais aprendizados.


terça-feira, 24 de maio de 2016

UNIDADE NA NOODIVERSIDADE




Cada pessoa é um neurônio que atua na rede neural de um cérebro global planetário. É parte ativa da noosfera. Somos quase sete bilhões de indivíduos no planeta. Diferentes estágios, modos e estados de consciência estão sendo vividos simultaneamente pelos bilhões de indivíduos e pelas diversas parcelas da humanidade – do astronauta à tribo isolada na Amazônia passando pelas populações urbanas, pelos operários urbanos, pelos   agricultores e demais grupos humanos.  Do mesmo modo como as espécies evoluem na biodiversidade, evolui a noodiversidade, a diversidade das consciências. Atualmente, as intensas interações, conexões, contatos e diálogos facilitados pelas tecnologias da comunicação e da informação e pelas redes sociais aceleram a sinergia entre ideias e a expansão da noodiversidade. Esta é mais ampla do que a biodiversidade ou a diversidade social e cultural, pois é fluida, mutante, impermanente, intercambiável, sofre influências e transformações constantes e tem sua dinâmica própria. São diversificados os níveis e estágios de consciência ecológica em comunidades.
O atual período antropoceno da história é caracterizado pela predominância da ação humana. Tal ação afeta a evolução no planeta, ao causar mudanças climáticas, perda de biodiversidade e outros impactos. O ser humano é um agente transformador da evolução. Pierre Dansereau nos lembra que a noosfera, o pensamento e a consciência influem sobre as condições físicas e ambientais do planeta.
O mundo é diverso, mas é uno. O astronauta ao longe percebe essa unidade, para além de todas as diversidades internas. Pierre Weil enfatizou essa unidade ao apontar para a fantasia da separatividade, pela qual temos a impressão de sermos partes separadas desse todo.

Figura 9 - A visão do astronauta e a percepção da Unidade

Imaginar um projeto unificador, ter a determinação e mobilizar os recursos para colocá-lo em prática numa obra coletiva é um pré-requisito para lidar com a crise ecológica e climática planetária.  Ter um projeto comum pode ser essencial para trabalhar numa direção convergente, que aumente as possibilidades da evolução da espécie. Diante da perspectiva de colapso e da percepção dos limites da capacidade de suporte do planeta, a busca da segurança motiva a construção coletiva de respostas. São necessárias grandes obras coletivas envolvendo a espécie humana, no auto interesse de sua própria sobrevivência.  Assim, a ação humana em cada escala – nações, estados, sociedades, cidades, empresas, indivíduos – se insere em um objetivo comum maior: a saúde do Planeta, da qual depende a saúde dos sistemas vivos e a própria vida humana. Atualmente, com a crise climática, há esforços para se evitar que o planeta se aqueça mais do que dois graus centigrados, pois isso poderia levar a situações catastróficas e caóticas. 
A crise climática e ambiental que se agrava a olhos vistos demanda uma governança supranacional e uma unidade planetária. Entretanto, simples mudanças de governo ou a superação dos estados-nação podem gerar tiranias opressivas e governos injustos, caso não exista uma mudança qualitativa no ser humano, no sentido da ecologia interior, da ecologia profunda, da noosfera. Constato, com Pierre Weil, que é fundamental uma mudança estrutural do ser humano, da qualidade de suas atitudes e valores. O inscape, a paisagem interior do ser humano precisa ser aprimorada. Conhecer a natureza da mente é um caminho para viabilizar essa transformação e para ecologizar as comunidades humanas.



Ecologizar a noosfera




Ecologizar é definido no dicionário Aulete como “Conscientizar para a importância dos princípios ecológicos”. Trata-se de uma definição centrada no pensar.
Uma definição mais abrangente desse verbo inclui a ação: “Ecologizar é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a sabedoria da consciência ecológica às ações humanas”.
Uma professora de crianças em Salta, na Argentina, propôs a suas alunas definir o verbo Ecologizar. Ela coletou as seguintes definições  e as publicou num dicionário de verbos[1]:
Pensar que no futuro não existiremos - Bernarda;
Usar a cabeça para proteger o meio ambiente – Lucia D.;
 Pensar que se algo ocorre com a Terra, também acontecerá com o homem - Micaela
Inventar uma “plantologia” e uma “animalogia” - Luciana;
Fazer de nosso mundo um lugar melhor - Maria Paula.
Sentir o meio ambiente em suas mãos e cuidar dele - Francisca;
Unir-se com a vida. Amar o mundo onde vives - Lucia S.;
Dar um grande abraço no planeta - Manuela.
Figura 8 - Definição de ecologizar por uma criança argentina.

As definições criadas pelas meninas mostram a diversidade de visões de mundo despertadas por um verbo.  Algumas são alarmistas, outras revelam espírito científico, outas são afetivas e amorosas.
Tudo pode ser ecologizado. Pode-se ecologizar o espírito, a noosfera, a consciência, o pensamento, o sentimento, o desejo, a crença, a palavra, a cultura, a educação; a ação, a atitude, o comportamento, o capital, a economia, a política.
A ecologização do capital é uma tarefa sem a qual os demais esforços de proteção ambiental tornam-se pouco eficientes. A espécie humana, que já domesticou as forças da natureza, inventou o dinheiro com força capaz de criar e de destruir. O homo economicus desempenha papéis como o capitalista, o investidor, o acionista, o empreendedor, o engenheiro, o gestor corporativo, o trabalhador, o contribuinte, o consumidor. Tendo engenho e vontade, nossa espécie pode  ecologizar os investimentos e a aplicação do capital, colocando-os a serviço de sua evolução, da passagem do homo economicus para o homo ecologicus. Para tanto é relevante a ação dos acionistas conscientes, de dentro para fora das empresas; dos investidores, daqueles que gerenciam as instituições financeiras e dos que a regulam a partir dos governos. É possível direcionar a força do capital, colocando-a a serviço da saúde ambiental, planetária e local.
Ecologizar a noosfera significa ecologizar os espíritos de cada um dos indivíduos que compõem uma comunidade.
A evolução na consciência humana é crucial para lidar com os múltiplos desafios que se apresentam nesse período antropoceno. Por meio de processos culturais, educacionais e de formação da consciência  os seres humanos podem se habilitar a terem atitudes e valores adequados para enfrentar as complexas situações dessa quadra da evolução.


[1] KATZ, Silvia. El pequeno ilustrado 3- dicionário verborrágico. Uma creación de los chicos del Taller Azul. Salta, Argentina, 2008.